quinta-feira, 28 de março de 2013

AINDA SÓCRATES

 
 
 
O QUE INTERESSA É O FUTURO
José Sócrates quebrou ontem o silêncio em entrevista à RTP e atacou Cavaco Silva, a quem responsabilizou pela crise política que levou à queda do seu Governo
 
 
Uma das matérias que a matilha de comentadores tem abocanhado com indesmentível prazer é o episódio “Sócrates/Teixeira dos Santos” a propósito do recurso à chamada “ajuda externa”.
Diz a matilha que Sócrates está a distorcer a realidade sobre a vinda da Troika e sobre a sua divergência com Teixeira dos Santos a propósito deste assunto.
Talvez convenha recordar como a história se passou. Sócrates não queria o FMI em Portugal, disse-o várias vezes, até chegou a dizer que não estava disponível para governar com o FMI. Acreditava, talvez ingenuamente, numa solução como aquela que mais tarde veio a ser adoptada para Espanha. Mas com o chumbo do PEC IV, os juros altíssimos e sem fontes de financiamento a que recorrer, acabou por pedir, já em governo de gestão, o resgate.
O contexto em que isto aconteceu foi o seguinte: Sócrates ainda estava resistindo, apesar da euforia da direita que clamava pela intervenção estrangeira (ver, ouvir e ler declarações da época de Passos Coelho, Frasquilho, Moedas e Eduardo Catroga, entre vários outros), da pressão dos banqueiros assustados com a falta de liquidez (eufemismo para evidenciar a falência por cessação de pagamentos), quando Teixeira dos Santos, depois de umas prévias declarações “desalinhadas” e comprometedoras, decidiu (ou melhor, obedeceu) declarar inevitável a “ajuda externa” na sequência de uma reunião em Frankfurt. Posto perante o facto consumado de Teixeira dos Santos, Sócrates já nada poderia fazer.
Claro que Sócrates não apresentou assim os factos, mas compreende-se que o não tenha feito, qualquer que tenha sido a razão determinante por que o fez. Ou por querer manter a solidariedade governamental e não querer imputar ao seu Ministro das Finanças a responsabilidade exclusiva pela decisão; ou porque sendo ele o PM, posto que já então muito fragilizado, lhe ficaria mal declarar-se publicamente ultrapassado por um ministro seu.
Esta não é uma daquelas mentiras políticas que deslustre. Muito mais grave, muitíssimo mais, é ter havido em Portugal quem publicamente tudo tivesse feito para ter a Troika cá. Em qualquer outro país, a começar aqui pela vizinha Espanha, quem se vangloriasse ou, mesmo sem se vangloriar, tivesse solicitado a intervenção estrangeira nunca mais lá teria qualquer futuro político.
Em Portugal, isso infelizmente não conta ou conta muito pouco…
Sócrates depois desta longa entrevista deve dar por encerrado o passado e tratar apenas e só do futuro. Hoje os portugueses acharam graça, mas a partir de amanhã o que querem é saber se ele tem algo diferente a dizer e a propor para o futuro do país. E tem de ser mais específico. Se disser: "Esta austeridade é uma loucura que nos está a desgraçar", toda a gente concordará, mas o que a seguir terá de acrescentar é o que fazer caso os seus “amigos” da Europa discordem da ideia…que é o que seguramente farão. Que fazer nesse caso? Se Sócrates não vier para responder a esta pergunta, as coisas não lhe vão correr como ele pensa…


1 comentário:

  1. Se a seguir acrescentar outra das suas, digamos, memórias: "Para pequenos países como Portugal e Espanha, pagar a dívida é uma ideia de criança.", continuará mitómano e pior,... com fervorosos seguidores.

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