segunda-feira, 9 de fevereiro de 2009

JOE BIDEN VEM À EUROPA ENUNCIAR NOVA POLÍTICA EXTERNA AMERICANA



QUE MUDANÇAS?


Joe Biden enunciou ontem em Munique as novas linhas mestras da política externa americana. Há desde logo, uma clara mudança de estilo e uma tentativa de continuar para já o essencial do que vem de trás, com excepção evidentemente da ocupação do Iraque e do campo de concentração de Guantánamo, desde que seja possível “manter essa herança” numa base multilateral. Nesse sentido, o discurso de Joe Biden é o enterro do unilateralismo americano da Administração Bush e um regresso à legalidade internacional. O que não é pouco. Todavia, está muito longe do que muitos esperariam.
Indo ponto por ponto. No que respeita à Europa e à aliança atlântica, à parte algumas “escaramuças” francesas, tendentes a marcar a sua “independência”, não haverá entre os Estados Unidos e os seus parceiros europeus grandes divergências, inclusive em relação ao Afeganistão, onde o principal esforço, se não mesmo o exclusivo, continuará a ser americano.
Há contudo um vector da política anterior que vai sofrer uma modificação, operada tanto no interesse americano como no europeu. Refiro-me às relações com a Rússia. Os principais Estados europeus continentais não querem hostilizar a Rússia, da qual não temem qualquer ameaça. Por outro lado, os americanos se pretendem continuar no Afeganistão e manter o Paquistão sob vigilância não podem prescindir da Rússia. E hoje mais do que nunca, dada a nova correlação de forças na Ásia Central. E para poderem contar com a Rússia vão ter de contemporizar no alargamento da NATO à Ucrânia e à Geórgia, o que também agrada àqueles Estados europeus, e renegociar o famoso escudo anti-míssil, também do interesse da França, da Alemanha, da Espanha (socialista) e da Itália, pelo menos. Bem lido, o discurso de Biden não se opõe frontalmente a nada disto.
Quanto ao Irão, a novidade do discurso não está tanto na promessa de mão estendida, que já tinha sido publicitada em Washington, mas na ausência completa de ameaça do uso da força (apenas falou em pressão e isolamento) se não houver renúncia ao “programa nuclear ilegal”.
Os Estados Unidos precisam do Irão por causa do Iraque e, obviamente, para resolver o conflito israelo-palestiniano. Com a credibilidade judaica ao mais baixo nível desde 1948, depois dos conflitos do sul do Líbano e da Faixa de Gaza, com uma opinião pública europeia e mesmo americana que começa a dar cada vez sinais mais claros de hostilidade em relação a Israel e com as eleições de 10 de Fevereiro à porta, que, na melhor das hipóteses, darão a vitória à direita radical (Natanyahu) ou na pior à extrema-direita racista, xenófoba e fundamentalista (Liberman), os Estados Unidos têm absoluta necessidade de dialogarem com o Hamas e com o Herzbollah, algo que só pode ser alcançado com um mínimo de êxito através da mediação iraniana, para que se alcancem propostas de paz politicamente irrecusáveis por Israel.
Este é, porém, o maior desafio da nova administração e de cuja resposta depende em grande medida a paz no mundo, tanto mais que a opção militar de Israel relativamente ao Irão vai manter-se em cima da mesa a partir de 10 de Fevereiro, com mais força do que nunca.

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