segunda-feira, 18 de abril de 2011

SOBRE O FMI


SOARES E CADILHE


Vencida a guerra fria, a América governada pelo “imperador” Clinton, a Rússia arrastando-se penosamente sob a batuta etílica de Yeltsin, com o resto do mundo ainda a recompor-se das grandes transformações “tectónicas” da geopolítica internacional, o FMI teve então a sua época dourada, principalmente em África, mas também na Ásia e na América Latina, na aplicação implacável das novas (velhas) receitas neoliberais, convertidas em pensamento único, nunca igualado na sua ortodoxia desde os tempos da contra-reforma.

Além de terem ficado célebres algumas das maiores barbaridades de política económica, ficou igualmente muito conhecida a máxima seguida pelos países em desenvolvimentos submetidos ao incontornável jugo económico-financeiro do FMI. Dizia-se então: eles assinam todos os compromissos que lhes põem na frente para os próximos quatro anos e depois da equipa do FMI levantar voo passam esses mesmos quatro anos a demonstrar-lhe que os não podem cumprir.

O FMI não é nenhum papão, diz Mário Soares. Mário Soares tem uma grande virtude: é sempre igual a si próprio. Não há princípio que o seu pragmatismo considere inviolável; não há comportamento que o seu oportunismo político não acolha.

Ainda há não muito tempo quando Bush governava os Estados Unidos atacava o “pensamento único”, criticava a actuação do FMI em África e na América Latina e até citava Stiglitz para fundamentar as suas opiniões. Pois bem, agora, em vez de erguer a sua voz em defesa dos interesses nacionais contra a prepotência dos grandes agentes do capital financeiro, dá a entender que as receitas do FMI serão razoavelmente aceitáveis, criando psicologicamente as condições para a rendição aos diktats do capital financeiro.


Mário Soares sempre foi assim e assim vai continuar até ao fim.

É também interessante escutar Cadilhe, cuja cabeça está completamente formatada pelas máximas ideológicas desse mesmo capital financeiro, mesmo quando, como banqueiro frustrado embora pessoalmente muito endinheirado, está no lugar de pedinte. Diz Cadilhe que há duas saídas: a honrosa e a desonrosa. A primeira consiste em pagar tudo o que se deve, recorrendo-se numa primeira fase a um imposto transversal e universal, de natureza excepcional, na base de uma taxa igual para todos, sobre os activos líquidos, coisa que não se percebe bem o que seja, embora se depreenda que é um conceito destinado a permitir muitas excepções. A segunda consiste em mendigar uma reestruturação, com perdão parcial, enfim, uma vergonha.

Não adianta discutir com Cadilhe que vive num outro mundo, completamente diferente daquele que os estudiosos da dívida conhecem. Mas talvez valha a pena apontar dois ou três pressupostos de que parte Cadilhe para o compreender.

Além das eternas contas a ajustar com Cavaco, que indirectamente vêm uma vez mais à baila, Cadilhe parte do princípio de que a dívida, qualquer dívida, resulta de um erro de conduta do devedor; em segundo lugar, que num contrato de mútuo somente o mutuário tem responsabilidades e, por último, que toda a dívida têm de ser paga nos exactos termos em que foi contraída por mais leonino que sejam os contratos que a suportam. E, mais, Cadilhe além de estar convencido de que a dívida privada resulta (politicamente) da pública – aqui não há nada a fazer com Cadilhe, só mesmo substituindo-lhe os chips -, acha perfeitamente normal a oscilação da taxa de juro por mais especulativa, onerosa e imoral que ela seja, tanto assim que todas as suas “energias” estão viradas apenas e só para a redução da despesa pública primária, ou seja, a que exclui os juros da dívida (estes, no pensamento de Cadilhe, terão de ser sempre aqueles que os financiadores quiserem).

De facto, de que o país menos precisa nos tempos que correm, é dos conselhos de Soares e da “coragem” e da “honra” de Cadilhe.

Mas como o assunto é mesmo muito sério, vale a pena aprofundá-lo um pouco mais, num post separado, tomando como referência o que se passou com a Argentina, a propósito da dívida, das suas relações com o FMI e da coragem!

4 comentários:

Anónimo disse...

Meu caro,
O seu blogue e os seus Post são do melhor que há, do melhor que tenho lido.
Estou inteiramente de acordo com tudo o que aqui tem escrito.
Continue!
Um dia destes, haja tempo, ainda me permito um comentário ("humilíssimo") na "onda" do que mui sabiamente e de forma oportuna e clarividente nos transmite no seu Blogue.
Deixo-lhe um abraço de muito respeito por aquilo que bem escreve.
P.Rufino

António J.Campos disse...

Mais uma vez estou de acordo consigo, qualquer deles não são flores que se cheirem e por isso, as suas perspetivas sobre o FMI são conhecidas como bem referiu.

Anónimo disse...

O New Tork Times de hoje pergunta:
E o euro no banco da filandia ou nos bancos portugues tao seguro como nos bancos alamaes? e segue:-Esta siples perguntada para entender p porque que a zona euro podera desentegrasse e criar uma crise bem mais profunda!

Anónimo disse...

Espero o desmantelar do circo...Pelos vistos esta perto!