quarta-feira, 4 de junho de 2008

OS INTELECTUAIS E A DEFESA DO GOVERNO

AS INTERVENÇÕES PATÉTICAS

Chega a inspirar sentimentos de compaixão a intervenção de certos intelectuais em defesa do Governo face às “calamidades” que lhe caíram em cima. Perante o que parecia ser um quadro, repetidamente ensaiado para não falhar no momento oportuno, destinado a assegurar uma nova vitória eleitoral, facilitada pela fragilidade de liderança do principal parceiro do Bloco Central – que muito se ressentiu da expurgação de um espaço que supunha ideologicamente apropriado – e pela incapacidade de os partidos da esquerda polarizarem o que deveria ser o seu eleitorado natural, eis que surge, como se fosse uma surpresa, a primeira grande crise do capitalismo neo-liberal!
Crise financeira, crise alimentar, crise energética. Crise que fustiga dramaticamente aqueles que mais longe estavam de alcançar um modelo social seguro e que, paradoxalmente, mais pressa tiveram em se afastar ou até em destruir os precários alicerces sobre os quais estava a ser construído.
Por força da crise ou por ela potenciada, tornam-se muito mais evidentes as tremendas desigualdades sociais e suscitam natural reprovação os altíssimos rendimentos daqueles que mais se empenharam na destruição do Estado e no desmantelamento do frágil modelo social em construção. Tudo em homenagem à sacrossanta lei do mercado, à busca do lucro sem limites, à especulação, enfim, ao depauperamento generalizado dos trabalhadores e das classes médias.
Perante este quadro, que é o quadro da sociedade portuguesa, fustigada por oito anos consecutivos de crise, particular ou geral, o que se exigia dos intelectuais dignos desse nome era uma reflexão militante sobre o que se está a passar no mundo e a abertura de novos caminhos capazes de trazer a esperança de uma mudança que não se pode adiar.
Mas não! O que dizem eles? Carpem pateticamente os “azares” do Governo para quem a crise foi “injusta”, aconselham-lhe firmeza no erro e determinação no seguimento do mesmo caminho.

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