A UTOPIA DO CAPITALISMO FINANCEIRO REFORMADO
Louçã acredita no euro. Crê que o euro tem futuro e nós, com ele.
Não é muito de admirar que Louçã pense assim. Infelizmente, a maior parte dos economistas ou tem uma visão puramente ideológica da realidade, para os quais a economia não passa de uma doutrina – atenção: não confundir com uma teoria: esta é construída de baixo para cima e depois aplicada de cima para baixo interagindo permanentemente com a realidade (há até grandes economistas que afirmam a inexistência de uma teoria económica, o mesmo é dizer, a natureza não científica da economia como saber), ao passo que a doutrina não passa de uma elaboração superestrutural aplicada de cima para baixo com vista à obtenção dos resultados desejados – ou, então, não lida com factos, mas com suposições. Nestes, entre a realidade palpável do evento e a expectativa, tende a prevalecer a conjectura em detrimento da realidade.
Evidentemente, há excepções. De todas a mais notável é Paul Krugman. Nasceu pobre, numa zona deserdada de Nova York, e por isso conhece a vida como ela é. Luta pela mudança, mas não engana aqueles por cuja causa se empenha. Seja na América ou na Europa.
Diz ele a propósito do euro, livremente interpretado nas palavras, que não nas ideias: a moeda comum europeia é uma permanente fonte de opressão para as economias periféricas menos desenvolvidas, com défice de competitividade relativamente às economias mais poderosas. A atenuação das consequências que daqui resultam poderia alcançar-se por via de uma reestruturação da zona euro que levasse à criação de uma união monetária semelhante à que existe na América. Tal, porém, não é possível. Em primeiro lugar, porque a UE não tem uma estrutura política equiparável à dos EUA – aqui há uma federação, na Europa uma construção complexa, democraticamente deficitária, com a participação decisiva de elementos federativos em tudo quanto favoreça o interesse dos mais fortes e a persistência de fortes elementos nacionalistas alheios e avessos a qualquer ideia de solidariedade, antes se movendo pela busca obstinada do interesse nacional; em segundo lugar, porque todas as medidas recentemente tomadas para assegurar o “governo económico” da União apontam para um agravamento doloroso da situação dos mais fracos.
Assim sendo, a subsistência da zona euro, pelo menos enquanto os credores não estiverem pagos, vai assentar na permanente deflação dos salários, na eliminação gradual das conquistas sociais ligadas ao trabalho e no aumento do desemprego. E é isso o que vai acontecer a todos aqueles que persistam em continuar no euro no contexto em que ele foi criado e se desenvolveu.
Louçã - disse-o ontem - acredita no euro e na Europa. Não nesta, que falhou, mas na que não pode continuar a falhar.
Depreende-se das palavras de Louçã que a Europa que não falha é a que resolve os problemas de liquidez dos “Estados à rasca”, mediante a concessão de empréstimos de urgência, pelo BCE, a bancos nacionalizados daqueles Estados que depois os repassariam ao respectivo Estado; e o resto resolver-se-ia cobrando impostos aos bancos e obrigando-os a recapitalizarem-se, além da exigência de uma auditoria às contas da dívida pública para se ficar a saber o que não deve ser pago.
É claro que isto como proposta de futuro para Portugal é pouco. Depois, é preciso saber distinguir entre aqueles cartazes com piadas que se exibem nas manifs ou os ditos politicamente brejeiros para apoucar o adversário e as propostas para governar o país. Louçã parece que ainda não se consciencializou da necessidade da distinção.
E também é preciso perceber que a guerrilha como manobra de diversão não tem qualquer sentido. A guerrilha só é eficaz se servir um objectivo estratégico que é o de ganhar a guerra. Para entretenimento lúdico há coisas mais interessantes.
Subscrevo. A inconsitência de uma ideia é tão preocupante quanto o é uma ideia retrógrada...
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