O DISCURSO DE LUÍS AMADO
A questão da competitividade das empresas é um tema recorrente dos economistas portugueses. Ainda há dias o Presidente da República, na mensagem de Ano Novo, nos veio falar no assunto como uma questão fulcral para o relançamento da economia portuguesa. Desta competitividade parece tudo decorrer: o aumento das exportações, a redução do endividamento e, em última instância, o caminho para a convergência económica com a média da União Europeia.
Como já aqui dissemos, Cavaco falou do assunto como um dado de facto indiscutível, sem se preocupar em sequer insinuar como é que isso se consegue ou como deixou de se conseguir. Durante os dez anos de cavaquismo, a economia português convergiu, ainda que modestamente, rumo à média europeia. Agora, há mais de dez anos que não converge.
O primeiro mandato com maioria absoluta de Cavaco coincide com o início da adesão à Comunidade, 1986. À época, os instrumentos de política monetária, que hoje são da competência da União, estavam na titularidade do Estado português e podiam ser manobrados pelo Governo. Dado o nosso atraso relativamente à maioria esmagadora dos países que então integravam a Comunidade e as quantidades astronómicas de dinheiro que entraram em Portugal, é natural que o país tenha crescido, aliás com deficits elevados, e que tenha convergido. O contrário é que seria de espantar. Aliás, o mesmo sucedeu na primeira legislatura Guterres.
Depois, bem… depois veio o que hoje temos: o euro e a política monetária subtraída às competências nacionais. Quando, já após a introdução do euro como moeda única, Paul Krugman veio pela segunda vez a Portugal, disse uma coisa que na altura não terá sido devidamente avaliada: “o problema de Portugal é a sobrevalorização da moeda”.
No fundo, o que o actual Prémio Nobel da Economia quis dizer é que a economia portuguesa depois da introdução do euro passou a lidar com uma taxa de câmbio irrealista para o seu nível de competitividade. E até hoje não recuperou dessa situação.
Creio que foi isto que Luis Amado quis dizer no seminário diplomático a decorrer no MNE, quando afirmou que Portugal se adaptou mal ao choque da adesão ao euro. Claro, que hoje parece não haver retorno, pelo menos retorno ao nível de um só país. Os efeitos negativos imediatos seriam muito mais gravosos do que a continuação da actual situação. Em todo o caso aquela afirmação serve para lançar luz sobre um ponto acerca do qual tem havido muita mistificação. E é também uma resposta indirecta a Cavaco. Ajudar a compreender as causas, ajuda a encontrar as soluções.
Para ler e analisar:
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