A LINGUAGEM DA DIREITA
“Como
era de temer, o Governo resolveu compensar com nova receita pública as
centenas de milhões de euros que deixou de poupar na despesa com as
actuais pensões da CGD, cuja redução foi impedida pelo TC”.
De quem é esta
frase? De alguém que ainda há dias garantia que era um “homem de esquerda” e “pedia
meças” a quem ousasse pôr em causa esta sua irreprimível vocação…Afirmação esta
que tinha como causa próxima a crítica que lhe fora feita pelas posições que
assumiu a propósito da decisão do TC sobre a convergência das pensões.
Analisemos a frase: a nova medida do Governo (a TSU dos velhos) visa
compensar as centenas de milhões de euros que deixou de poupar nas despesas com
as actuais pensões da CGA. Os euros que o Governo deixou de poupar? Onde é que
nós já ouvimos isto? Ouvimos à Cristas, ao Mota Soares e a todos esses
expoentes do “socialismo à CDS”. Quer dizer: um fulano é roubado, o tribunal
manda o ladrão repor o produto do roubo e o comentador entende que o ladrão deixou de
poupar o que não pôde roubar.
Mas há mais: despesa cuja redução foi impedida pelo TC. Pelos
vistos, não foi a lei que impediu o ladrão de roubar. Foi o tribunal que impediu
a redução da despesa como se de um acto resultante do seu livre alvedrio se
tratasse.
A linguagem da direita está impregnada no tecido social. Nas
televisões, nos jornais, na rádio, nas conversas informais e até em alguns
professores de direito constitucional que confundem o lícito com o ilícito, o
direito com o não direito e que tratam as decisões dos tribunais como simples
actos políticos. Ou seja, como actos que nada tem a ver com a lei em que se
fundamentam!
Vital Moreira passou a fazer, ele próprio, o léxico adequado com as palavras que nos invadem por todo o lado... Ele faz escola!
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