segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

A VELHA DIREITA DÁ A RECEITA PARA SAIR DA CRISE



NA HORA DA VERDADE VALHA-NOS A SINCERIDADE

Quando tudo corre bem, quando os lucros sobem em catadupa, quando os negócios se multiplicam, quando o Estado não cessa de fazer encomendas cada vez mais vantajosas para quem as presta, a direita bem instalada esquece as suas origens, o seu passado militante ao serviço da ditadura e torna-se uma voz respeitada ao serviço da democracia. Os jornais asseguram-lhe periodicamente um espaço, as televisões reclamam o seu sábio comentário e tudo adquire um ar muito respeitável.
O pior é quando a crise estala e atinge proporções antes insuspeitadas. Os negócios passam de auspiciosos a ruinosos, tenta-se a todo o custo a ajuda do Estado para cobrir com a sua incomensurável generosidade os prejuízos sofridos e quando já se desconfia que nem assim as coisas voltam ao que eram, dá-se a receita para a combater. Com o mesmo à vontade com que ontem se conspirava contra Marcelo para restaurar Salazar. As medidas propostas não poderiam ser mais apelativas…nem mais sinceras:
Primeira – Trabalhar mais e ganhar o mesmo ou menos (e dá-se o exemplo: Américo Amorim trabalha mais de 10 horas por dia há mais de 56 anos; mas não se pergunta, como Brecht: “E não leva com ele, ao menos, um cozinheiro?”;
Segunda – Despedir trabalhadores (e mais um exemplo: é esse o modelo americano);
Terceira – Reduzir ou eliminar os prémios dos trabalhadores, os fringe benefits (assim é mais fino…) e os subsídios, como os de Natal e de férias;
Quarta – Auto-financiamento das empresas, ficando os empresários com as merecidíssimas reservas um pouco diminuídas (mas logo se reconhece que esta medida não pode, infelizmente, ser adoptada: eles estão nas lonas, não têm capital);
Quinta – Aumentar o endividamento bancário, atrasar o pagamento aos fornecedores, reduzir a qualidade dos serviços e, consequentemente, os custos (também neste caso, logo se reconhece que este caminho não pode ser trilhado);
Sexta – Reduzir drasticamente os custos de actividade do Estado, transferindo para os patrões os impostos pagos pelos trabalhadores e as contribuições para a segurança social, que os receberiam a título de empréstimo gratuito, isto é, sem juros (pelos trabalhadores digo eu, o nosso proponente diz que quem paga os impostos dos trabalhadores são os patrões!).
Comentários: Eu penso que o receituário proposto está relativamente incompleto, embora nada garanta que a adenda a seguir proposta necessite de aprovação para ser aplicada:
Primeira - O Estado deve garantir o capital dos grandes accionistas e a sua justa retribuição às taxas a que estavam acostumados, se necessário também à custa dos depositantes e dos pequenos accionistas;
Segunda – Aumentar os ordenados, prémios e demais benefícios dos executivos dos bancos e das grandes empresas monopolistas como estímulo indispensável ao relançamento da economia pela via do aumento da procura;
Terceira – Garantir, pela via das encomendas do Estado, aos grandes escritórios de advogados, se necessário em regime de exclusividade, um volume de negócios francamente superior ao do primeiro Governo Guterres.
ADITAMENTO
Para que não haja dúvidas: a proposta das seis medidas tem autor e é pública; a adenda é da minha lavra, embora me tivesse esforçado por ser fiel ao espírito do proponente.

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