domingo, 21 de junho de 2009

IRÃO: AS GRANDES DÚVIDAS


QUEM FALA VERDADE?

Aparentemente, conviria ao Irão uma direcção política menos conservadora para poder tirar partido da conflitualidade que ameaça instalar-se entre Washington e Israel. Uma liderança mais aberta, menos agressiva, poderia tirar vantagem da intransigência israelita e estabelecer uma relação de relativa confiança com a América, tendo em conta as características da actual administração.
Mas também pode pensar-se de outra maneira. Se na América há uma administração que quer dialogar e em Israel governa uma coligação que aposta na destruição da eventual futura capacidade nuclear do Irão, o melhor é manter em Teerão um governo firme e duro, que vá dando a Washington alguns sinais de aproximação, mas que simultaneamente aproveite a relutância americana numa intervenção militar ou em autorizá-la, para, entretanto, tornar irreversível aquele objectivo estratégico.
Esta segunda opção do Líder Supremo – que designa cerca de 2 000 mil cargos entre os quais o chefe das forças armadas, o presidente da rádio e da televisão, o presidente da magistratura e o conselho de discernimento - poderia tê-lo levado a “decidir” o resultado das eleições. Para isso seria necessário montar à escala nacional uma operação de grande envergadura que no dia das eleições funcionasse sem hesitações. Esta operação tinha, todavia, um inconveniente: dificilmente poderia escapar a uma denúncia prévia. E a verdade é que os relatos da imprensa internacional, apesar de a campanha ter sido animada, dão como natural, no dia seguinte ao das eleições, a vitória de Ahmadinejad, por onze milhões de votos de diferença.
Não há fraudes desta dimensão organizadas no dia. Além de que tais fraudes pressupõem a completa ausência de liberdade dos opositores.
Ensaiemos então pensar de outro modo. Os “reformistas”, para usar uma expressão consagrada, entendem que este é o momento adequado, nacional e internacionalmente, para provocar uma mudança. E esperam alcançá-la pela via eleitoral, mas logo que intuem que tal não será possível (não esquecer que Musavi anunciou a vitória antes de os votos estarem contados) arriscam com base no descontentamento das populações urbanas mais intervenientes, que indiscutivelmente advogam um país mais aberto e mais relacionável com o mundo ocidental, um levantamento popular a partir da palavra de ordem de “eleições fraudulentas”. E como acreditam que a correlação de forças lhes será favorável, porque, à parte as milícias e os combatentes de Deus, os demais apoiantes de Ahmadinejad fazem parte da maioria silenciosa rural, que agora, como noutras ocasiões, não tem decidido o rumo da história no Irão, põem os seus apoiantes na rua dia após dia exigindo novas eleições.
Os reformistas exibem um documento, que estranhamente a imprensa ocidental não publicou, dirigido pelo ministro do interior ao Líder Supremo, que confirma a preferência deste pelo candidato Ahmadinejad, em que lhe dá conta dos verdadeiros resultados eleitorais. Dão também a conhecer que o órgão correspondente à comissão nacional de eleições terá comunicado telefonicamente a Musavi a vitória eleitoral, facto que estaria na origem da declaração por este feita pouco depois de encerradas as urnas. E explicam que o discurso da vitória não pôde fazer-se, porque, logo a seguir àquela comunicação, Musavi terá tido um encontro com os chefes militares que pura e simplesmente lhe disseram que não aceitariam os resultados eleitorais e que Ahmadinejad continuaria no cargo. Segundo aquele documento, foram os seguintes os resultados eleitorais: Musavi 19.036.078 votos; Karrubi 13.387.104 votos; Ahmadinejad 5.698.417 voos; Rezai 3.754.218 votos; e 38.216 nulos.
Evidentemente, que ninguém, deste lado de cá, está em condições de atestar a veracidade deste documento e daquelas comunicações. É, porém, muito provável que uma das duas situações acima descritas se tenha passado no Irão. Ainda é cedo para saber a verdade e para saber quem vai ganhar. Ou até se por força do confronto acabaremos por ter um resultado que não seja de resto zero (mais difícil, dada a magnitude do que está em jogo…). Há trinta anos, a revolução foi sempre num crescendo e acabou por arrastar até aquelas forças que normalmente se não manifestam. Em 1953, no golpe da CIA contra Mossadegh, foi tudo muito mais rápido. E em 2009, como acabará?

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