terça-feira, 6 de janeiro de 2009

A ENTREVISTA DE SÓCRATES



A DERROTA DO JORNALISMO AGRESSIVO E INCONSEQUENTE

A entrevista de Sócrates na SIC foi antes de mais uma vitória sobre o jornalismo agressivo e sem critério. Uma vitória também sobre a intriga política erigida em fonte de notícia. Mas a entrevista serviu ainda para demonstrar que Sócrates não é homem para se intimidar: não é ele que tem de estar preocupado com Cavaco; é Cavaco que tem de se preocupar com ele.
Os jornalistas que conduziram a entrevista saíram-se muito mal. De R. Costa não se esperava outra coisa. É incompetente e não domina academicamente as matérias em que arrogantemente se mete. Defende o sim e o não, prevalece-se da intriga quando lhe falecem os argumentos e, pior do que tudo, fica-se com a ideia de que ele não se apercebe da sua fragilidade, depois de confrontado com a inconsistência das suas opiniões. É uma espécie de Manuela Moura Guedes de calças.
O Gomes Ferreira costuma estar mais bem preparado e domina com alguma facilidade uma certa “cartilha” da economia portuguesa. Desta vez até isso lhe falhou, tanto por mérito de Sócrates, como por culpa de R. Costa.
Não é por isso de estranhar que, depois desta fraca prestação dos entrevistadores, os jornalistas convidados para comentar a entrevista exibissem um grande constrangimento.
Sócrates esteve genericamente bem, principalmente nas indirectas a Cavaco e nas questões internas do PS. O facto de ter estado bem face aos jornalistas não significa que as fragilidades das suas políticas e os erros de algumas das medidas para combater a crise tenham desaparecido.
Assim, no que respeita aos grandes investimentos, continua por demonstrar a necessidade de um novo aeroporto, e, mais do que isso, a vantagem para os portugueses das famosas parcerias publico-privadas que tão criticadas têm sido. Nesta matéria há uma verdadeira cooperação estratégica entre Sócrates e Cavaco: ambos defendem o que antecipadamente se sabe ficar muito mais caro ao contribuinte. Ao contrário do que os jornalistas diziam, não são os investimentos que estão em causa, ou, pelo menos, não está em causa a maior parte deles. O que está em causa é o modo como vão ser feitos.
No tocante às medidas para proteger os bancos afectados pela crise financeira, continua por explicar por que razão não foi nacionalizado o grupo em que se inseria o BPN, para quem entenda, como é o caso do PM, que a nacionalização do BPN, mesmo que mais onerosa do que o resgate dos depósitos em caso de falência, se justifica por razões fiduciárias. Assim como continua por explicar como pode uma medida tão sectorial, como a que foi aplicada ao BPP, salvar o banco da falência.
Em terceiro lugar, Sócrates não revela grande sensibilidade pelo curto prazo. Continua a acreditar que há efeitos ligados às medidas que adoptou para combater a crise que necessariamente se produzirão, esquecendo-se que alguns desses efeitos são de produção tardia. Se estivesse mais atento a esta questão, que pode tornar-se numa das mais dramáticas da crise, aceitava baixar os impostos directos sobre os rendimentos baixos e médios, já que em Portugal não se corre o risco de este acréscimo de rendimento ir para o entesouramento.
Finalmente, as medidas destinadas a salvar empresas da falência e a assegurar o emprego são positivas. Mas não podem ser concedidas sem um grande condicionalismo e sem a salvaguarda dos dinheiros públicos nelas investidos. Disto em Portugal nunca se fala. É matéria que não interessa aos jornalistas.

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