OU MAIS UM EXEMPLO DE NEOLIBERALISMO
Ontem à noite, no programa Prós e Contras da RTP 1, sobre os custos da energia, defrontaram-se dois painéis, que, embora constituídos por interesses divergentes, se situavam ambos no “milieu energético”, sem que uma voz verdadeiramente alternativa tivesse estado presente, quanto mais não fosse para clarificar e descodificar o hermetismo do tema, propositadamente cultivado pelos participantes no debate para que o assunto pudesse mais facilmente ser abordado como coisa sua (deles!).
Com excepção da intervenção inicial da DECO, no estilo habitual da associação, o debate versou aparentemente sobre as vantagens e desvantagens das energias renováveis versus energia atómica, a qual, quase sem ter sido falada, esteve permanentemente presente nos subentendidos da discussão.
A conclusão óbvia que se retira de tudo o que se ouviu é que a energia em Portugal e, porventura noutros países capitalistas, não obstante a natureza do mercado em que actua – monopólio ou oligopólio –, dos altos preços a que é vendida tanto para usos domésticos como empresariais, dos fabulosos lucros que proporciona ainda é subsidiada pelo Estado, ou seja pelos contribuintes, em termos que tendem em breve a aumentar drasticamente e que somente poderão ser suportados com um agravamento draconiano das condições de vida da generalidade da população.
Perante este quadro verdadeiramente criminoso, os beneficiários dos subsídios – EDP, ENDESA, etc. – ameaçam e falam em direitos adquiridos por contrato, com a tranquila impunidade de quem se sente suficientemente forte para extorquir até ao último centavo os rendimentos dos contribuintes.
A EDP, ciente da sua força, nem sequer se dignou participar no debate, por ter plena consciência de que o saque é tanto mais eficaz quanto menos balado for. A Endesa, representada pelo presidente, não teve qualquer pejo em exibir nas suas diversas intervenções a mais descarada desonestidade intelectual, escamoteando por sistema o que verdadeiramente estava e está em jogo, enquanto Carlos Pimenta, representando as renováveis, mais uma vez fez alarde dos seus dotes demagógicos aqui apoiados numa pretensa e falsa preocupação económico-ambiental, um e outro apoiados por um apatetado professor que, como todos os néscios, teve a virtude de tornar mais claro, por ser para ele evidentemente defensável, o que os outros dois pretendiam esconder.
Mas a questão da energia serve também para demonstrar como funciona verdadeiramente o neoliberalismo: eliminação dos direitos de quem trabalha em nome da produtividade e de outras tretas do género e correspondente consolidação dos interesses do capital com base no saque e na exploração. E serve também para evidenciar, para quem ainda tivesse dúvidas, como é que os recém nomeados representantes chineses no conselho de supervisão da EDP entendem a actividade económica em Portugal, ou seja, o que verdadeiramente quer dizer “viver acima das possibilidades”.
Viver acima das possibilidades é ser titular de direitos e de rendimentos que urge eliminar, drenando os réditos resultantes dessa eliminação directamente para o capital e seus lacaios
Quem, como eu, não viu o debate, não fica muito esclarecido com o poste...
ResponderEliminarDesculpe.
A.M.
Não adianta estar com grandes exlicações e menos ainda com a descrição do debate, que certamente poderá ser encontrado no site da RTP. O que interessa sublinhar é que uma das actividades mais lucrativas, se não mesmo a mais lucrativa, da economia portuguesa é subsidiada pelo Estado. E que se não houver uma revisão drástica dos contratos existentes será o país que ficará durante muito anos refém destes actos verdadeiramente criminosos. Entendido, agora?
ResponderEliminarjm correia pinto, não vi mas percebi perfeitamente; qd dá jeito subsidiam, quando dá jeito privatizam e às vezes tb. privatizam subsidiando
ResponderEliminar:-)
Ouvimos o tema a ser tratado pelos salteadores, era interessante a perspectiva dos assaltados...
ResponderEliminarSeu texto tem a síntese do essencial só que o essencial foi um degladiar de interesses em linguagem bronca e fechada (para se perceber pouco, ou nada)