UM DISCURSO INACABADO
Em Portugal, as palavras de Eanes no Instituto de Altos Estudos Militares, não tiveram grande relevo. Uma nota breve nos jornais e um ou outro comentário nos blogues. Curiosamente, vi-as referidas em alguma imprensa estrangeira. É natural, é um ex-Presidente da República quand même.
Diz Eanes que “A sociedade portuguesa é uma sociedade com medo dos medos. Medo pelo presente, medo do futuro, medo pelos filhos, pela sorte dos pais, medo pelo emprego, medo dos poderes políticos” e que em Portugal “nunca foram correctas as relações entre o Estado e a sociedade civil”.
Devo confessar que este é o tipo de discurso que me chateia. Tal como os do actual Presidente quando fala na “dívida colossal” ou na crise que atinge o pais. São discursos que servem para tudo (quase sempre para o pior) e não explicam nada.
Eanes era useiro e vezeiro neste tipo de discursos quando era presidente. E pelos vistos não perdeu o hábito. Aponta-se ou constata-se uma consequência e deixa-se completamente em branco a análise das causas que a geraram. Fica tudo no ar e a partir da ideia forte da frase constrói-se a notícia. A ideia forte é o medo. E a partir daí é fácil lançar várias insinuações sobre as causas do medo.
Então, não era mais honesto fazer o discurso ao contrário? Partir da análise da situação económica, social e política das sociedade em que vivemos e concluir depois, se fosse caso disso, que a insegurança destas sociedades relativamente a questões fundamentais – que estão muito para além da segurança demagógica de que fala Portas – gera medo na maior parte das pessoas?
E quanto à relação sociedade civil/estado, que é também uma das bête noires do General Eanes, teríamos muito que dizer. Fica para outra vez.
Nem li...
ResponderEliminardesculpa não resisti. :)