terça-feira, 18 de agosto de 2009

O "PÚBLICO", O PALÁCIO DE BELÉM E AS ESCUTAS


A CAMPANHA DO PÚBLICO

Não há dúvida: há muito nervosismo em Belém. E também não há dúvida de que o Público se aproveita desse nervosismo para entrar na campanha eleitoral.
A gente do PS suspeita, ou tem mesmo a certeza, de que gente de Cavaco participou na feitura do programa do PSD. Como a gente do PS soube disso, a gente não sabe. Mas sabe que há muitas formas de a informação circular e que até se pode dar (teoricamente) o caso de a suspeita não ter qualquer fundamento e a gente do PS que a pôs a circular saber disso. Pode. Mas também pode acontecer que a suspeita tenha fundamento. O melhor, então, é ouvir os círculos de Belém.
Pois os membros da Casa Civil do Presidente não estão com meias medidas: se o PS sabe dessa participação, é porque os traz sob escuta e vigiados. Tem que se reconhecer que esta é uma forma estranha de argumentar, a menos que com ela se pretenda confirmar aquela colaboração e simultaneamente arranjar uma desculpa para o desleixo de terem sido apanhados. Ou seja, é um tipo de contra-ataque que tende a desvalorizar o facto que está na origem do ataque e a passar o conflito para um nível de litigiosidade da qual já não se pode sair sem a vitória clara de um dos lados sobre o outro.
E é exactamente nesse plano que contam com a colaboração do jornal Público, que dedica ao assunto 4/5 da primeira página, em manchete de alto a baixo, mais as duas páginas seguintes. O Público não faz uma manchete descritiva, nem sequer interrogativa. O Público, com base nas declarações de um não identificado membro da Casa Civil do Presidente, sugere que a Presidência está ser vigiada pelo Governo. Ou seja, o Público sabe que um conflito institucional entre o Presidente e o Governo tende a favorecer o primeiro, qualquer que seja o motivo, mais ainda se esse conflito tem base um motivo torpe da responsabilidade de um dos lados.
O PSD lava as mãos, como Pilatos, e, como é óbvio, nega qualquer colaboração. Ou seja, tenta pôr-se à margem do conflito para tirar dele todo o partido possível, objectivo implicitamente prosseguido pelo Público e pelo membro da Casa Civil que lançou a suspeita. É tudo muito óbvio…

4 comentários:

  1. Zé, acho que o nervosismo de Belém tem uma razão essencial. É a certeza de que, para a opinião pública, qualquer acusação de cumplicidade com o PSD da tia Manuela é mais do que plausível.

    Quanto ao Público, por alguma razão deixei de o comprtar. Hoje faço uma leitura ecléctica de todos os jornais, com base nos títulos online que me parecem interessantes. E vale-me muito mais a pena gastar bem o meu tempo com o Guardian, o Le Monde e o New York Times (já vai sendo menos o El País, mas talvez seja embirração minha).

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  2. Discordo apenas do ponto em que refere que num conflito PR - PM quem ficaria a perder seria o PM. Pelo contrário, parece-me que quem tem mais a perder é o Prof. Cavaco, isto quando se atenda a que foi eleito apenas com "metade mais um".
    Ora, essa escassa vantagem, que a meu ver até é hoje já meramente optimista, é um "capital" que mais rápido e irreversivelmente se perderá quanto mais o Prof. Cavaco assome como o instigador e o manobrador de uma "parte", evidentemente o PSD.
    E esse seu desencobrimento cada vez se tornará mais patente. Logo, o "jogo" que ele vem fazendo nas últimas semanas mostra-se extremamente temerário e irreflectido.
    Para mais quando a motivação para fazer isto só pode ser medíocre - pôr lá a Manuela. Só isto. Pois que o que o Sócrates tem feito, nem a Manuela ou os seus fariam nos seus melhores sonhos. Portanto, trata-se apenas de uma questão "fulanizada", não, essencialmente, de políticas.

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  3. O postal acerta na 'mouche', mas tem acaso alguma falta de informação...
    Como é que o PS soube da participação dos assessores de Belém?
    Ora, pela imprensa...
    Ver aqui:
    http://5dias.net/2009/08/18/ai-que-confusao/

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  4. a.m., muito obrigado. De facto, não há nada como realmente...

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