quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

ARTUR SANTOS SILVA NA SIC NOTÍCIAS



UMA ASSINALÁVEL DIFERENÇA DE TOM

Artur Santos Silva, Presidente da Comissão Nacional para as Comemorações do Centenário da República, esteve hoje na SIC N para falar das comemorações e também da situação do país.
Sobre a situação do país falou sobre o défice, a dívida e os investimentos públicos. Apesar de ter dito o que porventura outros já terão dito, houve na sua intervenção uma clara diferença de tom quando comparada com a da generalidade dos economistas que por lá tem passado.
Em primeiro lugar, é preciso que se diga que Santos Silva não é economista de formação. A sua formação é jurídica e apesar de em Coimbra ter leccionado, como assistente da Faculdade de Direito, cadeiras da valência económica da licenciatura, há sempre uma considerável diferença de estilo entre os juristas e os economistas quando abordam temas económicos.
Santos Silva marcou a diferença entre o défice e a dívida, nomeadamente a externa, facto que os economistas passam frequentemente por alto, lembrando que as medidas para atacar um não produzem efeito na outra. E quanto aos investimentos públicos, recusou-se a concretizar, por não dispor de toda a informação de que necessitaria para opinar, limitando-se a dizer que a situação económica exige que se restrinja o investimento público.
Enfim, o que achei diferente na sua intervenção foi o facto de não ter ostensivamente identificado os destinatários directos das medidas de redução do défice orçamental, da dívida e dos investimentos.
Não admira que Santos Silva, oriundo de uma família de largas tradições democráticas e ele também com passado democrático no tempo da ditadura, tenha abordado aqueles temas com a delicadeza política que eles merecem. Pode dizer-se que o simples facto de não ter apontado os alvos é pouco. Talvez, mas no presente contexto em que há uma clara ofensiva no sentido de fazer pagar a crise aos mais fracos, aquele silêncio não pode deixar de ser interpretado positivamente.
Bem vistas as coisas não é de estranhar, para quem o conhece, que tenha actuado assim. Pertencente a uma certa “aristocracia” burguesa do Porto, comprometida com os valores da democracia e da cidadania, ele está pela sua origem de classe e pela sua formação a léguas desses economistas lacaios do grande capital que diariamente nos debitam, sem qualquer originalidade, as receitas habituais qualquer que seja a situação sob análise.

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