APENAS UMA GRANDE CONVICÇÃO PESSOAL
Quanto ao BPN, Cavaco Silva nada esclareceu. Quem estava convencido de que houve favor, convencido ficou. E quem acredita na palavra de Cavaco Silva, independentemente dos factos, a acreditar continua. As explicações de Cavaco deixaram tudo na mesma. Mas a sua forte convicção pessoal em defesa da sua inocência e a facilidade com que qualifica de desonestos aqueles que apenas querem ser esclarecidos demonstram que Cavaco conhece bem o povo português e que sabe tirar partido de uma muito bem encenada vitimização.
O mesmo conhecimento não tinha infelizmente do BPN. Cavaco Silva acreditava no BPN, acreditava na excelência da instituição quando não exercia cargos políticos e continuou a acreditar nela como Presidente da República, agora já não com base na sua argúcia interpretativa, mas antes em informações prestadas pelo Banco de Portugal, implicitamente responsabilizado, no bom estilo de Paulo Portas, por tudo o que se passou.
Quem lá estava a gerir o banco não lhe mereceu, agora nem antes, qualquer censura: isso é assunto dos tribunais. As censuras vão inteirinhas para o governador do BP e para o modelo de gestão escolhido, depois da “nacionalização”.
Igualmente extraordinária, para quem tanto se auto-reclama dos mais diversos dotes, é a comparação entre os “activos tóxicos” de bancos ingleses e americanos resultantes da acção especulativa de instituições completamente desreguladas e a acção de uma quadrilha que assaltou um banco, administrando-o.
Sem querer entrar em interpretações psicológicas mais profundas, para o espectador mais atento fica a ideia de que há um certo tipo de ilícitos, os ligados a grandes manigâncias financeiras, que não merecem a mesma censura de outros que, embora produzindo danos às vezes até menores, são alvo de violenta condenação por serem levados a cabo por outro tipo de intérpretes. Digamos que os primeiros, por estarem ligados ao “empreendedorismo”, são para largos extractos populacionais socialmente aceitáveis, enquanto os segundos por estarem directamente relacionados com o banditismo são severamente condenados.
É isto que explica que o chamado crime de “colarinho branco” preocupe tão pouco os extractos políticos promiscuamente ligados aos negócios, porque eles sabem muito bem que fora de certos círculos restritos é relativamente benevolente a atitude de grande parte da população, apenas traduzida num mal dizer inconsequente.
Voltando a Cavaco Silva e ao BPN, a ideia com que se fica, depois da entrevista de ontem, é a de que ele nos quer fazer acreditar que desconhecia completamente o que se dizia do BPN e das práticas nele seguidas nos meios em que ele próprio se situa: pagamento de juros incomportáveis, negócios altamente lucrativos com títulos cuja consistência se desconhecia e tudo mais que na Exame de Janeiro de 2001 se descrevia. Toda esta cândida inocência Cavaco Silva nos expõe com toda a convicção. A sua relação com o banco era distante e confiante: “Apliquem as minhas poupanças onde forem mais rentáveis”. Não sabe quanto lhe custaram as acções que comprou, nem o preço por que as vendeu e a quem as vendeu. Não sabe nada. Entregou-se nas mãos do banco.
E todavia nós sabemos que num banco dominado por correligionários políticos e membros de seus anteriores governos lhe foram vendidas acções por um preço apenas destinado a quatro entidades, bem inferior ao que estava preferencialmente reservado aos accionistas. E nem sequer lhe passa pela cabeça, na hipótese mais benéfica, de o preço por que comprou as acções ser uma espécie de recompensa pelo prestígio que o seu próprio nome emprestava à colocação de um aumento de capital junto de novos accionistas em condições altamente favoráveis para os verdadeiros detentores do banco.
Nada. Nada lhe ocorre. Perante tanta ingenuidade e incapacidade de avaliação de pessoas e coisas apenas resta concluir que Cavaco Silva está muito longe de reunir os atributos que se exigem a um Presidente da República. Se por masoquismo, como diz JM Coelho, o povo português continuar a votar nele, depois não se queixe!
Quanto ao BPN, Cavaco Silva nada esclareceu. Quem estava convencido de que houve favor, convencido ficou. E quem acredita na palavra de Cavaco Silva, independentemente dos factos, a acreditar continua. As explicações de Cavaco deixaram tudo na mesma. Mas a sua forte convicção pessoal em defesa da sua inocência e a facilidade com que qualifica de desonestos aqueles que apenas querem ser esclarecidos demonstram que Cavaco conhece bem o povo português e que sabe tirar partido de uma muito bem encenada vitimização.
O mesmo conhecimento não tinha infelizmente do BPN. Cavaco Silva acreditava no BPN, acreditava na excelência da instituição quando não exercia cargos políticos e continuou a acreditar nela como Presidente da República, agora já não com base na sua argúcia interpretativa, mas antes em informações prestadas pelo Banco de Portugal, implicitamente responsabilizado, no bom estilo de Paulo Portas, por tudo o que se passou.
Quem lá estava a gerir o banco não lhe mereceu, agora nem antes, qualquer censura: isso é assunto dos tribunais. As censuras vão inteirinhas para o governador do BP e para o modelo de gestão escolhido, depois da “nacionalização”.
Igualmente extraordinária, para quem tanto se auto-reclama dos mais diversos dotes, é a comparação entre os “activos tóxicos” de bancos ingleses e americanos resultantes da acção especulativa de instituições completamente desreguladas e a acção de uma quadrilha que assaltou um banco, administrando-o.
Sem querer entrar em interpretações psicológicas mais profundas, para o espectador mais atento fica a ideia de que há um certo tipo de ilícitos, os ligados a grandes manigâncias financeiras, que não merecem a mesma censura de outros que, embora produzindo danos às vezes até menores, são alvo de violenta condenação por serem levados a cabo por outro tipo de intérpretes. Digamos que os primeiros, por estarem ligados ao “empreendedorismo”, são para largos extractos populacionais socialmente aceitáveis, enquanto os segundos por estarem directamente relacionados com o banditismo são severamente condenados.
É isto que explica que o chamado crime de “colarinho branco” preocupe tão pouco os extractos políticos promiscuamente ligados aos negócios, porque eles sabem muito bem que fora de certos círculos restritos é relativamente benevolente a atitude de grande parte da população, apenas traduzida num mal dizer inconsequente.
Voltando a Cavaco Silva e ao BPN, a ideia com que se fica, depois da entrevista de ontem, é a de que ele nos quer fazer acreditar que desconhecia completamente o que se dizia do BPN e das práticas nele seguidas nos meios em que ele próprio se situa: pagamento de juros incomportáveis, negócios altamente lucrativos com títulos cuja consistência se desconhecia e tudo mais que na Exame de Janeiro de 2001 se descrevia. Toda esta cândida inocência Cavaco Silva nos expõe com toda a convicção. A sua relação com o banco era distante e confiante: “Apliquem as minhas poupanças onde forem mais rentáveis”. Não sabe quanto lhe custaram as acções que comprou, nem o preço por que as vendeu e a quem as vendeu. Não sabe nada. Entregou-se nas mãos do banco.
E todavia nós sabemos que num banco dominado por correligionários políticos e membros de seus anteriores governos lhe foram vendidas acções por um preço apenas destinado a quatro entidades, bem inferior ao que estava preferencialmente reservado aos accionistas. E nem sequer lhe passa pela cabeça, na hipótese mais benéfica, de o preço por que comprou as acções ser uma espécie de recompensa pelo prestígio que o seu próprio nome emprestava à colocação de um aumento de capital junto de novos accionistas em condições altamente favoráveis para os verdadeiros detentores do banco.
Nada. Nada lhe ocorre. Perante tanta ingenuidade e incapacidade de avaliação de pessoas e coisas apenas resta concluir que Cavaco Silva está muito longe de reunir os atributos que se exigem a um Presidente da República. Se por masoquismo, como diz JM Coelho, o povo português continuar a votar nele, depois não se queixe!
Excelente análise. Mas é preciso continuar a desmistificar a "seriedade" de Cavaco.
ResponderEliminarDoutor Correia Pinto, falta o link para a entrevista.
ResponderEliminarAqui vai:
http://www.rtp.pt/multimediahtml/progVideo.php?tvprog=1436