A VELHA TÁCTICA
Quanto mais brutal é a ofensiva mais necessidade há de a
disfarçar através de manobras de diversão variadas, todas elas engendradas com
o objectivo claro de distrair as atenções do essencial de modo a evitar uma
rejeição espontânea e unânime como a que ocorreu em 15 de Setembro do ano
passado com a TSU.
Na passada sexta-feira Passos Coelho anunciou as linhas
programáticas, mais ou menos concretizadas, da incidência do brutal corte de
despesa pública que o Governo se prepara para pôr em prática, indo mais uma vez
muito além do muitíssimo que já era exigido pela Troika.
Para atenuar o efeito psicológico desta verdadeira declaração
de guerra aos portugueses, feita em nome e na defesa dos interesses dos
credores estrangeiros e daqueles que cá dentro mais têm beneficiado da
austeridade – Bancos, EDP, Galp, usurários das PPP, etc. –, o Governo,
seguramente assessorado pelos profissionais das agências de
manipulação, pôs em prática, antes, simultaneamente e logo a seguir ao anúncio
daquelas medidas, três tipos de acções todas elas destinadas ao mesmo
objectivo: desviar as atenções do essencial e fazer crer às pessoas que está a
chegar um tempo novo, diferente do que elas infelizmente conhecem.
Primeiro, foi o programa de crescimento do Álvaro, encenado
com tanto cinismo que até o próprio Álvaro parecia convencido da sua veracidade
e viabilidade.
Depois, foram os comentários dos ex-presidentes do PSD, logo
seguidos por uma matilha que obedientemente lhes fareja o rasto, tentando fazer
crer que a influência maléfica de Gaspar sobre a economia tinha os dias
contados. É preciso de facto uma grande "lata" para no preciso momento em que Passos
e Gaspar voltam a anunciar mais um brutal ataque contra os portugueses e a
economia nacional haver quem diga que a política vai mudar. E o descaramento
destes comentadores é tanto mais revoltante quanto é certo eles saberem que não
se trata de um ataque pontual, destinado a vigorar este ano ou no ano que vem,
mas de um ataque estrutural, para ficar.
Finalmente, a rábula de Portas objectivamente ao serviço da
mesma encenação. Não se vai ao ponto de afirmar, como alguns fazem, que se
trata de uma manobra combinada com o parceiro de coligação, porque isso
significaria dar trunfos a um concorrente eleitoral, posto que situado na mesma
área. Mas trata-se indiscutivelmente de uma manobra eleitoralista, cujos
efeitos na consistência da coligação e na sua política estão milimetricamente
calculados. De facto, Portas concorda com o essencial, em cuja definição
política aliás colaborou intensamente, estando apenas disposto, pelas razões
indicadas, a limitar alguns dos exageros mais gritantes das propostas da dupla
Passos/Gaspar. E mesmo assim vamos ter que esperar para ver até onde vai essa “fronteira”
de que ele falou. Uma coisa, porém, é certa, a intervenção de Portas serve, tal
como os comentários de Marcelo/Marques Mendes, os objectivos essenciais da
política de austeridade e visa, tal como aqueles comentários, diminuir a resistência
popular às medidas anunciadas com cuja concretização concorda em mais de 85%!
Portas quer tanto ou mais que o PSD que a coligação se mantenha e tudo o que
até agora tem feito, sob a capa da pseudo divergência, visa aquele objectivo
que ele logra alcançar de uma forma, digamos, mais inteligente.
Perante isto, o PS bem pode continuar a “bater” nas divergências
entre o PSD e o CDS e na falta de consenso entre os parceiros de coligação.
Eles podem bem com isso, apesar de alguns danos colaterais que este “jogo” lhes
causa. Mas que importância tem os danos colaterais face àqueles que de outro
modo atingiriam, com as consequências que se conhecem, o próprio Governo na sua
essência?
Compreende-se que o PS faça a sua luta na periferia do
essencial, já que a sua margem de manobra é muito escassa: por um lado, defende
uma política que não depende de si, mas de terceiros, e, por outro, aceitou
aprovar um tratado que coloca em pé de igualdade com as ideologias proibidas –
fascismo, racismo, etc., - o neokeynesianismo na condução das políticas
económicas públicas! É muito…
A cáfila de comentadores de serviço em geral e o Marcelo e o Mendes em particular, deixaram cair a máscara. O papel de que está incumbido o M Mendes é, simplesmente, nauseante.
ResponderEliminarLG
Certo.
ResponderEliminarNão basta ter razão.
Que fazer para lá do sonho urgente
de varrer a canalha?