terça-feira, 25 de maio de 2010

NO EURO SE DECIDE O DESTINO DA UE




UM ARTIGO DE JÜRGEN HABERMAS

Já depois de ter escrito o post anterior, sobre a entrevista de Barroso, li o artigo de Habermas, publicado no El País de domingo, "NO EURO SE DECIDE O DESTINO DA UE".
O texto do grande filósofo alemão confirma muito do que se tem dito sobre a crise do euro e da Europa, nomeadamente sobre o actual papel da Alemanha.
O que verdadeiramente constitui motivo de espanto é a atitude da maior parte dos nossos políticos, excessivamente preocupados com as questões domésticas, querendo dar a ideia de que os nossos problemas têm uma solução exclusivamente interna e sem coragem para afrontar na cena internacional os problemas de cuja solução em grande medida os nossos dependem.
Isto para não falar dos economistas do establishment. No fundo são políticos que, não se querendo assumir como tal, usam a sua pretensa e demagógica “ciência” para fazer passar a mensagem que de outro modo não teria qualquer hipótese. Por essa razão é que tenho cada vez por mais seguro a ideia de que a economia não é assunto que deva ser entregue a economistas. O caminho mais curto para a desgraça é entregar a condução da política económica a economistas. Pode haver excepções, e há certamente entre nós, mas são excepções sem voz.
Para dar um exemplo: o Brasil moderno, o Brasil que acabou com a dívida, com as intervenções do FMI, com a inflação descontrolada, com a permanente desvalorização da moeda e da sua constante substituição, teve à frente da condução da política económica que operou a viragem, primeiro, um sociólogo, e depois, um médico. Este último sempre muito apoiado, na Presidência da República, por um operário metalúrgico.
A generalidade daqueles economistas (políticos) que se exprime na TV, a que vai a Belém dar conta da sua “preocupação” pela situação do país, a que subscreve o “compromisso Portugal” e recebe milhões no fim do ano ou vende ao primeiro estrangeiro que lhe apareça a empresa cuja privatização reclamou, a que ontem prometia manter na “decisão nacional” a empresa que no dia seguinte entregou ao capital estrangeiro, não é politicamente gente recomendável. É, além do mais, gente inculta, bastante ignorante, incapaz de compreender outra coisa que não seja os interesses imediatos do patrão, os bónus que vai receber no fim do ano, as reformas que pode acumular. Enfim…

2 comentários:

  1. Sobre a questão dos cientistas da economia é interessante ver como em menos de dois anos esses cientistas, para quem as escolhas da sociedade não eram nada ideológicas quase se reduzindo a assépticos modelos matemáticos, passaram da situação de envergonhados com a falência da sua sabedoria para agora voltarem às catadupas a repetirem, à náusea, meia dúzia de citações do catecismo neoliberal. Na situação da maior parte deles (n reformas + salários princispescos+ etc.) quem não estaria disposto a ceder 1,5% em troca da segurança das suas sinecuras?

    Lg

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  2. Já aqui escrevi diversas vezes que você vê claro onde muitos, especialmente os "economistas do regime" vêem escuro.

    Mas atenção que nem toda a gente tem a capacidade intelectual do Dr. Correia Pinto, e meter todos os economistas no mesmo saco é perigoso.

    É que, ao meter tudo no mesmo saco, mete economistas como Octávio Teixeira no mesmo saco de tipos como Mira Amaral.

    Octávio Teixeira, junto como Sr. Dr., tem sido dos poucos que tem alertado para as consequências desta política liberal. Curioso é que é sistematicamente ostracizado pelos meios de comunicação social.

    Não é só aos alemães que custa ouvir umas verdades.

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