sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

O DESLIZE DE LOBO XAVIER




 
UM EPISÓDIO DA QUADRATURA DO CÍRCULO
 
Ontem, na Quadratura do Círculo, António Costa e Pacheco Pereira não tinham dúvidas de que o famoso “regresso aos mercados” tinha sido feito com muitos apoios e devidamente apadrinhado pelo BCE sem a garantia do qual ninguém teria comprado os títulos.
Lobo Xavier que durante todo o programa se não cansou de fazer a propaganda do Governo sempre naquele estilo de quem não está a fazer a defesa por encomenda mas a explicar aos néscios o que eles não conseguem ver, apesar de ser evidente, disse, embora não necessariamente  pelas palavras a seguir transcritas, o seguinte:  
A garantia do BCE só serve para os credores "institucionais" (na gíria dos "mercados" os “institucionais” são os bancos e as demais empresas financeiras), não para os outros credores. Ora, o que se sabe é que o empréstimo que Portugal pôs no mercado só numa pequeníssima parcela foi subscrito pelos bancos. A maior parte foi subscrita por credores não institucionais de vários continentes! E estes não podem ir ao BCE reclamar o pagamento dos títulos.
Os outros dois calaram-se, apesar da natureza pueril do argumento. Como é que as coisas realmente se passam? É assim: Se tudo estiver a correr bem, os credores vão recebendo os juros e mais tarde o capital na data prevista. Se as coisas correrem mal, ou se eles suspeitarem que poderão correr mal ou ainda se precisarem do dinheiro antes do vencimento, o que obviamente vão fazer é vender esses títulos aos “institucionais”, ou seja, aos bancos. Por que preço? Certamente pelo preço do mercado que será naquelas circunstâncias um preço inferior ou até muito inferior ao valor nominal dos títulos. E os bancos não terão qualquer problema em fazer este negócio com o qual ganharão seguramente muito dinheiro. Porque como o BCE garante esses títulos, os bancos quando pedem dinheiro emprestado ao Banco Central, ao juro que todos conhecemos (cerca de 1%), poderão dar como garantia do empréstimo concedido  esses títulos da dívida pública portuguesa que compraram no mercado secundário.
E como os compraram por um preço inferior ou muito inferior ao seu valor nominal acabam por  receber um juro muito superior  àquele por que foram postos no mercado primário, e além disso terão a certeza de que no vencimento o Estado Português terá dinheiro para os amortizar…ou não estivesse lá o BCE a garantir esse pagamento.
E assim se vê como são pueris e falaciosos os argumentos daqueles que pretendem fazer crer que a confiamça dos "mercados" é tanta que a maior parte dos títulos até foi comprada por quem os não pode descontar no BCE. De facto, quer os títulos sejam comprados no mercado primário por investidores "não institucionais", quer sejam comprados por instituções financeiras é sempre muitíssimo importante para o "sucesso" da operação saber que o BCE está por trás, apesar de os "não institucionais" não poderem descontar os títulos directamente no Banco Central. Poderá o banco que a seguir os comprar e ..fará certamente um bom negócio.
E este simples exemplo serve também para demonstar que, tal como as coisas estão hoje, quem no fim acaba sempre por ganhar é o capital financeiro!


2 comentários:

  1. Atenção: o texto tinha uma gralha já corrigida. "Os bancos acabam por receber um juro superior..." e não "os bancos acabam por não receber um juro superior", que era a redacção que por um lamentável lapso lá esteve durante uns minutos

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