A FRAGILIDADE ARGUMENTATIVA
Como é do conhecimento público, o deputado ao Parlamento Europeu, Rui Tavares, eleito na lista do Bloco de Esquerda como independente, decidiu desvincular-se do partido que o elegeu e integrar-se num outro grupo parlamentar, com base num pretexto ridículo: perdeu a confiança em Louçã por causa de uma trica difícil de reproduzir sobre quem fundou ou não fundou o Bloco.
É inacreditável que semelhante coisa possa desencadear a reacção que se conhece. Mas se a sensibilidade de Tavares vibra tão intensamente com coisas destas, o que ele deveria ter feito era “rescindir” a sua ligação com o Bloco e entregar o mandato ao partido pelo qual foi eleito com base num programa que ele não vai doravante poder cumprir. Actuando como actuou, Tavares foi desleal para com os eleitores que votaram a lista do Bloco ao Parlamento Europeu.
Se a questão da confiança pessoal foi assim tão importante para ele se desvincular do Bloco não será por maioria de razão muito mais importante para os eleitores que votaram na lista pela qual foi ele eleito a quebra de confiança política que o seu gesto representa?
Não passa pela cabeça de Tavares que o fragilíssimo argumento que utilizou se vira contra ele próprio atingindo-o em cheio na sua dignidade?
Quem lê, mesmo de vez em quando, alguns dos textos que Tavares escreve no Público não pode deixar de sorrir com naïveté política do seu autor ou com a fragilidade argumentativa que frequentemente os sustenta. É essa mesma sensação que hoje perpassa das explicações com que ele acompanha a sua decisão. Mas há apesar de tudo uma diferença importante: uma coisa é dizer umas tretas, por exemplo, sobre a “inexistência da esquerda”, outra muito diferente é apresentar um argumento sério, convincente, que sustente um acto tão grave como o que Tavares acaba de praticar.
Enquanto as coisas estiverem no pé em que estão impossível será não ligar o seu lamentável comportamento aos réditos que o lugar lhe proporciona. Na sensível consciência de Tavares não lhe ocorrerá ao “revisitar” no fim das férias o seu extracto bancário que haverá nele movimentos que só vieram parar à sua conta por ter sido eleito deputado pelo Bloco de Esquerda?
Se Rui Tavares quer redimir-se, e ainda vai a tempo, siga o exemplo digno de Barros Moura quando foi expulso do PCP: entregou o mandato do Parlamento Europeu ao Partido que o elegeu!
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