quarta-feira, 29 de junho de 2011

AMANHÃ, A GRÉCIA

HAVERÁ PLANO B, MAS NÃO O "DELES"



Quem vê a nossa TV, qualquer delas, não precisa de ouvir os porta-vozes da Comissão Europeia, do BCE ou de qualquer outro credor em transe. Os nossos repórteres encarregam-se de nos demonstrar que os gregos são uns mandriões, cheios de privilégios e mordomias, que se fartaram de viver à custa dos outros e acima das suas posses, mais que se justificando tudo o que estão a passar ou vão passar.

Esta forma ultra tendenciosa de descrever uma realidade bem mais complexa poderia ser imputada à preocupação de demonstrar aos nossos credores que nós somos diferentes – tão diferentes que até criticamos os gregos – se não fosse dar-se o caso de ser tão frequente entre certos portugueses a assimilação mimética de veneradas “virtudes” alheias que tantas vezes os leva no domínio das relações internacionais, ou mais prosaicamente, nos contactos internacionais, a nunca se situarem no seu devido lugar para fazerem qualquer observação ou estabelecer uma simples analogia mas antes no lugar daqueles que eles gostariam de ser.

Na Grécia estes pobres repórteres não falam como portugueses mas antes como eles supõem, na sua subconsciente imaginação, falaria um alemão ou um americano de um dos mais ricos estados da América.

Esta aparente sobranceria que não existe apenas na comunicação social, mas também no plano governamental, mais não é, bem vistas as coisas, que uma manifestação de puro servilismo relativamente àqueles a quem gostam de agradar por serem mais ricos ou masis fortes.

Para lá de tudo que possam dizer ou até das explicações criteriosas que pudessem ajudar a perceber o que se passou, uma coisa é certa: se o patriotismo grego se sobrepuser às insuportáveis pressões - mais do que pressões: ao ultimatum do capital financeiro e dos seus mais conhecidos representantes - quem vai acudir aos bancos credores? Vão ficar com os prejuízos e desencadear uma nova crise financeira semelhante à iniciada em 2007 ou vão ser mais uma vez resgatados pelos Estados à custa dos contribuintes?

Uma coisa é certa: se a Grécia resistir – e será muito difícil fazê-lo no plano institucional, tantas e tão intensas são as pressões que se estão exercer sobre os prováveis deputados “dissidentes” do PASOK – nunca mais nada na “Europa” será como dantes. Muito provavelmente, esta “Europa dos mercados” que tudo hipotecou ao lucro fácil e especulativo do capital financeiro e desprezou completamente as pessoas terá muito justamente a prazo, mais breve do que se supõe, o seu termo.

Quaisquer que sejam os sacrifícios por que se tenha de passar, o contributo que os gregos estão dando para pôr termo a um projecto hoje completamente adulterado pela secundarização dos cidadãos e até, no que se refere a alguns países, pela submissão de alguns povos à vontade hegemónica do capital financeiro, ficará na História como um dos serviços mais relevantes prestado nos tempos modernos à causa da democracia.

Por tudo isso, estes gregos que lutam, aos milhares, nas ruas contra a dominação estrangeira começam a merecer de todos os amantes da Democracia uma consideração e respeito semelhante à daqueles atenienses que, 430 anos a.C., Péricles homenageou, no primeiro ano da Guerra do Peloponeso, num famoso discurso, em que mais do que a sorte da contenda, contam os valores por que se luta e os princípios que se defendem!



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