MARCELO, RANGEL E AS ELEIÇÕES
(Texto publicado no FB em 29 de Outubro de 2021)
Não vou dizer nada de novo sobre este assunto, mas apenas juntar a minha voz à de todos aqueles que verberaram a conduta do Presidente da República.
É de facto inaceitável e incompreensível que o Presidente da República receba o candidato da oposição interna à presidência do PSD, para tratar da data apropriada à marcação de eleições legislativas. Isto é grave, a vários títulos. Primeiro, porque à data não havia, nem ainda há, dissolução do Parlamento e nem sequer tinha ainda sido votado o Orçamento de Estado, da cuja eventual rejeição resultaria, segundo o Presidente, aquela resolução. Em segundo lugar, porque é inadmissível que o Presidente receba o candidato da oposição interna à presidência de um partido, antes de os representantes legítimos e legitimados dos partidos com assento parlamentar terem sido ouvidos sobre o mesmo assunto. E em terceiro lugar, é gravíssimo que o Presidente da República participe e queira influenciar, no exercício das suas funções, a escolha eleitoral do partido a que pertence, dando publicamente um sinal inequívoco de que o seu candidato é Rangel.
A ideia posta a circular de que foi uma simples visita ou audiência de cortesia é uma desculpa esfarrapada, sem credibilidade, que não convence ninguém. Se Rangel queria tratar de um assunto pessoal com o Presidente, comunicar-lhe, por exemplo, que está noivo e tenciona casar-se deveria fazer isso no programa do Goucha e logo todos ficaríamos a saber, Presidente inclusive, e não pedir uma audiência ao Presidente para esse efeito e muito menos em Belém.
Finalmente, Marcelo não pode, mas não pode mesmo, desculpar-se ou justificar-se com uma explicação rasca, própria de um comentador de futebol de terceiro nível, dizendo que: “O Presidente é como é, e eu sou como sou”, exactamente da mesma forma que os ditos comentadores justificam a má criação dos treinadores do seu clube, quando se portam mal, porque o comportamento de Marcelo nestas matérias terá de ser pautado pelo que a Constituição prescreve e não por aquilo a que a sua vontade pessoal o induz.
«Não vou dizer nada de novo sobre este assunto, mas apenas juntar a minha voz à de todos aqueles que verberaram a conduta do Presidente da República.»
ResponderEliminarPODE SOMAR MAIS UM
Concordo inteiramente. Em primeiro lugar, PR teve uma conduta censurável durante as discussões do OE, procurando condicionar a atuação dos Partidos de Esquerda, declarando ad nauseam que dissolveria a AR, o que seria a conclusão natural de um chumbo do Orçamento, porque representaria o fim da Maioria que tem apoiado o Governo, note-se, mas que ele não deveria ter invocado sem antes esperar pelo resultado final da votação e ouvir posteriormente as partes envolvidas, até porque existia outra possibilidade, que seria a apresentação de um novo Orçamento pelo Governo. Procurou condicionar, acabou condicionado, como bem notou o Daniel Oliveira.
ResponderEliminarEm segundo lugar, temos o episódio inadmissível da audiência concedida a um candidato a líder do PSD, quando o PR se relaciona institucionalmente apenas com as lideranças legítimas de cada Partido a cada momento. Pior, a audiência teve lugar durante as discussões do OE, enfraquecendo a posição do líder da Oposição (a cara de Rio quando soube do sucedido em frente às televisões diz tudo) naquela que é a discussão central de política corrente anual, quando se sabia o que estava em jogo.
MRS foi o melhor amigo de Costa por aqueles dias. Era visível o gozo com que Costa atirou o chiste de que a Direita fechou para obras durante o discurso de encerramento da discussão, sabendo Rio (e sabendo nós todos) que ele não se referia apenas às disputas de liderança no PSD e no CDS. Que Direita é esta e como pode esperar ela governar se as facadas nas costas se sucedem, cortesia da mais alta instância da Nação?
Se eu acreditasse em teorias da conspiração, diria que MRS estava a torcer por Costa. Como não acredito, acredito antes que os tiros nos pés dados por MRS e Paulo Rangel não passaram de incompetência, provocada por hubris de segundo mandato no caso do Chefe de Estado, e por prosápia natural (e habitual) no caso de Paulo Rangel...