segunda-feira, 21 de maio de 2012

A “INDEPENDÊNCIA” DO BCE



O CASO ESPANHOL



Como se sabe uma das imagens de marca do Bundesbank, que depois se espalhou pela Europa, a ponto de ter moldado a natureza do BCE, é a sua independência.

Os bancos centrais têm de ser independentes, dizem os alemães, e preocupar-se apenas com o valor da moeda.

Um dos nossos primeiros neoliberais, muito conhecido, já falecido, até dizia que o dinheiro deveria ser como o poder judicial – independente!

Só lhe faltou afirmar que, dada esta intrínseca natureza do dinheiro, deveria a sua atribuição fazer-se por concurso público àqueles que melhor a soubessem preservar. Mas aí eles não chegam…

Vem tudo isto a propósito da actuação de Rajoy na recente cimeira da NATO, em Chicago.

Na cimeira do G8, realizada no dia anterior em Camp David, Hollande considerou desejável que a banca espanhola fosse recapitalizada com o apoio dos mecanismos financeiros europeus.

Claro que Rajoy ficou furioso. A Espanha que, tanto com Zapatero como com Rajoy, tem reiteradamente mentido sobre a calamitosa situação do seu sistema financeiro não gostou nada que lhe tivessem exibido em público as suas fragilidades.

E menos gostou ainda já está a pagar as consequências do grito bárbaro por lá tantas vezes ecoado do: “Nós não somos a Grécia!”.

Para tentar sair da situação em que se encontra – insustentável se os juros se mantiverem ao nível a que já estão durante mais uns dias -, Rajoy foi pedir a Merkel que autorize o BCE a fazer empréstimos a longo prazo aos bancos ou a comprar obrigações da dívida pública espanhola no mercado secundário ou ambas as coisas.

E assim, com o beneplácito de Merkel, se mantém e se garante a independência do BCE!


4 comentários:

  1. Mas, vamos lá ver, a "independência" é um fim ou um meio para o objectivo fixado: estabilidade dos preços?
    Nunca li os estatutos do BCE ou BB, mas é o que tenho ouvido/lido.

    A interferência "boa/germânica" nessa independência prejudica o objectivo? Parece que não. Algures nos anos setenta o franco/marco andava na razão de 5/7 (+-), quando da criação do euro já era à volta de 1/3, portanto...
    É evidente que isto é uma constatação e não um juízo sobre a bondade do tal objectivo.
    Isto é um bocado como o argumento de que a violação das regras de Maastricht começou pela Alemanha e França. Vale como argumento mas escapa à essência da coisa.

    LG

    ResponderEliminar
  2. o problema é que Espanha e a Itália é que assustam a Merkel...

    ResponderEliminar
  3. Anda por aí muito pessoal a desviar as atenções... dum problema que salta à vista:
    - Porque é que não foi dado o alerta?!?

    Era óbvio que, quando rebentasse a bolha imobiliária, tal iria ter consequências muito nefastas para o país... todavia, no entanto, enquanto a economia ia crescendo 'alegremente' com a bolha... muitos economistas forma impedidos, pela comunicação social, de dar o alerta para os perigos do DESENVOLVIMENTO ECONÓMICO NÃO SUSTENTÁVEL promovido pela bolha imobiliária - 'Ratoeiras Economisticas' organizadas por economistas ao serviço de 'Bilderbergos'.

    ResponderEliminar
  4. "- Porque é que não foi dado o alerta?!?"

    Alguns dos grandes culpados foram os Bancos Centrais que não cumpriram as suas funções de regulação. Em Espanha tão mal como em Portugal. Tanto que a UE considerou o Banco Central de Espanha inapto para a realização de auditorias aos bancos em dificuldades e exigiu a contratação de consultorias independentes (se calhar serão ainda um bocadinho menos independentes do que o Banco de Espanha mas enfim).

    ResponderEliminar