terça-feira, 27 de março de 2012

PRIVATIZAÇÃO DA TAP – UM CRIME DE LESA-PÁTRIA


O QUE SE PERSPECTIVA



É de facto espantoso que a direita portuguesa, que até tinha uma tradição soberanista, tenha deixado cair uma após outra algumas das características que mais a marcavam para se ter transformado numa direita neoliberal disposta a alienar ao capital estrangeiro o património estratégico da economia e até simbólico da independência nacional e que da direita de que é descendente em linha recta só guarde os tiques de autoritarismo e o tradicional desprezo pelos mais pobres que alguns tentam, agora como dantes, disfarçar com um discurso assistencialista que humilha e degrada os destinatários que se vêem obrigados a aceitar as esmolas de que precisam para viver em lugar dos direitos que a cidadania tinha obrigação de lhes assegurar.

É ainda lamentável que essa direita reaccionária esteja disposta a terçar armas pela perda de algumas consoantes que a língua portuguesa pomposamente ostentava e ache perfeitamente natural que sectores estratégicos da economia nacional, alguns até revestidos de grande simbologia, sejam alienados a estranhos e corram inclusivamente o risco de desaparecerem ou de perderem a projecção que hoje têm em nome de uma estratégia soberanista levada a cabo por países que desde há séculos cobiçam aquilo a que se poderia chamar o “património cultural português”.

É isso o que necessariamente se passará com a privatização da TAP. A TAP representa no imaginário português e, principalmente no dos países de língua portuguesa, muito mais do que uma simples empresa. Ela um traço de união entre Portugal e as suas comunidades no estrangeiro e é também um factor de prestígio de Portugal em África e no Brasil, que presta sem o saber, pelo simples facto de existir, um papel político impar na ligação de Portugal a esses países.

A venda da TAP a qualquer empresa europeia – e só a uma empresa europeia ela poderá ser vendida – representa a perda simbólica, e depois material, dessa ligação, quaisquer que sejam as promessas que o capital vá fazendo ou que o contratos aparentemente consagrem. Estas coisas não podem ser negociadas, pela simples razão de que a soberania se não negoceia!

Portugal é hoje infelizmente governado por uma geração da direita radical para quem nada disto tem valor. Gaspar, no seu fundamentalismo ideológico, não é capaz de ver mais nada à frente dos olhos do que a execução de um programa de Governo que consagre as doutrinas de Milton Friedman, aplicadas com a devoção e o fervor típicos dos discípulos fanáticos, e Passos Coelho é, pela sua impreparação, incompetência e incultura, igualmente incapaz de compreender a complexidade do que está em jogo na Europa dos nossos dias. E de Portas nem vale a pena falar, porque o oportunismo não é para aqui chamado.

Enquanto na própria Europa os países preservam cada vez mais a sua soberania, mesmo aquelas que apesar de politicamente recentes se exprimem, para lá das contingências políticas, por uma identidade cultural profunda, como é o caso da Itália onde  Mario Monti tomou várias medidas nesse sentido, enquanto estes países, dizíamos, vão preservando os sectores estratégicos da economia da penetração do capital estrangeiro, Portugal – este Governo – vai esvaindo e desapossando o país de tudo o que é económica e simbolicamente importante.

Sim, porque a TAP, para além da sua enorme importância política, tem também uma extraordinária importância económica. A TAP é a maior ou uma das maiores empresas exportadoras portuguesas. E como se pode compreender que um Governo que tanto fala em exportação se proponha colocar em mãos estranhas uma actividade economicamente tão determinante? Uma actividade que, a ser privatizada, ficará a partir de então sujeita às estratégias próprias de quem administra o capital em função do lucro num quadro empresarial mais vasto.

Perder a TAP é virar as costas à África, é sacrificar as relações com o Brasil, é perder, no estrangeiro que verdadeiramente nos interessa, o que resta do prestígio de Portugal nas suas relações com esses países.

Alguém tem de pôr cobro a esta política. Alguém tem de terminantemente dizer NÃO! Esse alguém deveria ser, pela própria “natureza das coisas”, o Presidente da Republica. Mas já se percebeu que não será com ele que os portugueses podem contar para impedir a consumação destas políticas. Ele está lá para as coisas pequeninas, para umas vingançazinhas impróprias da função, para tratar de umas reformazinhas que estavam em vias de não ser pagas, enfim, para coisas sem importância. Por outras palavras: ele, Cavaco Silva, é o Pai espiritual desta geração que nos governa.

Quando a soberania está em jogo, quando aos poucos, mas determinantemente, ela vai escasseando até desaparecer por completo, só as Forças Armadas podem ter a palavra decisiva. E aqui a palavra das Forças Armadas é dizer: NÃO! A TAP NÃO!



  

11 comentários:

  1. ainda por cima a TAP tem dado lucro nos últimos anos.

    é incompreensível de todo.

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  2. 100% de acordo.
    O problema é que depois das canalhices feitas para chegar ao pote, não se pode desperdiçar a ocasião.

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  3. É tudo uma questão de coerência, caro Zé Manuel.
    Se o mentor destruiu as pescas, o que restava da agricultura e à indústria fez o que todos sabemos, nada mais coerente do que os seus pupilos continuarem-lhe a obra quanto ao que ainda resta.
    Quanto à tropa, está bem e recomenda-se. Além disso, o meu caro amigo esquece que uma tropa só com generais é uma tropa fandanga. Não estão para se chatear. A vidinha até lhes corre bem, para quê meterem-se em trabalhos e chatices. Ou já se esqueceu da vida “árdua e difícil” de alguns que nós bem conhecemos?
    JR

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  4. Pois é, meu Caro JR, às vezes a gente esquece-se que as FA já não são a emanação do povo...
    Abraço
    CP

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  5. O catedrático Vital Moreira diz que não é crime. Leia-se o CAUSA NOSSA.

    Filho de Putin

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  6. O autor tem razão. Eu, nas pouquíssimas vezes que andei de avião, sempre que pude, andei na TAP e nunca me senti mal, apesar do que muitos portugueses "muito finos" normalmente dizem.
    Agora o autor também não deverá esquecer que, ainda não há muito, defendeu a PT para os portugueses, contra os castelhanos, num discurso em parte adoptado pelo Sócrates, e viu-se no que a defesa do "interesse" nacional deu, apenas uma carteira com mais umas centenas de milhões para os Espírito Santo e Ciª que depois agradeceram numa escandalosa fuga fiscal....
    lg

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  7. O caso da PT era diferente. Mas isso não invalida que lg não tenha razão na crítica que formula. De facto, a posição correcta teria sido “bater” na OPA e desancar nos outros, defendo uma solução que assegurasse realmente o interesse nacional.

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