E ACREDITA QUE O PS NÃO
SE VAI PÔR DE PARTE
Num estilo dialogante, sem agressividade e aparentemente
cordato, Paulo Portas encerrou pelo lado do Governo o debate parlamentar, sendo
de destacar na sua intervenção três notas:
1) Aliciamento do PS para participar nos “cortes estruturais
da despesa” sem revisão constitucional;
2) Revisão (suave) do posicionamento português na Europa;
3) Justificação do sentido de voto do CDS e da manutenção da coligação.
Todo o discurso de Portas, seja no que respeita à revisão das
funções do Estado, seja no aliciamento do PS como aliado, seja ainda no posicionamento
de Portugal na Europa, constitui uma crítica implícita, mas muito perceptível,
a tudo o que Passos e Gaspar têm feito nestes últimos tempos. Uma crítica
também ao discurso do PSD que antecedeu a sua intervenção, feito por esse fundamentalista
perigoso chamado Carlos Abreu Amorim. Ao apontar um novo estilo para a intervenção
de Portugal na Europa e ao criticar a divisão Norte/Sul, Portas critica
implicitamente o alinhamento cego de Gaspar e de Passos com Merkel, bem como o
modo como têm sido conduzidas as negociações com a Troika.
Finalmente, na justificação, também implícita, do voto do CDS e
da sua manutenção no Governo, Portas aponta, como fundamental, a “reforma do
Estado Social”, sem dúvida o ponto mais importante para o CDS. Paulo
Portas e o seu partido estão profundamente empenhados na redução da despesa do
Estado, o mesmo é dizer na revisão profunda das funções do Estado,
principalmente na Saúde, na Educação e na Segurança Social. Basta atender ao
que tem sido a política do CDS à frente do chamado “Ministério da Segurança
Social e da Solidariedade” para imediatamente se perceber que tipo de segurança
social e de solidariedade o CDS reserva aos portugueses. Quanto à saúde, a conversa inicial vai
seguramente apontar no sentido da quebra da universalidade do SNS com base no
estafado argumento, mas sempre muito eficaz, de que só quem precisa deve ter
cuidados de saúde gratuitos ou por baixo preço. Todos os demais devem pagá-los,
mediante a constituição de um seguro de saúde. E aduzirá em defesa da sua tese o
interesse das classes médias no abaixamento dos impostos. Na Educação, a
conversa será parecida. Para além do básico, que será gratuito, quem continuar
a estudar deverá contribuir através de um co-pagamento para atenuação da
despesa do Estado. Simultaneamente, subsidiar-se-á a escola privada,
colocando-a tanto quanto possível numa posição de igualdade com a escola pública,
para que os alunos “possam escolher”. Ou seja, defenderá a destruição da Escola
Pública. Na Segurança Social, a receita também é conhecida, fixar-se um tecto
máximo (relativamente baixo) para as pensões, para a contribuição das quais serão chamados
os patrões (em percentagem muito inferior à que agora pagam) e os trabalhadores
com uma taxa fixa (ou eventualmente proporcional, se o tecto for baixo),
devendo quem quiser assegurar pensões mais confortáveis fazer os seus planos
privados de reformas no sector privado (seguradoras).
É para isto que Portas e o CDS querem aliciar o PS. Claro que
se o PS se deixar aliciar, como muitos pensam que inevitavelmente acabará por
acontecer, o “compromisso” será presentado de outra maneira. Mas é disto que
realmente se trata qualquer que seja a cosmética utilizada. Veremos então se o
conteúdo do “compromisso histórico” de que Assis tanto fala será este ou se
será outro…
sim.
ResponderEliminarnamora-se à direita e à esquerda, para manter o poder, por mais curto e banal que possa parecer...