Alain chegou e Amália nunca mais foi a mesma.
E nós também não. A Amália do fado comum, a grande voz, passa de um dia para outro a ser a “nossa” fadista. “Nós” éramos todos aqueles que mantinham o fado à distância como expressão de uma arte menor
Alain não lhe trouxe apenas os poetas, o que não seria pouco, trouxe-lhe uma nova melodia – uma impensável nova dimensão.
O’Neil, Ary, Alegre deixam-se contagiar pelo fascínio e pelo génio musical de Alain, como antes já tinham sido tocados Mourão-Ferreira, Régio, Pedro Homem de Melo, Cecília Meireles. E antes ainda Castilho, Bernardim Ribeiro, Pero de Viviães, o rei Dinis, João Ruiz de Castelo Branco e Camões, principalmente Camões, que escreveu para Amália um dos seus mais belos sonetos…
Amália, por mais sublime que fosse a sua voz, por mais inteligente que fosse a interpretação das suas canções, nunca o teria descoberto se não fosse Alain.
E, sem Alain, Amália jamais seria o que hoje é!
Naquele tempo não havia economistas…
Havia um sonho que a poesia ajudaria a concretizar…
E o sonho realizou-se, feliz, mas incompleto, como todos os sonhos…
E entre a realidade do sonho e crueldade da vida a História foi fazendo seu caminho…
Um triste e penoso caminho para quem tem de o calcorrear sem sonho, sem esperança e agora também com medo…
Dizem que já não há mais sonhos. E esforçam-se numa retórica estúpida, mas envolvente, enleante, quase irrespirável, por nos fazer acreditar que o sonho acabou de vez para dar lugar à mão invisível que, acordados, nos guia para um destino inexorável…
Mas o sonho existe. Pode ter abandonado os "velhos", os descrentes, os submissos, os instalados, mas está bem vivo nos jovens que do outro lado do Mare Nostrum lutam a peito descoberto contra a tirania, a opressão e o roubo.
E não me venham falar de “valores ocidentais”, do perigo islâmico e de toda essa ganga abjecta com que, principalmente, à noite, em overdose, nos impedem de sonhar!
Não me queiram enganar. “Não me queiram converter a convicção”.“Merda! Sou lúcido!”
Caro JM Correia-Pinto,
ResponderEliminarObrigado por ter publicado e partilhado este texto... muito, muito obrigado!... é que, além do mais, tenho a sensação de que era, há muito, esperado :)
Abraço.
Força Zé Manel...
ResponderEliminarQue lhe não doa a alma...
Abraço
Ana
Obrigado!
ResponderEliminarAqui tem um "velho" que nunca deixará de sonhar. Nunca!