quinta-feira, 11 de julho de 2013

VAMOS LÁ VER SE NOS ENTENDEMOS



A PROPOSTA DE CAVACO



A proposta de Cavaco não serve o programa da esquerda. Aliás, nenhuma proposta saída de um acto eleitoral a realizar nestes próximos tempos serviria o programa da esquerda. Isso não significa que esta proposta (a proposta de esquerda) não encerre grandes virtualidades, não seja a que melhor acabará por servir os interesses dos portugueses e não possa encontrar por outras vias a legitimidade democrática necessária para poder ser posta em prática.

Essa ideia de que a legitimidade decorre de eleições e que por via delas se pode depois fazer tudo, nomeadamente executar um programa contrário às promessas eleitorais, pôr em prática uma política que não serve os interesses nacionais mas apenas os dos credores estrangeiros e das oligarquias locais identificados com esses interesses, é uma ideia que começa a perder terreno em muitas partes do mundo, inclusive nos Estados Unidos.

É óbvio também que a aceitação, sem mais, desta encerra indiscutíveis perigos  pelos abusos e arbitrariedades a que pode dar lugar. Mas o que não pode é haver dúvidas de que, quando pela via das eleições se põem em causa altos valores democráticos, estarão criadas as condições de legitimidade para substituir o poder alcançado pela via eleitoral, nomeadamente quando  sua subsistência em funções destruiria ou ameaçaria gravemente os tais altos valores democráticos que nenhuma eleição pode pôr em causa.

Tudo isto para dizer que não se pode afastar liminarmente como uma impossibilidade teórica ou prática a hipótese de em Portugal se poder vir a pôr em prática uma política diferente da que agora nos é “consensualmente” imposta por Bruxelas e aaparentemente sufragada por eeleições. 

Todavia, enquanto esse momento não chega – se é que um dia chegará –, não se devem desprezar as possibilidades de tentar dentro do quadro institucional existente a busca de políticas que, apesar dos seus pecados originais, se diferenciem das que têm vindo a flagelar os portugueses nestes últimos dois anos.

É que não se pode brincar com a real situação das pessoas. Há muita gente que está a um passo do desemprego. Há outros tantos milhares que estão em vias de perder a casa. Enfim, há imensos dramas por todo esse país, desconhecidos dos políticos na sua incidência concreta – “a dor da gente não vem nos jornais” –, que se pudessem ser atenuados, por pouco que fosse, já representaria uma assinável melhoria na condição de vida das pessoas que os estão sofrendo.

Então, se há um número considerável de pessoas neste país que, sendo filiadas ou próximas do PS, do PSD ou até do CDS, discordam veementemente das políticas terroristas da dupla Passos/Gaspar com a cumplicidade de Portas, por que não admitir que elas possam fazer parte de um governo que tente alterar o rumo dos acontecimentos ou que, no mínimo, represente um obstáculo real às pretensões da Troika e não como até agora um aliado incondicional dessas pretensões?

Já repararam bem que a viabilização desta proposta manda o Passos Coelho para Massamá, coloca o Portas entre parênteses (que é onde ele merece estar) e poupa o país a essa quase fatalidade de um dia poder vir a ser governado por Seguro?

É claro que a proposta não está isenta de riscos nem de inimigos.
Os riscos decorrem de não ser uma proposta nossa nem de sobre ela termos qualquer influência. Mas este risco está seriamente atenuado exactamente por isso mesmo: por não ser uma proposta nossa e por dificilmente a solução que dela adviria poder ser pior que a actual. Não sendo uma proposta nossa permite-nos actuar relativamente a ela sempre com a distância devida e ir doseando a luta conforme as circunstâncias.
Os inimigos são conhecidos e deveria ser sobre a sua acção, sobre a denúncia da organização para criminosa que realmente constituem, que se deveria virar a acção de todos aqueles que estão realmente empenhados em retirar essa gente da política. Referimo-nos, como é óbvio, às máfias partidárias, principalmente do Bloco Central, que tão bem têm sido descritas e interpretadas por Pacheco Pereira e também, noutro registo, por Paulo Morais e que são hoje as grandes responsáveis pelo bloqueamento da situação política portuguesa. Mesmo que não fossem eliminadas, e certamente não seriam, o seu poder ficaria consderavelmente enfraquecido durante o tempo em que durasse a vigência da proposta.

Derrotá-las ou enfraquecê-las, mesmo que seja para concretização de uma proposta política que não é a nossa, deveria ser o objetivo de todos os que lutam por um país diferente. Pior de certeza não ficaríamos…

1 comentário:

  1. "Vota no palhaço Tiririca pior do que está não fica!"
    Ontem perdi a avalanche de comentários que deve ter animado as TV. Cheguei muito tarde a casa, só pelas 2 da manhã. Ainda ouvi alguns deles, gravados. Mas mais do que comentários políticos eram tentativas mais ou menos frustres de decifrar o que Cavaco tinha dito.
    O gozo maior é ver o Cavaco vingar-se do gigolô da política, em especial quando este o arrasava a partir do Independente.
    Aguardemos os próximos capítulos.

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