O PESO DO PCP NA ELEIÇÃO PRESIDENCIAL
Octávio Teixeira na entrevista que concedeu à Visão de hoje analisa o orçamento – muito bem, embora o pudesse ter feito mais extensamente, o que certamente não sucedeu por culpa da revista – e comenta a candidatura de Alegre com algumas palavras que merecem reflexão.
Nenhum candidato presidencial à esquerda pôde até hoje prescindir do apoio do PCP para ser eleito nos casos em que a candidatura se disputou palmo a palmo com a direita. Esse apoio foi desnecessário na reeleição de presidentes que na candidatura a um segundo mandato arregimentaram praticamente todo o voto do centro e de grandes franjas da direita, a ponto de a própria direita ter ido a jogo com um candidato fraco, derrotado à partida, como aconteceu com a reeleição de Soares e de Sampaio. Mas já não foi assim, bem pelo contrário, com a reeleição de Eanes.
Por outro lado, o tal peso negativo frequentemente imputado ao PCP (principalmente pelo PS que desde o 25 de Abril sempre faz passar a mensagem de que o que poderia ganhar com uma aliança com o PCP estaria longe de compensar o que por outro lado perderia) nunca teve qualquer influência na eleição presidencial, mesmo em épocas de grande crispação política e acentuado anti-comunismo, como se viu com a reeleição de Eanes e a eleição de Soares.
Daqui decorre uma consequência já acima evidenciada: o PCP tem um peso positivo na eleição presidencial que não pode ser negligenciado por qualquer candidato de esquerda que queira ser eleito. O PCP soma, não subtrai.
Quem perdeu a eleição presidencial de 2006 foi o PS não só por não ter apoiado com a antecedência devida um candidato potencialmente vencedor, mas também por se ter divido, lançando a confusão e o desânimo em largos sectores da esquerda e do centro-esquerda.
Na eleição presidencial de 2011 há uma incógnita cuja clarificação é difícil de antecipar: o peso e a importância do eleitorado do Bloco. Quando se fala em eleitorado do Bloco fala-se de duas realidades não necessariamente coincidentes. Por um lado, fala-se do eleitorado do Bloco nas legislativas; por outro, do peso do apoio do Bloco a uma candidatura presidencial. Já se viu (e no presente continua a ser assim) que no PCP estas duas realidades coincidem: o eleitorado do PCP nas legislativas é praticamente o mesmo das presidenciais e o apoio do PCP a uma candidatura presidencial tem um peso positivo. No Bloco, pelo contrário, há todas as razões para supor que o eleitorado das legislativas está longe de coincidir com o das presidenciais e está por esclarecer se o seu apoio excessivamente ostensivo, concedido com uma antecipação exagerada, a um candidato presidencial tem um peso negativo ou positivo.
Penso que é isto o que Octávio Teixeira quer dizer. E isto dito por Octávio Teixeira ou por alguém importante do PCP tem muito mais peso do que dito, por razões diametralmente opostas, por Vital Moreira ou outras personalidades do PS que já se pronunciaram sobre a candidatura.
Manuel Alegre tem condições para se eleito, mas tem de ser muito diplomático. E por aqui me fico...
Dito de outro modo: Octávio Teixeira quer um PR de esquerda ou, ao menos, próximo da esquerda; Vital Moreira quer um PR de direita ou, ao menos, que deteste tudo o que cheire a esquerda.
ResponderEliminarOu será que não entendi? Não faz mal. Se não é o que pensas, penso-o eu.
V
Parece justa esta análise.
ResponderEliminarNão sei se Alegre conseguirá ser diplomático ao ponto de conciliar, numa só candidatura, a direita do PS com o PCP.
ResponderEliminarPara já não falar que "diplomata" não é bem uma característica que me venha à cabeça quando ouço falar de Alegre. Não tanto pela sua prática política (pois tenta levar a água ao seu moinho), mas pela retórica usada nos seus discursos.
Continuo a pensar que o melhor candidato para a esquerda é Jorge Sampaio. Esse equilíbrio e diplomacia é mais natural nele que em Alegre.