sexta-feira, 17 de dezembro de 2010

O DEBATE CAVACO-NOBRE



O SENTIDO DE UMA CANDIDATURA

É no mínimo deprimente o debate do candidato Fernando Nobre com Cavaco Silva. Não se percebe bem qual o sentido de uma candidatura que não tem nenhum sentido. É claro que qualquer pessoa desde que cumpra os requisitos constitucionais e legais se pode candidatar a Presidente da República. Mas esta não é certamente uma daquelas eleições que justifiquem a apresentação de candidaturas folclóricas, nem de candidaturas de quem tem uma ideia muito difusa do lugar a desempenhar.
Se alguém supôs que, lançando Fernando Nobre à disputa eleitoral da Presidência da República, poderia complicar a vida de outras candidaturas pode dar-se por feliz, não tanto pelo efeito directo que sobre elas terá, mas antes pelo efeito perverso que tal candidatura acaba por ter na presente campanha eleitoral. De facto, a candidatura de Fernando Nobre parece fazer parte de uma encenação destinada a desvalorizar a presença de candidatos concorrentes de Cavaco Silva.
Não quer isto dizer que esse seja o objectivo de Fernando Nobre. Ele faz o que pode. Só que pode pouco.
E compreende-se que possa pouco. É que a experiência de Fernando Nobre situa-se nos antípodas da experiência do homem de Estado. Fernando Nobre vem das ONG que, se não são uma invenção das modernas sociedades neoliberais, foram indiscutivelmente por elas potenciadas.
Quem conhece o movimento das ONG, principalmente na área do moderno assistencialismo e do desenvolvimento, certamente saberá que elas foram (e são) amplamente apoiadas por todos aqueles que combatem o Estado, inclusive dentro do próprio Estado, com base na peregrina ideia de que se há coisas que alguém sabe fazer melhor do que o Estado, então este deve prescindir de desempenhar essas funções para as entregar a quem é competente. Dando-se antecipadamente por assente que o Estado é incompetente e aquele que com ele concorre é competente sem ter de prestar provar nem exibir meios.
Esta teorização fizeram-na amplamente as instituições de Bretton Woods que, na sequência do tristemente célebre “consenso de Washington”, se não cansaram de fazer apologia das ONG e, simultaneamente, a luta contra a actividade do Estado nos mais diversos domínios.
Por todas estas razões e ainda porque, contrariamente ao que, pelo menos na aparência, deveria ser a sua matriz, é com o dinheiro do Estado e de Organizações internacionais que tais entidades se propõem substituir o Estado, não admira que Fernando Nobre tenha alguma dificuldade em compreender como funciona o mais alto lugar da hierarquia do Estado.
Quanto ao candidato Cavaco Silva, o mesmo reparo de sempre. No contexto em que Portugal está inserido não há caminho, estreito nem largo, para sair da crise que não passe necessariamente pela alteração das actuais condicionantes externas desse contexto. Supor que existe uma saída para a crise, dentro da zona euro e da UE, com o actual quadro normativo e as correspondentes políticas por ele ditadas é uma ilusão que se vai pagar muito caro. E Cavaco, mais do que ninguém, deveria saber isso. Não sabendo, apesar da vantagem que oponentes como Fernando Nobre lhe asseguram, não vai estar à altura do Presidente que o país precisa!

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