segunda-feira, 3 de junho de 2013

A AULA MAGNA, A INCOMODIDADE DO PS E A REACÇÃO DA DIREITA


O QUE PRETENDE SOARES

A direita pela voz dos seu principais comentadores “independentes”, dos sectores mais reaccionários do CDS e dos militantes do PSD próximos do Governo não se tem poupado a esforços para atacar Mário Soares pelo seu papel na realização da conferência “Libertar Portugal da Austeridade” e de elogiar Seguro pelas distâncias que soube manter relativamente a um evento de duvidosa credibilidade.

Soares é atacado por ter tentado e de algum modo conseguido reunir a Esquerda (PS, PCP, BE, centrais sindicais e personalidades independentes) contra a política de austeridade, mas é acima de tudo atacado por ter defendido a tese de que o Governo em funções, suportado por uma maioria parlamentar regularmente eleita, não é legítimo, devendo, por isso, ser derrubado, sem simultaneamente deixar de responsabilizar o Presidente da República por tudo o que possa acontecer por omissão de exercício dos poderes constitucionais que lhe permitem, por uma dupla via, pôr termo a este Governo.

Seguro, pelo contrário, é muito elogiado por não ter estado presente, bem como os dois outros membros da Troika do PS, por ter sabido desgraduar a representação do partido, fazendo-o representar por uma personalidade política pouco conhecida do grande público a quem terá incumbido de proferir um discurso baço e descomprometido.

Soares é um político muitíssimo experimentado a quem a idade, em princípio vulnerável aos afectos, e a saúde, debilitante da vontade, não retiraram um pingo de frieza na acção política, actuando hoje como sempre actuou nos “anos dourados” da sua intervenção partidária. Soares percebeu, para lá de todas as críticas que possa fazer a Cavaco, que o grande “responsável” pela manutenção em funções do Governo de Passos Coelho…é o Partido Socialista.

Se o Partido Socialista se não afirmar como uma verdadeira alternativa ao Governo em funções, se não apresentar uma proposta credível aos olhos dos portugueses, se pelas ideias que vai expondo não gerar no seio da sociedade portuguesa a convicção de que algo substancialmente diferente se vai passar a seguir, o PS não será agora nem mais tarde um partido em que os portugueses confiem para suceder ao PSD/CDS. E Soares sabe que numa situação destas dificilmente se poderá esperar que um Presidente da República como Cavaco, timorato no exercício das funções e muito ligado à direita, demita o Governo se não tiver a certeza de o resultado das eleições lhe trazer uma situação significativamente diferente da que agora existe.

Ora, parece ser isto o que Mário Soares pensa do seu partido e da sua liderança, paternal e simpaticamente, qualificada de frouxa e hesitante. E por também não acreditar que, sem pontes à esquerda, o PS esteja em condições de liderar uma verdadeira rejeição da austeridade, propõe-se ele próprio fazer aquilo que antecipadamente sabe não poder ser feito pela direcção do seu partido.

Mas Soares sabe mais. Sabe que o namoro que a Troika do PS – Seguro, Assis e Costa - tem feito à direita, nomeadamente ao CDS, seria, em tempo de crise, fatal para o futuro do partido se se viesse a concretizar.

Para evitar semelhante desfecho, Soares sob a capa de falsos elogios tem tentado desacreditar Portas, quer pela via da corrupção, quer pela via da ausência de coragem política, quer ainda evidenciando a duplicidade do político que toma iniciativas condizentes com as medidas mais nocivas do Governo ou em cuja execução colabora com entusiasmo e simultaneamente tenta fazer crer que delas discorda para desse modo manter a sua base de apoio eleitoral.

Quererá isto dizer que Soares preconiza uma aliança à esquerda? O que parece claro é que Soares quer rejeitar a política de austeridade, não sendo evidente o percurso que pretende seguir para lá chegar e quer a todo o custo evitar que antecipadamente se crie no eleitorado a convicção de que o PS pretende governar coligado com a direita.

No bom estilo de Soares, o que vem depois logo se verá. Por agora o que é preciso é derrubar o Governo, rejeitar a política de austeridade e criar uma dinâmica que leve o povo a acreditar que isto é possível. Por outras palavras, o que é preciso é tentar insuflar no PS uma alma que ele manifestamente não tem.

O PS, a Troika do PS, ao contrário de Soares, o que verdadeiramente quer é começar por fazer umas “cócegas” à austeridade, mantendo-a no essencial presente, bem como os instrumentos e as políticas que a suportam, aguardando que uma mudança na Europa venha a abrir um caminho que por agora está fechado. E sabem, o PS e a sua Troika, que a este “programa mínimo” o CDS se não oporá, mantendo-o portanto em reserva para uma eventual aliança, sem sequer sopesar as consequências da rejeição desta hipótese pelos elementos mais reaccionários do CDS menos dados a jogos tácticos, como Nuno Melo e outros… 

Em resumo: Soares pretende criar uma dinâmica que leve ao derrube do Governo. Sabe que essa dinâmica tem de assentar no PS, mas sabe também que essa dinâmica só poderá existir se tiver na Esquerda a sua base propulsora. Tem ainda por certo que a convergência necessária para a criação dessa dinâmica é a luta contra a austeridade. Como será a seguir, isso se verá depois…

 

5 comentários:

  1. Clarividente , como sempre, com a pelicas os iiiiis no sítio certo.

    Abraço.
    Ana

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  2. "E sabem, o PS e a sua Troika, que a este “programa mínimo” o CDS se não oporá..."

    Mas Sócrates vai mais longe e define um leque que "namora" franjas "desencantadas" PSD. O comentário do comentador foi um espanto: conciliatório entre a iniciativa de Soares e as posições de Seguro. Sócrates dá para tudo!

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  3. ... entretanto...

    o país não vai esquecer Soares
    nos escaparates da sua Fundação
    porque tudo se move

    até o pó

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  4. Mas afinal o que estava a fazer o PCP na A. Magna ao lados, e a fazer coro, com um dos grandes responsáveis da situação a que o país chegou? Por ventura pensará o PCP que vai tirar algum lucro, ou o país, das iniciativas dessa gente? Todos na A. Magna contra o governo e lá fora o psd a fazer um acordo com o ps para não serem incomodados judicialmente os ministros com eventuais culpas na má administração dos bens do Estado, "swaps" ou lá o que é.Alguma credibilidade que o PCP ainda tinha, que vinha do tempo do Dr. Álvaro Cunhal, vai-a perdendo nestas companhias, ficando-se com a sensação que este partido já deixou de lutar por causas e que qualquer companhia lhe serve, tudo levando a crer que, afinal, a "boyada" atravessa todo o espectro partidário...

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  5. O dr Soares quer o derrube do desgoverno
    sem eleições antecipadas
    Não entendo
    ou melhor entendo

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