SIMPLESMENTE INADMISSÍVEL
O episódio hoje ocorrido na Assembleia da República, transmitido no telejornal da noite por uma televisão, entre João Galamba, deputado, e Carlos Costa, Governador do Banco de Portugal, é a imagem fiel do estado a que chegou a democracia em Portugal.
Por razões que não foram explicadas aos telespectadores, embora presumivelmente relacionadas com a “recapitalização dos bancos” com dinheiros públicos, o Governador do Banco de Portugal ao expor, sobre aquela matéria, o ponto de vista da instituição que dirige terá sido interrompido e contestado pelo deputado com uma determinada afirmação.
O deputado, com ou sem razão, tem o direito de o fazer. Ele é soberano no desempenho das suas funções e apenas o Presidente do Parlamento ou o presidente da comissão, se esse for o caso, têm o direito de lhe retirar a palavra ou de, inclusive, o advertirem.
O que se passou a seguir foi simplesmente inacreditável. Com arrogância e insolência, o Governador do Banco de Portugal dirigiu-se ao deputado em termos impróprios com total desrespeito e desprezo pelo poder democrático que ele ali representa.
A televisão não mostrou qualquer reacção dos presentes. Pelo contrário, ficou a ideia a quem assistiu ao episódio no pequeno ecrã que todos, excepto o visado, acharam aquilo perfeitamente normal.
Já aqui há dias um outro deputado, António Campos, foi ameaçado por um empregado de uma multinacional, que pura e simplesmente lhe disse: “Quem se mete com a (uma dessas empresas de consultores que vivem à custa do Estrado) leva!” Não interessa se “leva” em sentido figurado ou real e muito menos importa a consideração que o dito deputado mereça enquanto político.
O que interessa e é relevante é o modo como os deputados são tratados na sua própria casa. Se ninguém puser cobro a isto com a dureza que se impõe, quem em última instância está a ser desrespeitado é o cidadão que regularmente vai pôr o voto nas urnas convencido de que está a transmitir um mandato soberano. Ele é que verdadeiramente é humilhado e maltratado por um qualquer indivíduo que, por ter as costas quentes pelo grande capital ou por ser um agente do capital financeiro, se julga no direito de tripudiar sobre o poder democrático.
É certo que ninguém pode fazer de conta que não percebe que estes episódios estão intimamente relacionados com a crise da própria democracia representativa. Crise já crónica no que respeita ao papel do deputado como representante do povo por usurpação desse poder representativo pelos partidos, mas também criserecentemente agravada pela subalternização a que esse poder já debilitado e pouco representativo está sendo votado pelo capital financeiro que, directamente ou por intermédio dos seus lacaios, actua sem disfarces, impondo pura e simplesmente a sua vontade com total desprezo pela dita vontade popular, sem sequer se coibir de tratar os deputados um pouco mais contestatários como parte dessa oposição social difusa que às vezes pode causar algum incómodo, mas que verdadeiramente não conta para o que é essencial.
Até ver...
Até ver...
(Por razões operacionais este post, escrito no dia 2 de Dezembro, à noite, só hoje pôde ser publicado).
5 estrelas.
ResponderEliminarInfelizmente a diminuição dos politicos perante todo o tipo de poderes há muito que se vem verificando, basta ligar qualquer canal de noticias e ver qualquer debate sobre qualquer coisa e veremos ao vivo e a cores a definição de subserviência. Os politicos parecem pulgas amestradas perante os jornalistas, qualquer imberbe boçal e arrogante cala de uma só penada um qualquer politico por mais influente que seja sem um ai de quem quer que seja. Existe na classe politica a interiorização da sua própria irrelevância. Este episódio é só mais um.
Parabens ao João Galamba q demonstrou o q é um ser vertebrado.
A atitude do deputado é de louvar, sem intimidações, deixou claro que exigia um pedido de desculpas. O que me pareceu de lamentar (e não admitir) foi a ausência de reacção do presidente da comissão e dos restantes deputados. Claro que ele vai pedir desculpas pois para mim é garantido que o deputado João Galamba tem "arcaboiço" teórico (que já começou a mostrar) para demonstrar a pequenez tecnica do palrador governador. Espero que o orgão de soberania actue em conformidade dando conta da aos que os elegeram a sua actuação para que os convocados pela AR a irem explicar-se saibam comportar-se e tenham em conta o que lhes pode acontecer.
ResponderEliminarEstas eram as palavras que faltavam...
ResponderEliminarSintomático é que ninguém as tenha dito, no intervalo de dois ou três dias derivado de razões operacionais.
Insuportável a petulância do sr. Governador, a que assisti incrédulo. Mas já nada choca, tal a avalanche de situações e casos chocantes. A propósito, sugiro que leiam, no DE de há dois dias, umas declarações de Joe Berardo. O Comendador diz lá umas coisas que toda a gente, a gente que conta digo eu, anda a evitar falar gerando um "silêncio ensurdecedor".
ResponderEliminarAinda quanto ao Governador também sabemos quem o pôs no lugar!
Correia Pinto,
ResponderEliminarEstou ademirado por ainda nao ter comentado nada sobre o que se esta a passar na Europa sobre Merkel/Sarkozy! Sera que caminhamos para uma ditadura? Sera que estamos a voltar a 1939? Sera que ninguem os atraca? Sera que caminhamos para uma guerra? Ou a Europa vai ser comamndada por mais outro Hitler?
Sou um seu seguidor. Deveria haver muitos como o Correia Pinto mas.... infelizmente temos poucos.
Desculpe o anonimato.
Foi pouco. O palhaço do Galamba deveria ter ouvido mais e ainda apanhar uma chapada lá fora. Aliás, toda essa raça de deputados deveriam estar num canil a comer ração. caso não sabem a AR é o maior e mais lucrativo centro de negócios de Portugal....
ResponderEliminarEstas questões só surgem em virtude no nível dos deputados que temos. Quando perante técnicos exprimem a sua demagogia mais básica, das duas uma ou estão a revelar a sua ignorância ou estão a tratar como ignorante o seu interlocutor.
ResponderEliminarEu acho que o Sr. Governador de Portugal esteve bem porque este deputado não percebe de economia. Antes de se falar do que quer que seja tem de se ter noções sobre o assunto, ou estudar ou ser aconselhado a, de modo que possa falar sem fazer papel ridículo que o deputado Sr. João Galamba fez. Democracia não funciona assim e não tem funcionado bem em Portugal por causa disto. Não é preciso uma pessoa ser vocacionada a, mas convém terem uma noção! É para isso que nós como portugueses pagamos impostos.
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