E TODOS, TODOS SE VÃO…
Abril ficou mais pobre. Mais um que partiu. Destacado elemento
do MFA, depois da adesão da Marinha ao Movimento que viria a derrubar a
ditadura, Vítor Crespo desde cedo demonstrou a sua inabalável frontalidade na
defesa da Revolução ao fazer frente, na Pontinha, em 25 de Abril, ao todo poderoso
Spínola, quando pura e simplesmente lhe disse: “Meu General, os tanques
continuam na rua…”. E então Spínola foi obrigado a aceitar o que só mais tarde
e à sua custa acabaria por compreender: que os “tempos gloriosos” da Guiné tinham
definitivamente terminado.
Membro destacado da Comissão Coordenadora do MFA e do
primeiro Conselho de Estado, Vítor Crespo foi nomeado Alto Comissário para a
descolonização em Moçambique, na sequência dos trágicos acontecimentos do Rádio
Clube de Moçambique, de 7 de Setembro de 1974, onde se manteria até à
independência.
Membro do Conselho da Revolução desde a sua criação, não obstante
as funções que desempenhava em Moçambique, Vítor Crespo nele continuou, com
excepção de um pequeno interregno no Verão de 75, até à sua extinção em 1982.
Desempenhou ainda com grande brilhantismo e assinaláveis
êxitos as funções de Ministro da Cooperação do VI Governo provisório. Foi com
Vítor Crespo na cooperação que se fecharam os principais acordos sobre o contencioso
colonial com Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe.
Pode agora dizer-se, como registo da época, que foi com
alguma mágoa que Vítor Crespo se viu afastado destas funções governativas no I
Governo Constitucional. Mas esse afastamento tinha de ser compreendido como uma
consequência inelutável da estratégia que Mário Soares pôs em prática, com a
colaboração de Sá Carneiro e também de Freitas, em obediência às imposições da NATO e da “democrática
Europa Ocidental” que nem cheiro dos militares de Abril aceitava nos Governos
de Portugal.
A estratégia era clara e implacável: primeiro, afastá-los do governo; depois, extinguir o Conselho
da Revolução. Os poucos que ficaram durante os governos de Soares, Sá
Carneiro e Balsemão não tinham qualquer compromisso sério com a Revolução.
Depois do exercício das funções governativas e após a extinção
do Conselho da Revolução, Vítor Crespo, como os demais militares de Abril, foi
marginalizado na respectiva arma e politicamente mantido à distância. Somente
em épocas de grande investida das forças reaccionárias, como durante o
cavaquismo ou agora, é aqueles que tanto contribuíram para o afastamento dos
militares de Abril se voltavam demagogicamente a lembrar deles, invocando-os
na vã tentativa de reescrever a história.
Mas a História aí estará para homenagear como grandes
nomes da Pátria aqueles que, fazendo Abril e derrubando a ditadura, acalentaram
o sonho de transformar Portugal. E, entre eles, Vítor Crespo figurará!
Não temas:a terra que deu estes Homens de que nos lembramos com gratidão e respeito,continua a produzir gente de igual qualidade.Não os reconhecemos,mas estão aí. E quando o general da reacção ordenar "Fogo!",nem o novo Salgueiro Maia vai pestanejar,nem o novo cabo vai cumprir a ordem!
ResponderEliminarÉ isso mesmo, muito bem dito!
ResponderEliminarEra eu ainda uma "chavalito" e, por mero acaso, de passagem pelo Porto onde vi passar uma manifestação cujo palavra de ordem era "Vasco Lourenço sim, Vasco Gonçalves não"! O futuro ex-General Vasco Lourenço deve ter acreditado na declaração de amor. Passado não muito tempo teve também oportuniadde de comprovar a sinceridade dos "manifestantes"
lg
Já passaram vários dias desde a inclusão deste artigo, mas só agora é que descobri o Blog, e gostava de dizer que ouvi 3 horas de uma entrevista que há poucos meses passou na Antena 2 e gostei de tudo o que o Vitor Crespo disse até que a cerca de 20 minutos do final da longa entrevista fez-se escuridão com uma simples palavra "gonçalvismo" Que pena.
ResponderEliminarJC