sexta-feira, 27 de maio de 2011

EPISÓDIOS DA CAMPANHA



O INTERESSE DO DESINTERESSE

 Embora a campanha eleitoral, substantivamente falando, não tenha qualquer interesse, tantos são os faits divers que os seus principais intervenientes inventam para desviar as atenções do essencial, nem por isso o desinteresse por ela gerado deixa de ter episódios com algum interesse.

Passos Coelho, que já renunciou completamente à pretensão de captar votos no centro-esquerda, tão radical é o seu programa económico – mais radical que o da troika, segundo o seu principal conselheiro –, tenta agora desesperadamente crescer à custa do CDS investindo sem pudor nas coutadas dos “centristas”. Portas que foi construindo ao longo dos anos os seus “nichos eleitorais de mercado” sem ser muito incomodado nas áreas onde privilegiadamente incidia a sua propaganda, vê-se agora atacado pela sua direita pelo preferente aliado. Mas sem qualquer êxito para os atacantes, como se verá. As incursões de Passos Coelho na “lavoura”, quando já se perdeu na voragem dos tempos a memória dos generosos subsídios com que o PSD, principalmente o de Cavaco, brindava os “lavradores”, estão por natureza votadas ao fracasso. Portas tem essa coutada segura, pelo menos nos “lavradores” sem Range Rover.

Patética é também a “conversa” sobre o aborto com que Passos Coelho abriu ontem o dia de campanha. Ele, que até votou “sim”, prestou-se a mais um triste espectáculo de ter de desdizer à tarde o que disse de manhã e de ter posto os principais candidatos do partido a interpretá-lo e a corrigi-lo durante todo o dia.

Há aqui sem dúvida um misto de incompetência e um mal disfarçado mimetismo “sarkoziano” , aliás mal compreendido. A tentativa de “pescar” em águas alheias, uma das “mais-valias” de Sarkozy nas últimas eleições presidências, não é tarefa que possa ser levada a cabo por amadores. Ela pressupõe um grande domínio da retórica política em todos os campos e exige concessões, mesmo que falsas, que a rigidez política de Passos Coelho não está em condições de comportar.

Do lado do PS, aquilo a que assistimos por parte de alguns dos seus “bonzos sagrados” é, por um lado, perfídia, e, por outro, a mais completa inabilidade política que alguma vez já se viu. Soares não perde uma oportunidade para complicar a vida a Sócrates e AlmeidaSantos, sempre que lhe dão oportunidade, não precisa de fazer qualquer esforço para “enterrar” aqueles que aparentemente pretende defender.

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