O PS COMO PARTIDO DE OPOSIÇÃO
As conclusões preliminares do debate de hoje são fáceis de enunciar: a democracia representativa é uma fraude e o PS como partido de oposição não existe. Não é só Maria de Belém que não beneficia das condições para desempenhar, na presente conjuntura, o papel de líder parlamentar do, apesar de tudo, numericamente maior partido de oposição. É o PS que está atado de pés e mãos ao “Memorandum da Troika” e ao programa do governo. Usando uma imagem futebolística, o PS está para o governo como o Braga e a Académica estão para o FCP. Corre o risco de lhe acontecer o mesmo se não arrepiar caminho muito rapidamente.
Quanto à democracia representativa, já por múltiplas vezes aqui o tema foi abordado, algumas delas com algum aprofundamento, evidenciando as suas naturais e conhecidas limitações, que, como se sabe, se agravaram a partir do momento em que os partidos passaram a desempenhar um papel hegemónico em detrimento dos cidadãos. Todavia, o que agora se passa é mais grave: depois de inúmeras “juras”, tanto do CDS como do PSD, garantindo antes e depois da campanha eleitoral que jamais aumentariam os impostos para combater o défice, ei-los na primeira aparição parlamentar a decidir exactamente o contrário.
Ou seja, não só por este exemplo se evidenciam as consequências da atribuição de um mandato irrevogável e incondicionado, como se vê também a nulidade que o Parlamento representa enquanto órgão deliberativo (teoricamente) representativo da vontade popular. Aqueles senhores que estavam na bancada do Governo nem sequer tiveram a gentileza de dizer que iriam propor ao Parlamento um determinado programa de austeridade. Apresentaram-no como facto consumado, tratando a maioria parlamentar como uma simples câmara de ressonância da vontade do Governo – aquilo que na verdade ela é. Não há nada como a transparência …
Do debate de hoje colhe-se ainda a ideia de que o Ministro das Finanças é um crente, venera a “fada da confiança” e tem um efeito relativamente soporífero sobre a bancada parlamentar. O que é duplamente grave no momento presente: distrai a atenção de quem o tenta escutar e permite-lhe enunciar medidas gravíssimas sem suscitarem de imediato a reacção que outro estilo necessariamente provocaria.
Por último, a intervenção de Basílio Horta. Um homem vindo do “primitivo” CDS, hoje à esquerda da bancada “socialista”. Fez uma excelente intervenção, bem fundamentada e arrasadora para a bancada do Governo, tanto no plano técnico, como político.
Concordo consigo em relação ao Basílio Horta. Gostei de ouvir aquela velha raposa da política nacional, com os óculos pendurados na ponta do nariz enquanto se debruçava sobre a bancada do governo (para que o ouvissem bem). Um velho democrata-cristão a dar lições a uns meninos neoliberais.
ResponderEliminarEstes senhores do Governo atreveram-se semear uma recessão no final de Junho. Surpreendentemente, nem esperaram por Setembro.
O consumo interno irá ressentir-se desde já, com os portugueses a tomarem algumas decisões, no sentido de reduzirem o consumo. Bonito serviço para a economia nacional!
(No que me toca, ainda nem tinha terminado o debate na Assembleia e face ao anunciado corte no subsídio de Natal, apressei-me a correr ao balcão da ZON para pedir a cessação do serviço. Coisa supérflua, quando se tem um prato de satélite através do qual se podem captar canais informativos em sinal aberto, sem pagar um tostão).
É também a democracia representativa que está em crise neste momento: assim acontece quando começamos a duvidar dela.
Saudações.