BREVES CONSIDERAÇÕES SOBRE A ACTUALIDADE
1 -A grande questão com que Passos Coelho se defronta é a de saber quem vai mandar no Governo. Há, como se sabe, três candidatos: o próprio, que se considera legitimado pelo voto popular para exercer as funções de coordenação e direcção do executivo; Paulo Portas, que pela primeira vez chega ao poder com um líder do PSD mais fraco do que ele e que, além disso, se considera muito mais preparado e capaz; e, por último, Belém, que quer ter um papel preponderante no próximo executivo não apenas pela informação segura que quer recolher a tempo e horas, mas fundamentalmente pela presença nele, em pastas importantes, de gente da sua confiança com que possa falar e aconselhar à vontade sem peias institucionais.
Neste jogo complexo, Portas tenderá a apoiar conjunturalmente Belém, insistindo em nomes próximos de Cavaco ou por este aceites sem reservas. Quer dizer, Portas não só está tendo inteira liberdade na escolha dos ministros do CDS como está opinando sobre os do PSD.
Perante este cenário, o desamparado Passos Coelho – ele está amparado em Relvas, mas isso conta pouco – começa por jogar a sua credibilidade na composição do Governo, mais do que da sua orgânica. Se as pastas-chave forem ocupadas por nomes próximos de Cavaco e do CDS, como muito provavelmente vai acontecer, o indigitado Primeiro Ministro dificilmente recuperará a autoridade que à partida perdeu.
Há muita boataria a correr, como sempre, mas também há algumas brincadeiras de Carnaval como a de Bessa ir para as Finanças e Barreto para a Justiça…
2 - O triste episódio Nobre parece estar resolvido. Ao que tudo indica o CDS não o apoia e o PSD cumprirá a palavra, acabando por ter de indicar outro nome por rejeição de Nobre. Para além de tudo o que vai acontecer seria um desprestígio para o Parlamento ter Nobre como presidente. Portas sentiu que tinha a esmagadora maioria da opinião pública por si e não teve dúvidas em pôr cobro ao oportunismo de Nobre, embora o gesto não deixe de revelar a tal supremacia de que acima falámos.
3 – Entretanto, os candidatos do PS vão dizendo muita coisa: uns que são de esquerda; outros que também são; uns e outros muito responsáveis e por ai adiante. Mas o que a gente quer é actos. De palavras e promessas está o PS cheio…e nós também. Só depois é que se vai ver, mas não há nenhuma razão para supor que desta vez vá ser diferente das demais.
4 – Para terminar, ai está a Grécia a mostrar a todos qual não é o caminho e que outras vias têm de ser trilhadas. Enquanto o BCE e a Merkel se entretêm numa disputa que para os devedores é pouco menos que irrelevante – de facto, a Merkel, cheia de derrotas, quer agradar aos eleitores e o Trichet, obediente, não ousa desagradar aos banqueiros – já que nem uma nem outra “solução” resolvem o que quer que seja, na Grécia o governo está em vias de cair, o povo não pára de se manifestar e a rejeição popular das medidas impostas é praticamente total.
A Grécia está dando o exemplo e é esse o caminho que tem de seguir-se. A luta tem de ser feita na casa de cada um. É utópico supor, como tantas vezes aqui se tem dito, que os periféricos se podem unir em busca de uma solução diferente e que em comum lhes agrade. Isso jamais acontecerá, mas a luta pode potenciar-se se cada um, no seu próprio espaço, fizer a sua parte. Somente neste caso é que luta de todos valerá mais do que a simples soma das partes.
Mas ainda há um longo caminho a percorrer. Em Espanha, a luta está na rua e tenderá a alastrar-se. Em Portugal há muita gente sinceramente convencida de que as coisas vão agora mudar para melhor. Mesmo aqueles que mais penalizados vão ser pelas políticas que a coligação vai pôr em prática acreditam numa melhoria da situação. Por isso, vai ser preciso algum tempo…
Finalmente, há entre os que protestam uma maioria considerável que ainda acredita que serão aqueles que governam (ou costumam governar) que acabarão por atender às suas reivindicações. E todo o protesto vai um pouco no sentido de uma maior equidade na distribuição dos rendimentos, directa ou indirectamente, a começar pela conquista de emprego. Só quando quem protesta perceber que as coisas apenas mudam realmente quando forem eles próprios a decidir sobre o seu futuro, é que as coisas vão realmente mudar. Leva o seu tempo, mas há muitas décadas que não havia uma situação tão favorável como aquela que a voragem da crise está a criar. Quanto mais a ganância se exacerba, mais perto estaremos de dar a volta a isto.
Espero que não seja necessário assim tanto tempo. Afinal, os gregos só precisaram de um ano de garrote austeritário para porem a tremer, hoje e certamente nos próximos tempos, toda esta Europa bem comportada, esta nova versão tonta do espírito europeu de "congresso valsante".
ResponderEliminarAi esta Dr. Correia Pinto e de facto o cenario do futuro mais proximo e, tudo correra de forma natural! Depois sim, todos vao fazer falta. Fantastico post. Obrigado H.
ResponderEliminarVai-me desculpar, mas quanto aos caminhos que devemos seguir para resolver os problemas do país que nos afligem, acho que não está a ser muito explícito. Naturalmente é burrice minha, mas não pode ser mais claro?
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