segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

UMA ENTREVISTA DE ROBERTO MANGABEIRA



PENSAR A ESQUERDA

Praticamente desconhecido em Portugal, fora de círculos académicos restritos, Roberto Mangabeira, professor em Harward e actualmente Ministro dos Assuntos Estratégicos do governo brasileiro, é um dos mais brilhantes politólogos do Brasil contemporâneo.
Autor de uma vasta bibliografia em inglês e em português, Mangabeira, sempre muito comprometido com a política do seu país, tem reflectido fundamentalmente sobre o futuro da esquerda e as suas propostas de mudança social.
Numa entrevista concedida a El Pais, Mangabeira fala de três esquerdas actualmente existentes no mundo.
Em primeiro lugar, há a esquerda que aceita o mercado e a globalização tal como são e apenas os quer humanizar pela via das políticas sociais. O seu programa político, verdadeiramente, é o dos seus adversários, com uma certa atenuação social e alguma má consciência moral. É a esquerda vendida.
Depois, há a que quer desacelerar o progresso dos mercados e a globalização para defender a sua base histórica tradicional (os trabalhadores sindicalizados da grande indústria). É a esquerda recalcitrante.
Finalmente, há a esquerda que quer reconstruir o mercado e reorientar a globalização mediante um conjunto de inovações institucionais. Esta esquerda quer democratizar a economia de mercado, capacitar o povo e aprofundar a democracia. Esta é, para Mangabeira, a esquerda moderna.
Sobre a actual crise, Mangabeira lamenta a terrível falta de propostas da esquerda para além de uma versão mumificada do keynesianismo vulgar. Sublinha ainda muito a propósito que a democratização do poder aquisitivo das massas populares, de que tanto se vangloriava o neo-liberalismo (ver A. Greenspan, a Era das turbulências), resultante de uma distribuição do rendimento e da riqueza, efectivamente não se verificou, como aliás decorre da extraordinária concentração da riqueza a que assistimos nestes últimos trinta anos. O que houve foi uma falsa democratização do crédito através da qual se pretendeu substituir a redistribuição do rendimento, que na realidade não existiu. A crise do subprime e actual crise financeira são o resultado disso mesmo.

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