A NOVA LUZ QUE VEM DA
HÉLADE
É com satisfação que se constata que uma parte já
considerável da opinião pública europeia, portuguesa incluída, recusa hoje a
bárbara afirmação de que “Nós não somos a Grécia”. Quando aqui
há cerca de três anos nos opusemos a esse maniqueísmo bacoco e provinciano,
como era o caso dos que entre nós repetiam esse slogan convencidos de pertencerem a uma classe de gente superior
desta hipócrita Europa, ou a essa nova forma de racismo baseada na pretensa
laboriosidade dos povos, como era o caso dos alemães, estávamos, com os mesmos do costume, praticamente
isolados, tal a torrente propagandística que a partir
de Frankfurt e de Berlim varria literalmente a Europa numa campanha desenfreada
contra os gregos como há muito se não assistia.
É claro que essas vozes podem continuar e
seguramente vão continuar a imputar à Grécia todas as responsabilidades pela
crise do euro. Um dia destes até se deu o caso de uma besta do PSD indígena, ao
que dizem deputado ao Parlamento europeu, ter chegado à conclusão de a Grécia
não passar de uma ficção – “É um país
inventado; era uma província do Império Otomano”!, disse tal avantesma. Podem
continuar a dizer o que disserem, mas de uma coisa eles podem estar certos: cresce
cada vez mais o número de pessoas que olha para a Grécia de outra maneira. Que
reconhece, compreende e apoia a luta do povo grego contra a tirania imposta por
Berlim e Bruxelas.
Mais ainda: cresce também na Europa o número de pessoas que
não está disposta a aceitar na sua terra uma situação idêntica à que impuseram
à Grécia. Quando aqui há cerca de três anos se defendeu neste blogue a “união
dos devedores” contra os agiotas e os especuladores internacionais, bem como
contra os seus lacaios de serviço nos diversos governos da União, aquele apelo
mais não parecia do que um simples grito de revolta contra uma fatalidade
inevitável.
E também quando aqui sempre se disse, mesmo contra a opinião
de gente bem-intencionada, que a chamada crise da dívida mais não era que uma
crise do euro, agravada pela crise financeira internacional, condenada mais
tarde ou mais cedo a ocorrer, independentemente das políticas nacionais, como
consequência inevitável da própria natureza do euro, eram ainda muitos os que
achavam mais fácil imputar as causas da crise aos desvarios (e outras coisas
piores) dos diversos governos por mais diferentes que tivessem sido as
respectivas políticas nacionais do que a factores que uma análise serena,
racional, rapidamente evidenciaria.
Pois também hoje se consolida na Europa a convicção de que a
“crise da dívida” é uma crise do euro, sendo já muitas as vozes influentes que
entendem que tal crise, como fenómeno europeu que é, só poderá encontrar
solução numa resposta europeia que atenda com equidade aos diversos interesses
em jogo.
Ainda ontem, por exemplo, uma conhecida figura do PSOE, com
papel de relevo na política espanhola no tempo de González e de Aznar,
insuspeito de simpatias esquerdistas, presidente da Junta da Extremadura
durante vários mandatos, veio publicamente reconhecer que a crise espanhola é
uma crise financeira, provocada pela situação dos bancos, potenciada e agravada
pela natureza do euro, cabendo à Espanha apenas em parte solucioná-la; a outra
parte cabe à Europa. E conclui com uma tirada que para um “moderado”, como a
imprensa bem pensante gosta de catalogar estas pessoas, não pode deixar de ser
muito elucidativa do ponto em que as coisas já estão. Diz Rodríguez Ibarra: “A penitência que nos está sendo imposta pelos países que tomaram a direcção da Europa não só é totalmente ineficaz como injusta. E se a Espanha, juntamente com outros países, decidisse terminar este calvário, ameaçando-os com el portazo”?
Ou seja, e se a Espanha e outros que se encontram na mesma situação decidissem
bater coma porta?
É por isso que tem também crescido na Europa o repúdio pelas
inacreditáveis declarações reiteradamente proferidas por Barroso sobre as
eleições gregas, bem como pelas vergonhosas pressões que Merkel e os seus
ministros têm feito sobre os governantes e sobre o próprio povo grego.
E já nem sequer falamos da queles que entre nós acusam de
chantagem os partidos gregos que se querem libertar da tirania da Troika e da
prepotência alemã. Esses falecidos da história que já andaram por todo o lado ao
sabor oportunista dos ventos que sopram nem sequer são dignos de menção. Vão
acabar como começaram: na União Nacional dos nossos tempos, onde aliás já
estão!
Oxalá, os gregos consigam resistir porque será do resultado da
sua luta que vai depender o futuro próximo da Europa!
Antes deste post tinha acabado de ler o Causa Nossa e estava enojado.
ResponderEliminarIsto fez-me bem melhor que Kompensan S
V
Tem razão o senhorito espanhol, o actual problema da banca espanhola não existiria, pelo menos com a dimensão que tem, sem o euro, por uma razão muito simples não tinha crédito para tal. Mas o senhorito nunca se interrogou sobre isso mesmo quando a tralha que os governou, ele incluído se calhar, se ufanava de ter uma produção de construção imobiliária (o tal ladrilho) superior à da França, Inglaterra e Alemanha juntas, 4 milhões de imigrantes etc. etc. (tanta riqueza....como por cá)?. Ter-se-à interrogado sobre o futuro que a gestão da famosas Cajas (e não só) traria aos espanhóis enquanto elas iam alimentando o frenesim da partidocracia local e regional, incluindo a gigantesca corrupção que se tem vindo a descobrir?, Pois não, só agora!
ResponderEliminarLG