SOBRE AS ELEIÇÕES DE AMANHÃ
Muito se tem especulado sobre como será
o “day after” se o PS ganhar as eleições sem maioria absoluta. Dizem uns que se
o PS fizer maioria com os deputados do Bloco dificilmente haverá acordo por o
PS não querer ficar nas mãos do Bloco, quer esse apoio seja parlamentar, quer de
coligação governamental. Dizem outros que mais fácil seria o acordo com o PCP
se o número de deputados de ambos os partidos fossem suficientes para fazer
maioria. Outros, finalmente, colocam a hipótese de o PS governar sozinho, como
já fizeram Soares, Guterres e Sócrates.
A minha análise da situação é um pouco
diferente. O que me parece é que, sejam quais forem os resultados eleitorais do
BE e da CDU, a menos que se trate de uma verdadeira catástrofe para um deles, a
Costa só restam duas saídas: ou tentar um acordo semelhante ao desta
legislatura ou governar com a abstenção e o apoio de Rio, consoante os casos.
De facto, o PS nas sete vezes em que
governou sem maioria absoluta nunca governou sozinho. Em dois acasos governou
em coligação com a direita, uma vez com o CDS, outra com o PSD. Em quatro,
governou sem coligação com o apoio da direita, salvo num ou noutro caso, de
relativa pouca importância, em que beneficiou do apoio pontual da esquerda. Em
cinco destas seis situações os governos não concluíram a legislatura, ou por a
direita ter rompido a coligação ou por a direita ter derrubado o governo no
Parlamento. Em todos os casos em que a direita derrubou o Governo, quer por
rompimento da aliança, quer por votação no Parlamento, o PS perdeu as eleições
subsequentes. Sem maioria absoluta, o PS somente por duas vezes concluiu a
legislatura, uma vez por Guterres, outra por António Costa. De ambas as vezes,
a confirmarem-se as sondagens, o PS ganhou as eleições legislativas subsequentes.
Este é o quadro histórico. Das duas
hipóteses acima referidas, a ter em conta depois de conhecidos os resultados
das eleições de amanhã, a que me parece menos provável é a de um acordo à
esquerda. Esse acordo, a existir, nunca seria com apenas um partido. Não só por
essa não ser a hipótese que mais interessa ao PS, nomeadamente no caso de esse
partido ser o Bloco, mas também por nenhuma das duas forças políticas da
esquerda – BE e CDU – estar verdadeiramente interessada num acordo que deixe a outra
força de fora a concentrar nela a capitalização do descontentamento
governativo.
Independentemente destas considerações,
os últimos tempos têm demonstrado que as exigências à esquerda iriam subir de
tom e teriam de ser satisfeitas para poder haver acordo. O que desagrada
francamente ao Partido Socialista porque sabendo que o próximo contexto
económico-financeiro será diferente para pior do desta legislatura de forma
alguma lhe convém ficar “atado” a partidos que lhe dificultarão ou até
inviabilizarão o cumprimento da ortodoxia financeira comunitária. Convém-lhe,
portanto, arranjar um parceiro mais compreensivo e que comungue das mesmas
preocupações. E a saída para esta situação, que nunca seria una saída sem antes
se assistir a uma imputação de responsabilidades à esquerda por ter
inviabilizado uma solução semelhante à actual, seria a de um acordo com Rui
Rio, governando o PS com a abstenção ou o apoio do PSD, consoante os casos.
Não só é essa a solução que mais
interessa ao "PS que conta", como é também a saída mais condizente
com o contexto económico-financeiro esperado, além de coincidir com o interesse
de Rio e para a satisfação do qual expressamente se candidatou. Rio sempre
disse, quando concorreu à presidência do PSD contra Santana Lopes, que não se
candidatava para ganhar as “próximas” eleições (as de amanhã), mas para tirar o
PS dos braços do Bloco e do PCP. O que levou, como se sabe, ao “divórcio” de
Santana Lopes e à criação da Aliança. Só que esta "saída", que é
muito provavelmente aquela pela qual o PS vai “entrar”, é a que deixa nas mãos
de Rio a marcação das próximas eleições, aquelas para cuja vitória Rio
verdadeiramente se candidatou.
Como pode o PS "cair" nisto?
Exactamente pelas mesmas razões que o levaram nas seis das sete vezes anteriores
em que foi governo sem maioria absoluta a pretender o apoio da direita e a por
ela ser derrubado por cinco vezes.
Uma coligação com a direita? ..Vade retro... Nunca mais recebem o meu voto
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