O QUE PENSAMOS NÓS DO PS
O que pensa o PS da presente crise não é uma pergunta de
fácil resposta. Quem ouve ou lê Mário Soares acha que o PS ficou muito
satisfeito com a humilhação a que Presidente da República sujeitou Paulo Portas
e também Passos Coelho na comunicação que fez ao país por nem sequer se ter
referido à proposta de remodelação governamental que este último lhe
apresentara no dia anterior. Mas quem se recordar do que Mário Soares disse
quando começou a bater forte neste Governo e na passividade do Presidente da
República, a quem acusava de não ser um Napolitano, não pode deixar de
perguntar se esta iniciativa de Cavaco não passará a ser bem vinda se tiver por
objectivo último a constituição de um governo de “salvação nacional”.
Se esquecermos Mário Soares e nos recordarmos das declarações
de José Sócrates no domingo passado – Sócrates o dirigente socialista que
depois de Soares mais marcou o partido – somos levados a pensar que, para além
da humilhação que a intervenção de Cavaco representou para o governo e da
situação indigna em que (essa mesma intervenção) colocou o Primeiro Ministro, a
proposta do Presidente da República é inaceitável para o PS. Diz ainda Sócrates
que, depois de se ter mancomunado com o Governo e ter constatado o descalabro a
que este conduziu o país, o que Cavaco agora pretendia era oferecer ao PS uma
pá para que este, juntamente com o PSD e o CDS, continuasse a escavar, aprofundando a austeridade.
Manuel Alegre diz que a proposta de Cavaco visa ”entalar” o
PS enquanto o “comentador” Santos Silva acha que quem quer “entalar” o PS é o
Partido Ecologista “Os Verdes”.
Já João Galamba diz que as negociações em que o PS está
participando não podem conduzir a nenhum acordo…porque o Presidente da
República está pedindo ao líder do PS que se suicide
De Seguro nada ou muito pouco se pode dizer. Depois da
comunicação de Cavaco esteve silencioso ou até talvez incontactável, tendo a
posição do PS ficado resumida a um lacónico comunicado lido por Alberto Martins
do qual resulta, em síntese: a exigência de eleições antecipadas sem definição de prazo; a nula
disponibilidade para apoiar a actual ou qualquer outra solução governativa no
presente quadro eleitoral; a exigência da extensão do convite do PR para negociações
ao PCP e ao BE, aceitando como boa a resposta de ambos independentemente da
formulação do convite; e, finalmente, a firme disposição de não participar em
negociações com o Governo.
Com excepção de Sócrates e de Galamba, que foram claros na
indisponibilidade do PS para participar em qualquer acordo com a direita e da
recusa de “cortes” no Orçamento para cumprimento do já acordado com a Troika por
Passos e Gaspar, tudo o resto é muito obscuro e não deixa qualquer garantia ao
cidadão comum nem daquilo que o PS anda a fazer nas conversas com o CDS e o PSD
nem daquilo que o PS realmente quer fazer.
De facto, o PS oficial apenas se pronunciou sobre questões
processuais com a firmeza que se lhe reconhece sempre que a direita aperta com
ele. Maria Luís Albuquerque e Carlos
Moedas, dois membros influentíssimos da política de terrorismo económico do Governo
bem como Poiares Maduro, recém-empossado Ministro da Propaganda, fazem parte das
negociações desde ontem, embora não estejam certamente a falar com o PS porque
o PS não negoceia com o Governo. Por outro lado, as conversações que o Bloco
propôs ao PS tiveram apenas uma ronda porque o PS, neste momento grave que o
país atravessa, não entra em jogos partidários…
( e lá ficou o rabo todo de fora: sim, as conversas que está ter com os outros
não partidárias, são com membros do governo; enfim, outra respeitabilidade…).
Quanto às questões de fundo conhecem-se as pressões dos
patrões (pedem acordo, que acordo?), dos banqueiros (esses, a gente sabe o que eles
querem), da UGT (que acordo quer a UGT?), de Ramalho Eanes (que parece querer o
que quer Cavaco) e da matilha de comentadores a soldo da Troika e do capital
financeiro.
Perante este quadro, agravado pelo silêncio do PS sobre as
questões substantivas, diz a experiência que o PS dificilmente resistirá às
pressões da direita. Dizem certos comentadores independentes que um acordo representaria
o suicídio de Passos ou de Seguro, consoante o seu conteúdo; a Portas não se
referem certamente porque a experiência demonstra que dá para os dois lados. Pois
bem, o provável suicídio de Seguro levaria a que o acordo se fizesse, fosse
respeitado e depois o PS lavasse a alma correndo com ele.
Perante este silêncio, esta tentativa de excluir os
principais interessados dos assuntos que lhes dizem directamente respeito e a respeito
dos quais não passaram procuração a ninguém, absolutamente a ninguém, para deles
tratar e, muito menos, sobre eles decidir, os portugueses começam a inclinar-se
para a hipótese destas negociações sair um acordo que confirme na totalidade ou
em parte (este ano) o corte já negociado com a Troika com a promessa, como
contrapartida, do os partidos subscritores – os partidos da Troika – se empenharem
conjuntamente na renegociação de certos aspectos do Memorandum que enunciarão. Ou
seja, primeiro farão o que eles querem e o que Cavaco e Carlos Costa exigem e
depois …bem, depois far-se-á o que a Troika ou os “patrões da Europa” decidirem.
O P.S. não merece... dizia O'Neill.
ResponderEliminarAinda não deu o traque... mas já cheira mal (digo eu).
Visto por este prisma, que está deveras bem documentado, o P.S. pensa, embora fosse entendimento meu que apenas se movia numa única direção, como as mulas. O que eu tenho para aprender!
ResponderEliminarJosé Luís Moreira dos Santos
www.youtube.com/watch?v=BNR_yrpq_Pk
ResponderEliminarVocê enganou-se! Um abraço
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