ANA APRESENTA NÚMEROS
No último post que escrevemos sobre o aeroporto de Lisboa manifestávamos a nossa perplexidade sobre alguns dos argumentos apresentados para justificar a construção de imediato de um novo aeroporto. E concluímos dizendo que quando a generalidade das pessoas comuns não percebe o que tentam explicar-lhe, o problema não está nas pessoas que não percebem, mas em quem explica.
Ontem a ANA voltou à carga pela voz do seu presidente, afirmando que o tecto máximo da capacidade do aeroporto de Lisboa não está ser respeitado. Esse tecto seria de 11 milhões de passageiros e em 2009 já passaram pelas infra-estruturas aeroportuárias 13 milhões.
E acrescenta que a área por passageiro, de 23 metros quadrados, segundo os padrões internacionais, não está a ser respeitada, já que no aeroporto da Portelas se está praticando a de 16 metros quadrados!
A gente ouve – e nem sequer vai dizer que não percebe – vai é dizer que não acredita no que ouve! 23 metros quadrados por passageiro? Eu não conheço nenhum aeroporto nos quatros cantos do mundo em que se esteja mais à larga do que no aeroporto da Portela. Que dizer de Heathrow, de Los Angeles, de qualquer um dos de Nova York, de Frankfurt, de Orly, de Charles De Gaule e por ai fora? O que é que conta para esses 23 metros quadrados? Como se calcula essa área? Com que espaços se entra em linha de conta?
Depois vem a tal história de que não há lugares no solo para estacionar aviões. É verdade e não é. Tudo depende da gestão do aeroporto. Quantos minutos, depois de chegar a Lisboa, leva um avião para aterrar na Portela? E em Londres? E em Nova York? E na maior parte dos aeroportos da Europa Ocidental e dos Estados Unidos, não falando nos da Ásia, que conheço menos?
Com as 45 portas de embarque que terá em 2011 – e é bom não esquecer as melhorias que o aumento de portas já trouxe aos passageiros em comodidade e em ganhos extraordinários de tempo na distribuição de bagagem - o aeroporto de Lisboa ainda vai ficar melhor do que está hoje.
A pressa de construção do novo aeroporto, nesta altura, cheira muito mais a negócio de obra pública do que a outra coisa. Negócio de que o Estado vai mais uma vez sair prejudicado. Não construir tão cedo o aeroporto – que não faz falta – também deveria fazer parte do PEC!
Cada vez que vem à baila este assunto, arrepio-me com a opinião daquelas pessoas que dizem que o aeroporto está bem onde está, que não é preciso nenhum aeroporto novo, etc ...
ResponderEliminarEssas pessoas não devem trabalhar no centro de Lisboa, como eu trabalho. Na zona do Marquês de Pombal, quando passa um avião, quase que dá para ver a cor dos olhos de cada passageiro, de tão perto que eles passam para aterrar na Portela.
Qualquer dia, em vez de serem as torres gémeas, são as torres das amoreiras, ou outras torres que se situem no caminho. E, nessa altura, "aqui d'el rei", pois, quanto mais tempo o aeroporto se mantiver naquele local, maior o risco dum avião cair no meio de Lisboa. Teremos motivo para termos uma emissão do programa "May Day Desastres Aéreos" da National Geographic TV aqui em Lisboa.
Não acredito que alguém goste deste cenário, a não ser algum hipócrita anti-portista primário a dizer que se cumpriu o querer e a visão de Pinto da Costa.
Claro que a área metropolitana não pode crescer para a zona onde for construído o aeroporto ...
Claro que a zona onde está o aeroporto, na actualidade, tem de ser ocupada por um parque estilo "parque da cidade" do Porto ...
Claro que a merda política e económica que governa o país vai querer encher o bolso com os lucros que esperam ter ao vender os terrenos que compraram em Alcochete, abusando de informação privilegiada. Claro que essa mesma merda vai querer encher o bolso com o que esperam receber dos empreiteiros para encher a actual Portela de prédios. Mas, aí, compete aos habitantes de Lisboa ter tomates no sítio para fazer o que tem de ser feito ...
Caro JM Correia Pinto, está a comparar a gestão de tráfego aéreo de Lisboa com o dessas cidades que escreveu. Esquece-se que boa parte do tráfego aéreo dessas cidades é feito com "low costs" que não voam para Lisboa. Se já é o que é sem os "low costs", imagine-se com os "low costs" a encherem os céus ... Mesmo que eles voem para Alverca (como chegou a ser sugerido), estariam a ocupar espaço aéreo que, actualmente, é ocupado pelos aviões que querem aterrar na Portela.
Não sei como responder, tantos são os erros de facto.
ResponderEliminarPrimeiro: não há qualquer perigo que os aviões passem sobre Lisboa, como não há em muitas outras grandes cidades. O aeroporto da Portela está equipado com o que há de mais moderno para os aviões aterrarem quase de "olhos fechados"; e a maior parte dos aviões que lá aterram está igualmente equipada com o que há de mais moderno. Perigo há sempre, mas é mínimo, e fundamentalmente devido a erro humano. Em qualquer caso incomparavelmente inferior a outros que existem, à superfície, na cidade.
Também não há danos ambientais, ou os que há são muitíssimos inferiores aos que existem à superfície. Finalmente, o ruído praticamente não existe: os regulamentos comunitários não deixam. E depois da meia-noite não há aviões, salvo situações excepcionais, quase sempre motivadas pelo excelente negócio que representam.
As low coast não aterram nos aeroportos que eu referi, nem noutros de idêntica categoria (uma regra prudencial importante é falar pouco do que se desconhece). Aterram em aeroportos baratos, não porque sejam obrigadas (não há discriminação), mas porque as taxas são muito mais baratas.
Por isso, não posso deixar de me rir quando alguns arrogantes jornalistas dão "sinais de fogo" da sua ignorância ao afirmarem que as low coast podem ser mandadas para outro aeroporto. Não podem. As que têm os seus direitos de aterragem no aeroporto de Lisboa não podem ver revogados esses direitos, que são exactamente idênticos aos das outras companhias, ditas regulares. Para que perceba: o tempo das aterragens está dividido em slots e dentro de cada slot há x aterragens; quem tem esse direito não pode ser preterido e que não tem e quer concorrer (não sei se é assim que se diz) a um slot não pode ser discriminado. Se o avião não for comunitário ainda poderá valer o princípio da reciprocidade, mas para os comunitários só vale o da não discriminação.
A única forma de pôr as low coast a aterrar noutro lado é subir as taxas na Portela e criar taxas mais baixas, muito mais baixas, num aeroporto alternativo que lhes agrade, i.e., que elas possam utilizar sem perda do negócio. É preciso porém ter em conta que as cidades que recebem as low coast também têm interesse nelas. Logo, é necessário muita prudência no modo de actuar. Creio, todavia, que haveria forma de resolver este assunto em Lisboa a contento de todos.
Não está perceber que com a construção do novo aeroporto o Estado vai perder uma enorme fonte de receitas, vai ficar com prejuízos que agora não suporta (explicarei num post á parte porquê), ainda vai assumir o risco dos privados, além de lhes dar a ganhar uma "pipa de massa"?
Caro JMCPinto,
ResponderEliminarJá que faz tantas comparações, uma pergunta: que outra grande cidade tem o aeroporto dentro da cidade como Lisboa?
Quanto ao "ruído praticamente não existe: os regulamentos comunitários não deixam" ...é para rir...uma vez interrompi uma aula na Fac Direito quase vinte vezes por causa do barulho dos aviões...por muito menos do que Lisboa suporta, Bruxelas está em pé de guerra...talvez lá não se apliquem os memsmos regulamentos comunitários...francamente!
Caro HY
ResponderEliminarOs três principais aeroportos de New York estão dentro da cidade. Orly cada vez está mais dentro da cidade. Congonhas está "dentríssimo" da cidade.
Com toda a cordialidade devo dizer que também dei aulas na Faculdade de Direito à hora de maior movimento e nunca tive de as interromper. Nessa altura os aviões não estavam, nem de perto, nem de longe, sujeitos aos tais refgulamentos comunitários que obrigaram a uma redução drástica do ruído. Aliás, eu moro ao lado de um corredor aéreo, a cerca de um quilómetro e meio ou dois da cabeceira da pista, e, francamente, os aviões nunca me incomodaram!
Obrigado pelo comentário
JMCPinto
Correcção. Onde está low coast leia-se low-cost.
ResponderEliminarObrigado