sexta-feira, 15 de abril de 2016

O GOVERNADOR DO BANCO DE PORTUGAL E O BLOCO DE ESQUERDA




O QUE QUER O BLOCO?


Sobre o desempenho de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal e sobre o próprio Carlos Costa como agente político de direita disfarçado de tecnocrata financeiro não haverá muito a acrescentar ao que desde há seis anos vimos dizendo neste blogue, como por aqui e aqui se pode comprovar.

Também não há quaisquer ilusões sobre a “independência” dos bancos centrais, das razões que a ditaram e dos objectivos que serve. E o que se diz dos bancos centrais diga-se de qualquer outro “regulador”, essa imposição neoliberal destinada afastar o Estado de tudo o que pudesse perturbar o mercado, o livre jogo das forças produtivas, ou seja, a imposição da vontade dos mais fortes, sempre “legitimada” pelo exercício pleno da liberdade, outra máxima do neoliberalismo filosoficamente alicerçada no pensamento neoconservador americano que infelizmente até acabou por influenciar certas forças de esquerda ou não fosse ele um descente espúrio do trotskismo.
É mais que certo, agora como já o era à época em que os factos foram praticados, que o Governador do Banco de Portugal tem graves responsabilidades nas consequências desastrosas da “resolução” do BES, como também na do BANIF, se é que não actuou mesmo com alguma perversidade.
Tudo isto é sabido. O Governo sabe-o – sabe que com Carlos Costa no Banco de Portugal vive permanentemente com uma faca apontada às suas costas que a todo o momento, seja em cumplicidade com o BCE, seja com a da Direcção Geral da Concorrência (comunitária), pode desferir o golpe que levará à sua queda, objectivo político de Bruxelas – como o sabem os partidos que apoiam o Governo, do mesmo modo que os que o não apoiam contam com Carlos Costa para os ajudar a derrubá-lo.
É este o quadro político em que o Governo se movimenta. A direita portuguesa, afastada do poder pelo voto popular, conta com a colaboração de Bruxelas para a ele regressar rapidamente. Bruxelas desempenhará perversamente o seu papel subindo as exigências a ponto de elas serem incomportáveis para os aliados do Governo. Só que tem havido um problema, por enquanto insolúvel, as sondagens não atribuem a PSD/CDS votos suficientes para regressarem ao poder, continuando o PS de Costa a ser o mais votado, o que por si também inviabilizaria a hipótese de demissão do Secretário-geral do PS em caso de eleições antecipadas e a sua substituição pela direita do PS com cuja abstenção  PSD/CDS poderiam contar para formar governo.
Este quadro, porém, não é estático. Pode alterar-se se as dificuldades do Governo se agravarem e as expectativas dos eleitores se frustrarem tanto efectiva como imaginariamente muito por força de uma comunicação social hostil, como, por exemplo, a da SIC/Expresso, que não perde um minuto para, a propósito de qualquer acontecimento, que directa ou indirectamente atinja o Governo, por mais irrelevante que seja, desmerecer da acção governativa e fazer crer ao seu auditório que tudo vai mal e cada vez pior.
Sendo a continuidade de Carlos Costa à frente do Banco de Portugal a última coisa que o Governo deseja, que necessidade tem o Bloco de Esquerda de pressionar pública e agressivamente António Costa, exigindo-lhe a demissão do Governador, sabendo, como não pode deixar de saber, que no presente contexto essa demissão seria por Bruxelas e pelo BCE interpretada como um acto hostil de consequências imprevisíveis? Então não é preferível este cerco que diariamente lhe está sendo feito pelo Parlamento, pelo Governo e pelos partidos que o apoiam destinado a retirar-lhe toda e qualquer possibilidade de continuidade num cargo para cujo exercício está completamente descredibilizado?
Esta atitude do Bloco, esta espécie de “ejaculação precoce” , é devida a quê? Inexperiência, ansiedade ou antes a uma qualquer doença infantil? Não tem o Governo cumprido os acordos que firmou? Não tem o Governo feito um esforço muito sério para romper o colete-de-forças da política de austeridade indo abertamente contra a ortodoxia imposta por Bruxelas? Não pôs o Governo a nu, mesmo nos domínios em que se pode entender que claudicou, como no do BANIF, a perversa actuação do Governador e a verdadeira natureza da Direcção Geral da Concorrência (comunitária)? Alguém ficou com dúvidas de que o seu papel é o de promover a concentração do capital financeiro?
Basta ver o regozijo com que a comunicação social recebeu a intervenção do Bloco para se perceber, independentemente da vontade de quem actua, que interesses ela acaba por servir. Claro que o PS não faz no Governo a política do PCP, nem a do Bloco Esquerda (cuja política, aliás, nem sempre se compreende bem, salvo quando trata da igualdade de género e outros temas da mesma natureza). O PS faz no Governo a sua política com respeito pelos acordos firmados. E isso no actual contexto é o mais importante. Pior será entregar o poder à direita.

8 comentários:

  1. Suspeito que é mesmo doença infantil... Assim como é doença infantil a daqueles que andam a imaginar que Portugal pode, com o sector bancário fragilizado como está, abandonar o Euro se quiser. Não gosto do Euro, mas há que primeiro ganhar armas para lutar pela nossa soberania com chances mínimas de vitória. Porque para entradas de Leão com saídas à Syriza, já vimos como termina o filme...

    ResponderEliminar
  2. Em suma o governador não presta, mas o melhor é não fazer ondas. É por mentalidades como a sua que o Pais não sai da cepa torta .

    ResponderEliminar
  3. O BE tem uma histérica vertigem exibicionista.faz tudo para aparecer. E as televisões dao-lhe espaço. Tanta histeria que nem vêem como é útil a sua idiotia.

    ResponderEliminar
  4. UMA ACTIVIDADE ECONÓMICA DE ALTO RISCO para os contribuintes: a actividade bancária (ex: BPN, BES, BANIF,...).
    .
    Sendo a actividade bancária uma actividade económica de alto risco para os contribuintes, o Regulador (Banco de Portugal) deverá ser obrigado a apresentar periodicamente um relatório detalhado aos contribuintes.
    .
    Uma opinião um tanto ou quanto semelhante à minha:
    Banalidades - jornal Correio da Manhã (antes da privatização da trasportadora aérea):
    - o presidente da TAP disse: "caímos numa situação que é o acompanhar do dia a dia da operação e reportar qualquer coisinha que aconteça".
    - comentário do Banalidades: "é pena que, por exemplo, não tenha acontecido o mesmo no BES".
    .
    .
    .
    P.S.
    http://fimcidadaniainfantil.blogspot.pt/
    http://concorrenciaaserio.blogspot.pt/

    ResponderEliminar
  5. “ejaculação precoce”?
    Antes fosse!

    O desconchavo
    é mais estruturado
    e está-lhes no estilo

    ResponderEliminar
  6. O BE manifestou uma opinião igual à minha por outras palavras: «a Banca é assunto 'sério demais' para ser deixada na mão de banqueiros».

    ResponderEliminar
  7. Mas Separatista 50-50, e quando já há bastante tempo, e com força desde antes das últimas legislativas, o PCP vem e pedindo a nacionalização da Banca. Também faz dessas palavras a sua opinião? ou a saída do governador resolve os problemas?

    ResponderEliminar
  8. Nacionalização... não sei (embora deva existir um banco público).
    Saída do governador... não sei.
    .
    Na minha opinião, A PRIORIDADE DEVERÁ SER a regulação tem de ser muito minuciosa e detalhada devendo o regulador apresentar periodicamente um relatório ao qual os contribuintes tenham acesso.

    ResponderEliminar