QUEM É O SR. X?
Está gerando grande polémica em Espanha a extensa entrevista que Felipe González concedeu a El Pais (J.J. Millás), publicada no domingo passado no suplemento Domingo, daquele jornal.
González confessou que teve uma única oportunidade na sua vida de dar uma ordem para liquidar toda a cúpula da ETA. Todavia, não o fez, mas ainda hoje não sabe se terá agido correctamente.
Está gerando grande polémica em Espanha a extensa entrevista que Felipe González concedeu a El Pais (J.J. Millás), publicada no domingo passado no suplemento Domingo, daquele jornal.
González confessou que teve uma única oportunidade na sua vida de dar uma ordem para liquidar toda a cúpula da ETA. Todavia, não o fez, mas ainda hoje não sabe se terá agido correctamente.
Os serviços secretos espanhóis tinham conhecimento do lugar, do dia e da hora em que se reuniria em França toda a direcção da ETA. À época, não tinham qualquer hipótese de os prender, mas havia a possibilidade de os matar a todos. González disse não, mas…
A longa passagem de Gonzalez à frente do governo de Espanha ficou assinalada pela consolidação da “transição”, pelo desenvolvimento das principais bases do estado de direito e do estado social, pela adesão da Espanha à CEE e pelo realinhamento do PSOE à direita, fazendo dele um típico partido social-democrata de centro-esquerda, à semelhança, de resto, do que então se passava com toda a social-democracia europeia.
Como pontos negros da sua governação ficam o terrorismo de Estado e a corrupção.
A longa passagem de Gonzalez à frente do governo de Espanha ficou assinalada pela consolidação da “transição”, pelo desenvolvimento das principais bases do estado de direito e do estado social, pela adesão da Espanha à CEE e pelo realinhamento do PSOE à direita, fazendo dele um típico partido social-democrata de centro-esquerda, à semelhança, de resto, do que então se passava com toda a social-democracia europeia.
Como pontos negros da sua governação ficam o terrorismo de Estado e a corrupção.
Muito discutível também, inclusive pelo próprio, é o modo como o passado franquista foi tratado. Sendo a ditadura de Franco uma das mais sanguinárias da Europa, internamente até mais do que a de Hitler, todos, sem excepção, ficaram impunes. Passou-se uma “esponja” sobre o franquismo, a ponto de nem a memória das suas atrocidades ser invocada. As condições específicas da transição parecem ter justificado um “pacto de silêncio” ou antes uma “amnistia pelo silêncio”, que anos mais tarde a direita aproveitou em seu benefício.
Da corrupção González defende-se dizendo que a princípio não acreditou no se dizia e que depois, quando quis actuar, já era tarde. É uma justificação pouco ou nada convincente, porque, como dizem os brasileiros, as provas caiam todos os dias em “cachoeira”, sendo impossível ignorá-las.
Quanto ao terrorismo de Estado, não há dúvida de que o Governo estava por detrás do chamado “jogo sujo” contra a ETA, que levou a que a organização separatista basca fosse atacada pelos GAL pelos mesmos métodos que ela utilizava para combater o governo espanhol.
Um ministro e um secretário de Estado foram condenados, mas nunca se veio a saber quem era o “senhor X”, o homem que, em última instância, validava todas as ordens para os ataques (sujos) à ETA.
Há, como se sabe, gente portuguesa, ligada aos serviços secretos, metida nestas acções, que igualmente foi condenada, mas, apesar de todas as ramificações, nunca se veio a provar (juridicamente) quem era o "Sr. X".
Foi em consequência da denúncia de todos estes factos que Aznar (imagine-se), apoiado por uma intensa e virulenta campanha de J. J. Ramirez, do El Mundo, chegou ao poder e governou durante duas legislaturas.
Pois agora, a questão que se põe é saber se aquela confissão de González não representa implicitamente o reconhecimento de que ele era o Sr. X.
Fraga Iribarne, velho franquista, reconvertido à democracia, líder da oposição ao governo nos anos 80, diz do alto da sua quase nonagenária sabedoria: “Quanto menos se fale dos GAL, melhor para Espanha e para Felipe González”.
Da corrupção González defende-se dizendo que a princípio não acreditou no se dizia e que depois, quando quis actuar, já era tarde. É uma justificação pouco ou nada convincente, porque, como dizem os brasileiros, as provas caiam todos os dias em “cachoeira”, sendo impossível ignorá-las.
Quanto ao terrorismo de Estado, não há dúvida de que o Governo estava por detrás do chamado “jogo sujo” contra a ETA, que levou a que a organização separatista basca fosse atacada pelos GAL pelos mesmos métodos que ela utilizava para combater o governo espanhol.
Um ministro e um secretário de Estado foram condenados, mas nunca se veio a saber quem era o “senhor X”, o homem que, em última instância, validava todas as ordens para os ataques (sujos) à ETA.
Há, como se sabe, gente portuguesa, ligada aos serviços secretos, metida nestas acções, que igualmente foi condenada, mas, apesar de todas as ramificações, nunca se veio a provar (juridicamente) quem era o "Sr. X".
Foi em consequência da denúncia de todos estes factos que Aznar (imagine-se), apoiado por uma intensa e virulenta campanha de J. J. Ramirez, do El Mundo, chegou ao poder e governou durante duas legislaturas.
Pois agora, a questão que se põe é saber se aquela confissão de González não representa implicitamente o reconhecimento de que ele era o Sr. X.
Fraga Iribarne, velho franquista, reconvertido à democracia, líder da oposição ao governo nos anos 80, diz do alto da sua quase nonagenária sabedoria: “Quanto menos se fale dos GAL, melhor para Espanha e para Felipe González”.
Interessante... as omissões e os silêncios, as discrições e os enigmas sempre disseram muito mais da História do que documentam os cronistas (figuras que, relembre-se!, ainda hoje existem com a incumbência de escrever a história local de Espanha!!!)...
ResponderEliminarGrande abraço.
... e, claro!, faço link... deste e doutro - nos tempos que correm não podemos "dar ao luxo" de perder pérolas :))
ResponderEliminarDoutor Correia Pinto,
ResponderEliminaracho que ele não mandou liquidar a direcção da ETA por temer que desse em fracasso, que seria muito mais difícil de suportar que o terrorismo de estado praticado através do GAL.