A INQUIETANTE PRESENÇA DE HILLARY CLINTON
Os americanos, como quase toda a gente, foram completamente surpreendidos pelos acontecimentos do Mediterrâneo. O que não tem nada de criticável. Foi a História com toda a sua força a marcar imprevisivelmente a sua presença onde menos se esperava. Só para os economistas incultos (infelizmente quase todos) é que o futuro é completamente previsível. O futuro e o comportamento do homo oeconomicus!
Pois bem, a América começou por ligar pouco à questão da Tunísia – um país que lhe dizia pouco – mas logo mudou de opinião quando começou a perceber que o exemplo do que lá se passava estava a contagiar o vizinho do leste. E aqui, quando o povo começou a entrar em cena, a América tremeu, sem saber bem como actuar, embora soubesse muito bem o que queria fazer.
O que a América queria fazer era manter a estabilidade na zona, continuar a contar com um aliado estratégico tão importante como o Egipto e, simultaneamente, não decepcionar aqueles que na Praça Tahrir, cada dia em maior número, se manifestavam contra o regime vigente. Obama foi acompanhando a situação “pela televisão”, dando uma no cravo outra na ferradura, chegou a ter palavras de algum entusiasmo pelo que se estava a passar, mas logo cometeu o grave erro de mandar ao Cairo Frank Wisner que, ao bom estilo do que há de mais estúpido na América, ia deitando a perder todo o equilíbrio até então conseguido, mais por mérito dos manifestantes do que propriamente da América.
Durante todo este período, Hillary Clinton falou pouco e quando falou foi para agravar a animosidade em relação aos americanos. A partir do momento em que se percebeu que esta revolta, com características muito originais, estava quase a cem por cento orientada para a resolução de problemas internos que afligem os egípcios e que, numa primeira fase, afastado que foi Mubarack e posteriormente alguns dos seus mais próximos seguidores, as forças revolucionárias concediam um crédito vigilante de confiança ao Exército para fazer a transição para outra coisa que ainda não se sabe bem o que será, os americanos tranquilizaram-se relativamente e conseguiram essa coisa espantosa de, num país onde tinham uma tão grande presença, uma viragem política tão marcada como a que aconteceu no Egipto se não fazer também contra eles.
Embora tudo isto seja mais mérito dos revoltosos do que da acção americana propriamente dita, a verdade que é os americanos, até ver, ainda não estão a perder no Egipto. E para isso terá contado muito a figura de Obama, o seu capital de simpatia e o discurso do Cairo que ele havia proferido numa altura em que ainda sonhava com os “amanhãs que cantam”.
Os próprios israelitas que de início entraram em pânico, com declarações inquietantes da extrema-direita judaica no governo, breve perceberam também que o melhor era não se meterem publicamente nos assuntos do Egipto para não criarem um problema onde ele ainda não existia.
Já quanto ao que se passa na Líbia, os americanos, com uma acção mais discreta de Obama (cada vez mais prisioneiro na Casa Branca), têm falado principalmente pela voz de Hillary Clinton. E a sensação com que se fica é que se a mulher continua a falar com a arrogância e o tom irritante com que repetidamente o tem feito, vai a breve trecho conseguir aquilo que os islamistas radicais ainda não tinham conseguido até agora.
A Senhora Clinton ainda não percebeu que a América não está a viver os “tempos gloriosos”do fim da Guerra Fria, que fizeram do mandato do seu amado esposo algo de parecido com o governo de um imperador no apogeu do seu poder, mas tempos bem diferentes que não escamoteiam as debilidades americanas em vários domínios, principalmente naqueles em que até aqui tinham sido incomparavelmente fortes, como o económico e o militar.
A senhora Clinton não percebe que há nos povos árabes oprimidos um legítimo ressentimento contra os americanos, por estes se terem aproveitado em toda nação árabe de governantes corruptos, cleptocratas, ditadores, enfim, de gente que vivia completamente à margem do seu povo, para, por intermédio deles, fazer a sua política e defender os seus interesses com completo desprezo pelos direitos do povo e do seu bem-estar.
Há em todos esses países muita gente jovem, instruída, como nunca houve, que tem plena consciência do que se passou e do que move os americanos (e obviamente também os europeus), mas que não quer abrir tacticamente nenhuma frente de luta externa para não desviar as atenções do essencial. Mas também não quer que os americanos se metam, exactamente porque os conhecem.
É provável que Obama tenha consciência disto, mas está visto que ele perdeu o controlo da política no Mediterrâneo, com a emergência da questão Líbia, e deixou que fosse Hillary Clinton a tomar conta da situação no bom e velho estilo americano. Se a mulher não for controlada, se a deixam actuar como típica representante do sistema, ela será capaz de fazer em pouco tempo tantas asneiras como Bush.
É imperioso que ela não transforme o Mediterrâneo num barril de pólvora e haja alguém que deixe os povos árabes conquistar e depois gozar, sem tutelas, a liberdade por que estão lutando!
Pois bem, a América começou por ligar pouco à questão da Tunísia – um país que lhe dizia pouco – mas logo mudou de opinião quando começou a perceber que o exemplo do que lá se passava estava a contagiar o vizinho do leste. E aqui, quando o povo começou a entrar em cena, a América tremeu, sem saber bem como actuar, embora soubesse muito bem o que queria fazer.
O que a América queria fazer era manter a estabilidade na zona, continuar a contar com um aliado estratégico tão importante como o Egipto e, simultaneamente, não decepcionar aqueles que na Praça Tahrir, cada dia em maior número, se manifestavam contra o regime vigente. Obama foi acompanhando a situação “pela televisão”, dando uma no cravo outra na ferradura, chegou a ter palavras de algum entusiasmo pelo que se estava a passar, mas logo cometeu o grave erro de mandar ao Cairo Frank Wisner que, ao bom estilo do que há de mais estúpido na América, ia deitando a perder todo o equilíbrio até então conseguido, mais por mérito dos manifestantes do que propriamente da América.
Durante todo este período, Hillary Clinton falou pouco e quando falou foi para agravar a animosidade em relação aos americanos. A partir do momento em que se percebeu que esta revolta, com características muito originais, estava quase a cem por cento orientada para a resolução de problemas internos que afligem os egípcios e que, numa primeira fase, afastado que foi Mubarack e posteriormente alguns dos seus mais próximos seguidores, as forças revolucionárias concediam um crédito vigilante de confiança ao Exército para fazer a transição para outra coisa que ainda não se sabe bem o que será, os americanos tranquilizaram-se relativamente e conseguiram essa coisa espantosa de, num país onde tinham uma tão grande presença, uma viragem política tão marcada como a que aconteceu no Egipto se não fazer também contra eles.
Embora tudo isto seja mais mérito dos revoltosos do que da acção americana propriamente dita, a verdade que é os americanos, até ver, ainda não estão a perder no Egipto. E para isso terá contado muito a figura de Obama, o seu capital de simpatia e o discurso do Cairo que ele havia proferido numa altura em que ainda sonhava com os “amanhãs que cantam”.
Os próprios israelitas que de início entraram em pânico, com declarações inquietantes da extrema-direita judaica no governo, breve perceberam também que o melhor era não se meterem publicamente nos assuntos do Egipto para não criarem um problema onde ele ainda não existia.
Já quanto ao que se passa na Líbia, os americanos, com uma acção mais discreta de Obama (cada vez mais prisioneiro na Casa Branca), têm falado principalmente pela voz de Hillary Clinton. E a sensação com que se fica é que se a mulher continua a falar com a arrogância e o tom irritante com que repetidamente o tem feito, vai a breve trecho conseguir aquilo que os islamistas radicais ainda não tinham conseguido até agora.
A Senhora Clinton ainda não percebeu que a América não está a viver os “tempos gloriosos”do fim da Guerra Fria, que fizeram do mandato do seu amado esposo algo de parecido com o governo de um imperador no apogeu do seu poder, mas tempos bem diferentes que não escamoteiam as debilidades americanas em vários domínios, principalmente naqueles em que até aqui tinham sido incomparavelmente fortes, como o económico e o militar.
A senhora Clinton não percebe que há nos povos árabes oprimidos um legítimo ressentimento contra os americanos, por estes se terem aproveitado em toda nação árabe de governantes corruptos, cleptocratas, ditadores, enfim, de gente que vivia completamente à margem do seu povo, para, por intermédio deles, fazer a sua política e defender os seus interesses com completo desprezo pelos direitos do povo e do seu bem-estar.
Há em todos esses países muita gente jovem, instruída, como nunca houve, que tem plena consciência do que se passou e do que move os americanos (e obviamente também os europeus), mas que não quer abrir tacticamente nenhuma frente de luta externa para não desviar as atenções do essencial. Mas também não quer que os americanos se metam, exactamente porque os conhecem.
É provável que Obama tenha consciência disto, mas está visto que ele perdeu o controlo da política no Mediterrâneo, com a emergência da questão Líbia, e deixou que fosse Hillary Clinton a tomar conta da situação no bom e velho estilo americano. Se a mulher não for controlada, se a deixam actuar como típica representante do sistema, ela será capaz de fazer em pouco tempo tantas asneiras como Bush.
É imperioso que ela não transforme o Mediterrâneo num barril de pólvora e haja alguém que deixe os povos árabes conquistar e depois gozar, sem tutelas, a liberdade por que estão lutando!
Ó Correia Pinto, a mulher pode ter muitos defeitos, mas é bonita! Onde é que foste desencantar uma fotografia dela tão horripilante?
ResponderEliminarUm abraço
HP
Caro amigo JMCorreia-Pinto,
ResponderEliminarVou fazer link.
Obrigado.
Abraço.
Oxalá que a seguir caia o regime Saudita. Com todas as possíveis consequências que tal teria para a política externa dos EUA, da Europa (e Israel, "etc e tel").
ResponderEliminarP.Rufino
Devido ao avançado da hora não vou ler... amanhã.
ResponderEliminarMas a cara da dita, é horripilante... Uma maldade :))
Abraço
"Só para os economistas incultos (quase um pleonasmo) é que o futuro é completamente previsível"
ResponderEliminarNa mesma linha, direi que só um LD inculto e parvalhão, poderá fazer esta afirmação.
Quem será este teu anónimo e inteligente leitor?Será que ele sabe do que está a falar? Se le fosse ao menos capz de argumentar, a gente ainda o retirava do pleonasmo. Assim, vai ter de lá continuar...
ResponderEliminarPensando melhor, resolvi substituir economistas incultos (quase um pleonasmo) por economistas incultos (infelizmente quase todos).
ResponderEliminarO texto inicial encerrava um agravo injusto e inútil a muito boa gente que, sendo economista, tanto cá, como lá fora (principalmente lá fora), nada tem a ver com aquela matilha de economistas que diariamente nos massacra nos media e tenta fazer passar por ciência a sua requentada ideologia.