ESTE É UM POST DIFÍCIL DE ESCREVER...
Os jornais do fim-de-semana, nomeadamente os semanários, estão repletos de intrigas e de declarações de responsáveis políticos todas elas destinadas a criar na opinião pública um clima favorável à substituição deste governo por um governo de…qualquer nome serve, contanto que nele caibam, além da direita do PS, gente do PSD ligada a Cavaco e, eventualmente, também alguém do CDS, contanto que descendente em linha recta do “genuíno” CDS saído do marcelismo nos alvores da democracia de Abril.
À frente destas movimentações, no PS, estão Luis Amado e Mário Soares, cada um pelo seu lado, além de algumas almas inquietas, descontentes com Sócrates, por não lhes ter reconhecido o mérito de que se julgam credoras.
Estas movimentações são acolhidas com agrado do lado do PSD, em geral, mesma da parte dos que não pretendem participar num governo de coligação, por verem no afastamento de Sócrates uma espécie de via verde para a sua própria chegada ao poder. Nos sectores cavaquistas, a eventualidade de constituição de um governo com as características de que se vem falando na comunicação social, e que Amado abertamente defendeu, representaria a possibilidade de Cavaco, no próximo mandato, assumir um protagonismo que as condições políticas em que exerceu o primeiro estavam muito longe de lhe permitir.
Do lado do CDS, o afastamento explícito de Portas ou da sua gente, poderia gerar consequências relativamente imprevisíveis, em qualquer caso sempre despiciendas ou quase.
É claro que as coisas não são apresentadas com a crueza com que neste blogue são relatadas. A hipocrisia usa outra linguagem: é a grave situação do país que exige um entendimento entre os principais parceiros, ou como alguns gostam de dizer, entre os partidos do “arco do poder”. Que coisa mais linda esta do arco…
Se um entendimento parlamentar não for possível, que seja uma coligação ou algo que faça as suas vezes. Só que depois vem o “mas”. Aliás, esta conversa é feita exactamente para suscitar o “mas” na contraparte. E o “mas” na contraparte exprime-se numa ideia muito simples: “Sim, isso seria possível, mas com Sócrates não”.
Seguidamente não faltará no PS e, principalmente, cá fora, nas rádios, nos jornais, nas televisões, quem pressione Sócrates para sair em nome do interesse nacional.
Acontece, como aqui já foi dito, que este governo, se por azar deste país se viesse a formar, seria muito pior do que o actual. E ninguém, nem a esquerda parlamentar, tiraria qualquer vantagem de ter a direita toda no governo ao mesmo tempo. Fazer um cálculo puramente eleitoral a partir dessa (eventual) nova configuração seria um erro de graves consequências.
Portugal ficaria com um governo completamente servil em todos os domínios. No plano interno, com um governo dependente das forças neoliberais que rapidamente exigiriam o desmantelamento do que vai restando do estado social; dependente dessas mesmas forças em todos os demais planos, laboral inclusive, onde passaria a vigorar a lei da selva. O Estado, tal como o conhecemos, desapareceria para dar lugar ao chamado “Estado mínimo”, com transferência para o capital privado de tudo o que agora é público e possa dar lucro. Finalmente, pior que tudo: a Constituição seria desfigurada, permitindo à direita a desforra que obsessivamente persegue desde o 25 de Abril.
No plano externo, as consequências também seriam incalculáveis. As poucas manifestações de independência até agora traduzidas numa política de consolidação gradual da diversificação das relações internacionais seria imediatamente substituída por uma política de puro servilismo, tanto perante o directório da União Europeia, como perante as orientações impostas pela sempre presente “relação transatlântica”, a ponto de algumas manifestações desta política entrarem necessariamente em conflito com novos e velhos relacionamentos até agora mantidos à margem daquelas relações.
Neste contexto, a Sócrates só lhe resta remodelar com urgência o governo, substituindo imediatamente Luís Amado e Teixeira dos Santos, além de outros ministros que ao longo destes últimos meses se têm revelado uma verdadeira nulidade.
Amado, depois do que disse - e mesmo do que desdisse – não pode ficar no governo, sob pena de descredibilização completa do Primeiro-ministro. E Teixeira dos Santos, como aqui tem sido dito, está completamente perdido. Habituou-se a ver a crise a um palmo do nariz. E a crise é uma coisa grande demais para ser vista de tão perto…
Esta é a última oportunidade de Sócrates: ou toma a iniciativa ou outros a tomarão por ele. Todavia, permanecer no governo somente teria sentido se fosse para continuar a consolidar a diversificação das relações de Portugal e para preparar o inevitável afrontamento com os poderes “fáctico-políticos” que governam a União Europeia em exclusivo proveito próprio com olímpico desprezo pelos interesses alheios, com vista a que internamente se possa fazer uma política de relançamento da economia e de combate à recessão (que inevitavelmente ai vem) …
Se não for para isto, se Sócrates continuar a permitir que nos Estrangeiros e nas Finanças se prossiga uma política de puro servilismo perante o directório, se Sócrates não tiver coragem para entre os arruinados pela crise tentar encontrar convergências que levantem uma barreira à prepotência alemã e seus aliados voluntários, enganados ou forçados, por mais fortes que eles sejam, qualquer remodelação governamental está de antemão condenada ao mais rotundo fracasso.
À frente destas movimentações, no PS, estão Luis Amado e Mário Soares, cada um pelo seu lado, além de algumas almas inquietas, descontentes com Sócrates, por não lhes ter reconhecido o mérito de que se julgam credoras.
Estas movimentações são acolhidas com agrado do lado do PSD, em geral, mesma da parte dos que não pretendem participar num governo de coligação, por verem no afastamento de Sócrates uma espécie de via verde para a sua própria chegada ao poder. Nos sectores cavaquistas, a eventualidade de constituição de um governo com as características de que se vem falando na comunicação social, e que Amado abertamente defendeu, representaria a possibilidade de Cavaco, no próximo mandato, assumir um protagonismo que as condições políticas em que exerceu o primeiro estavam muito longe de lhe permitir.
Do lado do CDS, o afastamento explícito de Portas ou da sua gente, poderia gerar consequências relativamente imprevisíveis, em qualquer caso sempre despiciendas ou quase.
É claro que as coisas não são apresentadas com a crueza com que neste blogue são relatadas. A hipocrisia usa outra linguagem: é a grave situação do país que exige um entendimento entre os principais parceiros, ou como alguns gostam de dizer, entre os partidos do “arco do poder”. Que coisa mais linda esta do arco…
Se um entendimento parlamentar não for possível, que seja uma coligação ou algo que faça as suas vezes. Só que depois vem o “mas”. Aliás, esta conversa é feita exactamente para suscitar o “mas” na contraparte. E o “mas” na contraparte exprime-se numa ideia muito simples: “Sim, isso seria possível, mas com Sócrates não”.
Seguidamente não faltará no PS e, principalmente, cá fora, nas rádios, nos jornais, nas televisões, quem pressione Sócrates para sair em nome do interesse nacional.
Acontece, como aqui já foi dito, que este governo, se por azar deste país se viesse a formar, seria muito pior do que o actual. E ninguém, nem a esquerda parlamentar, tiraria qualquer vantagem de ter a direita toda no governo ao mesmo tempo. Fazer um cálculo puramente eleitoral a partir dessa (eventual) nova configuração seria um erro de graves consequências.
Portugal ficaria com um governo completamente servil em todos os domínios. No plano interno, com um governo dependente das forças neoliberais que rapidamente exigiriam o desmantelamento do que vai restando do estado social; dependente dessas mesmas forças em todos os demais planos, laboral inclusive, onde passaria a vigorar a lei da selva. O Estado, tal como o conhecemos, desapareceria para dar lugar ao chamado “Estado mínimo”, com transferência para o capital privado de tudo o que agora é público e possa dar lucro. Finalmente, pior que tudo: a Constituição seria desfigurada, permitindo à direita a desforra que obsessivamente persegue desde o 25 de Abril.
No plano externo, as consequências também seriam incalculáveis. As poucas manifestações de independência até agora traduzidas numa política de consolidação gradual da diversificação das relações internacionais seria imediatamente substituída por uma política de puro servilismo, tanto perante o directório da União Europeia, como perante as orientações impostas pela sempre presente “relação transatlântica”, a ponto de algumas manifestações desta política entrarem necessariamente em conflito com novos e velhos relacionamentos até agora mantidos à margem daquelas relações.
Neste contexto, a Sócrates só lhe resta remodelar com urgência o governo, substituindo imediatamente Luís Amado e Teixeira dos Santos, além de outros ministros que ao longo destes últimos meses se têm revelado uma verdadeira nulidade.
Amado, depois do que disse - e mesmo do que desdisse – não pode ficar no governo, sob pena de descredibilização completa do Primeiro-ministro. E Teixeira dos Santos, como aqui tem sido dito, está completamente perdido. Habituou-se a ver a crise a um palmo do nariz. E a crise é uma coisa grande demais para ser vista de tão perto…
Esta é a última oportunidade de Sócrates: ou toma a iniciativa ou outros a tomarão por ele. Todavia, permanecer no governo somente teria sentido se fosse para continuar a consolidar a diversificação das relações de Portugal e para preparar o inevitável afrontamento com os poderes “fáctico-políticos” que governam a União Europeia em exclusivo proveito próprio com olímpico desprezo pelos interesses alheios, com vista a que internamente se possa fazer uma política de relançamento da economia e de combate à recessão (que inevitavelmente ai vem) …
Se não for para isto, se Sócrates continuar a permitir que nos Estrangeiros e nas Finanças se prossiga uma política de puro servilismo perante o directório, se Sócrates não tiver coragem para entre os arruinados pela crise tentar encontrar convergências que levantem uma barreira à prepotência alemã e seus aliados voluntários, enganados ou forçados, por mais fortes que eles sejam, qualquer remodelação governamental está de antemão condenada ao mais rotundo fracasso.
É um post difícil de escrever...(mais cómodo seria não o escrever), além do mais por fazer pressupor uma certa ingenuidade facilmente confundível com outros atributos menos recomendáveis...
Só um atrasado mental o pressuporia "ingénuo" e só a má-fé o poderia confundir com "atributos menos recomendáveis"!
ResponderEliminarÉ um post corajoso e necessário.
O "MOMENTO" é peculiar. Temos uma máquina que tem de continuar a andar e não há ninguém que, vindo de fóra, a consiga manter em movimento e sem oscilação. Claro que há muitos e melhores futuros condutores,"MAS" mas teria de haver uma pequena paragem e esse tempo sob pena de desastre maior, não existe. Exijamos ao Sócrates coragem no sentido evidenciado neste notável post.Se houver paragem não será o desastre muito diferente do da saída do Euro.
ResponderEliminarVE
Há coisas na vida difícieis de dizer ou de fazer, mas não há outro remédio quando o cenário previsivel que se coloca por não actuarmos é uma catástrofe. Parabéns pela coragem e assumpção desse pragmatismo. Há muita gente com este mesmo dilema.
ResponderEliminarÉ necessário juntar forças e organizá-las para evitar o pior. Há que procurar melhor alternativa que aquela que levanta cabeça por aí, com o beneplácito e sob a orientação de Cavaco e toda a direita.
ResponderEliminarNo plano da UE as manetes estão na mão do Bundesbank. Estamos f...eitos.
Fui ver o Inside Job-A Verdade da Crise. Devia ser obrigatório ver o filme em todos os graus de ensino a partir do 9º ano.
Não há muitas novidades. Mas a realidade sistematizada e concentrada dá-nos a medida do poder que a Mafia (institucionalizada, de casaca e "colarinho branco" conseguiu. Aquilo é uma espécie de Padrinho 4º. Não é o contrabando do alcool como no tempo do AlCapone, nem a droga, é o comércio de países, é alargar o antigo campo de acção da Sicília ou de Chicago ao planeta.
Entrevistas com os verdadeiros actores da Wall Street(muitos recusaram, é claro)e factos. As conclusões ficam, e bem, para o espectador. É dramático e triste ver como Obama se rodeou de alguns dos gangsters que prometeu correr.
Só visto.
Sócrates terá gente com credibilidade para fazer a tal remodelação? Não estará o PS tão vazio de quadros de jeito, de gente que saiba "pensar o país" daqui a 15 / 20 anos?
ResponderEliminarMais: Será que Sócrates terá credibilidade para fazer a tal remodelação? Será que conseguirá arranjar independentes credíveis para compor esse governo renovado?