terça-feira, 31 de maio de 2011

A GRÉCIA: NOVO SAQUE À VISTA







DEPOIS DO SAQUE DO PATRIMÓNIO HISTÓRIO E ARTÍSTICO

A Grécia, pátria fundadora da nossa civilização, depois das maravilhas artísticas, literárias e filosóficas com que dotou a cultura ocidental, foi-se tornando com o passar do tempo num lugar privilegiado para predadores de toda a espécie. Primeiro foram os romanos, porventura mais interessados em colonizar o saber do que em conquistar a terra, depois Bizâncio, e a seguir os otomanos que sem compreenderem bem a magnitude da ofensa que estavam praticando transformaram o Partenon num paiol de pólvora facilitando com a sua incúria e insensibilidade ao belo o desfecho perpetrado pelos canhões venezianos já então mais interessados, tal como hoje, em impor o domínio do dinheiro do que em preservar as grandes criações do espírito humano. A seguir vieram os “civilizados”, os netos e os bisnetos da cultura ali gerada, já muito mesclados de cristianismo, fazer a razia dos bens patrimoniais históricos, muitos dos quais hoje exibidos como coisa própria nas três grandes capitais europeias (Londres, Paris e Berlim), mas existentes um pouco por todo lado tal a magnitude do saque sofrido pela pátria helénica.
Entretanto, a Grécia penosamente voltou à história. No começo do século XIX (1822), depois de múltiplas vicissitudes, em que ao contrário do que hoje acontece não faltou na Europa de então, naquilo a que com propriedade se poderia chamar a Europa dos cidadãos, quem com ela se quisesse identificar e solidarizar (Lord Byron é, entre muitos outros, um exemplo conhecido) na reconquista da sua independência. É verdade que os gregos, alcançado o objectivo, como de costume, não se entenderam. Mas esse é um problema deles…embora, na altura, já com a Alemanha de permeio
Não interessa saber se os gregos de agora são os mesmos da era de Péricles ou se o ADN dos actuais tem alguma coisa a ver com os que na Ágora ateniense ou na academia de Platão dissertaram tão doutamente sobre a natureza humana a ponto de o interesse pelas suas palavras suscitar hoje o mesmo entusiasmo e interesse com que eram ouvidas há mais de dois mil anos ou mesmo se as virtudes guerreiras e o estilo de vida dos espartanos deixaram alguma influência nos que hoje habitam o Peloponeso. Isso não interessa – essa questão da filiação genética dos actuais nos ancestrais verdadeiramente só interessa aos judeus em Israel. O que interessa é que os gregos que hoje habitam a Macedónia, as ilhas jónicas, as do Mar Egeu ou as da Ásia Menor ou os que habitam a Ática e o Peloponeso, habitam os mesmos lugares sagrados onde outrora floresceu uma civilização e se gerou uma cultura ímpares na história da humanidade.
E é essa mesma Grécia que hoje é humilhada pelos donos do dinheiro com a arrogância e a brutalidade própria dos bárbaros. Não lhes basta não reconhecer a falência completa das políticas de austeridade que lhe impuseram para continuarem a alimentar com dinheiros públicos a ganância dos bancos. Querem mais: querem a Grécia vendida aos pedaços sob a supervisão de uma agência externa que ficaria encarregada de entregar aos credores os bens públicos gregos sob o disfarce de um processo de privatizações em larga escala.
As opções com que a Grécia se defronta – e com que outros a muito curto prazo igualmente se defrontarão - são difíceis. Mas entre dois males deve sempre escolher-se aquele que mais dano causa ao nosso inimigo. Entre continuar na União Europeia como um protectorado do directório, dominado pela Alemanha, fazendo sacrifícios sem conta nos próximos dez anos para no fim se ficar porventura pior do que se está hoje ou rejeitar-se completamente os diktats de Bruxelas com todas as consequências que isso acarreta, deixando os credores à mercê do devedor e encetando uma vida nova com sacrifícios, mas com futuro, é muito provável que esta segunda via venha a ser a escolhida pelos povos que entraram de boa fé no grande embuste europeu sem sequer se terem dado conta da gravidade da decisão que tomaram.
Agora é que o Dr. Mário Soares deveria publicar uma compilação dos slogans demagógicos com que enganou o povo quando lhe vendeu a “Europa connosco”, como paraíso escondido atrás da porta, fazendo tábua rasa ou ignorando os oito séculos de história que antecederam esta nefasta aventura!
Esta Europa, não! E outra não há…

9 comentários:

  1. Caro JM Correia Pinto,
    ... faço link deste post além do que já ontem aqui anunciei :)
    Abraço.

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  2. sublegParabens Dr. Correia Pinto e sempre um prazer muito grande ler os seus comentarios.Esta certo com o nosso destino...como e porque sera que os" nossos intlectuais" nao podem ou nao querem ver ?Mais vale ser pobre mas livre. Estes nao sao os descendentes dos Portugueses deaquem e dalem mar.Vamos sim levar o caminho da Grecia! Como se pode enganar tanto portugues em tao pouco tempo,como? O seu comentario e de A+

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  3. Não seria já a altura de avançar com a alternativa ou alternativas, que de certo tem, ao caminho que o país está a seguir? Ou é ainda prematuro divulgá-la ou divulgá-las?

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  4. Doutor Correia Pinto,

    fora de tópico (embora, como de costume, o tópico apresentado seja interessante):

    No seguinte link, encontra um texto acerca da possibilidade de Salvador Allende ter sido assassinado, e não ter-se suicidado como sempre foi dito até agora:

    http://sicnoticias.sapo.pt/mundo/2011/05/31/especialistas-chilenos-defendem-que-salvador-allende-pode-ter-sido-assassinado

    A confirmar-se, reforça ainda mais a convicção que este 11 de Setembro (de 1973) foi, pelo menos, tão importante como o outro 11 de Setembro (de 2001).

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  5. Post Sciptum: A convicção a que aludi é minha.

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  6. Que falta fazem a este povo palavras sábias e verdadeiras como estas!
    Que falta faz a exposição sem peias desta coragem!
    Ao ler as suas palavras acerca dos bárbaros, que pretendem arrasar a cultura dos povos mais antigos deste continente, em troca de uns miseráveis tostões com que se apaguem os crimes cometidos dentro de portas pelos miguéis de vasconcelos a soldo desses mesmos bárbaros, recordo o fantástico poema do grego Konstantinos Kavafis "Esperando os bárbaros - Περιμένοντας τους βαρβάρους"...

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  7. Em grande Manojas!

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  8. O Manojas fala e bem ! Voltar de novo ao principio e ja voltamos tantas vezes na nossa historia que nunca aproveitamos a licao! Talvez desta ! Modificando sistema pragmaticamente.Programar a distrubicao do poder. Levar de baixo para cima com uma estrutura organizada, deixando de parte os partidos pliticos mas obrigar estes a escolha da vontade do Povo e nao dum dirigente qualquer a impor-nos uma escolha.Presentemente a nossa vontade nao correponde a vontade dos partidos. Na justica uma volta para o respeito e um castigo compensador ao crime. A descentralizacao do poder central e o equilibrio entre os tres poderes:-O lesgelativo o executivo e o judical com o poder de se vigiar entre si. Mais poder dicisivo ao presidente da republica com um mandato apenas de quatro anos. Na educacao um projecto necessario para servir o pais a long prazo.Na assitencia social um projecto realista baseado, apenas no nosso poder economico, uma destribucao conforme e apenas do esforco de cada um e da capacidade tambem de cada um com um teto establecido para limitar a ganancia "desnecessaria"Catequizar o Povo a viver o pais e os seus problemas.Incutir um fim atingir e lavantar um sonho comum de ser portugues!Ser portugues e poder ser Mundialmente incluido neste seculo XXI

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