terça-feira, 15 de maio de 2012

A GRÉCIA VAI NOVAMENTE A VOTOS




POR QUE NÃO FALIR NO EURO?



Bruxelas começa a ficar seriamente incomodada com a hipótese, cada vez mais provável, de a Grécia falir no euro.

Feitas as contas, entre a espiral “austeritária” e a falência no euro, os gregos nada teriam a perder com a segunda hipótese e até poderiam ter algo a ganhar, tanto analisando a isoladamente a situação assim criada como integrando-a nas consequências devastadores, para a zona euro, que a viabilização de tal hipótese necessariamente provocaria.

Pensar a falência da Grécia no euro como um acto isolado com consequências apenas dentro do território grego é um mero exercício académico, sem qualquer hipótese de coincidência com a realidade. Pelo contrário, a falência da Grécia no euro é um acto de consequências em toda a zona euro, provavelmente tão devastadoras, que tudo será feito para impedir que tal aconteça.

O caminho mais simples, já em pleno desenvolvimento, tanto pelas declarações de Schäubler como de Barroso, além da tradicional ambiguidade de Jean-Claude Juncker, é empurrar a Grécia para fora do euro. Uma saída controlada pela Troika, pelo menos, no que diz respeito às consequências para terceiros. Entre a ameaça e o conselho, esta é uma hipótese que não está de todo afastada se as eleições de meados de Junho derem maioria (pouco provável) aos partidos da Troika. Se esse não for o caso, como se espera – e muitos temem –, a Grécia manter-se-á firme na sua nova base negocial: rejeição da austeridade (o mesmo é dizer da completa hegemonia da sociedade neoliberal, no caso concreto ao serviço exclusivo do estrangeiro, fazendo da Grécia um verdadeiro Estado-vassalo) e manutenção no euro.

Pensar a falência da Grécia no euro significaria, no que respeita aos recursos do Estado, ficar numa situação sensivelmente melhor do que aquela em que o país agora se encontra. De facto, o orçamento grego, por força da recessão que assola a Grécia desde que se iniciaram os programas de austeridade, está a beira de alcançar um superávide primário. Ou seja, sem o pesadíssimo fardo da dívida, as despesas estão em vias de ser cobertas pelas receitas que o Estado arrecada. O que, por outras palavras, significa que a tal “ajuda” recebida da União Europeia se destina exclusivamente ao pagamento dos credores e…a fazer mais dívida!

A Grécia deixará de ter acesso a essas “ajudas”, mas não estaria impedida de se financiar no mercado, se houver quem lhe empreste dinheiro.

No que respeita a actividade económica fora do Estado, as importações iriam certamente contrair-se – e muito, dando eventualmente lugar a alguns problemas de abastecimento – tendendo, por essa razão, a balança comercial para o equilíbrio. Por outro lado, os bancos continuariam a ter acesso, como até aqui, ao Banco Central, já que juridicamente nada permite negar à Grécia o acesso à liquidez que o BCE proporciona aos demais bancos da zona euro, nas mesmas condições destes. Aliás, este seria o único meio de salvar da falência o sistema financeiro grego – falência que necessariamente ocorreria se a Grécia regressasse ao dracma. O mesmo se poderá aliás dizer das empresas endividadas em euros, que igualmente faliriam, com o regresso do dracma.  

Além de tudo isto, a Grécia teria oportunidade de, sob o seu exclusivo controlo, pensar e executar as reformas de que o Estado e a economia grega necessitam, com a garantia, que se espera os factos não venham a desmentir, de tais reformas serem feitas no exclusivo interesse do país, o mesmo é dizer de quem trabalha e produz, e não dos agiotas, das clientelas e dos interesses patrimonialistas que minam o Estado grego.

Isto era o que aconteceria à Grécia isoladamente considerada. E a quem está fora, o que aconteceria?

Primeiro que tudo, uma dívida de 240 mil milhões de euros que ficaria por pagar. A tal dívida que agora está sendo paga com as “ajudas”. E, além desta, a dívida privada que eventuais falências gregas tornariam igualmente incobrável. Mas não seria tudo: a credibilidade do euro ficaria definitivamente abalada. Mesmo que a sua relação quantitativa com as outras moedas não sofresse um sério dano (como, de resto, não tem sofrido durante a presente crise), a sua relação qualitativa ficaria seriamente danificada. Quem mais aceitaria o euro como reserva de valor se um país falir dentro da sua zona?

Mas há mais: as bolsas reagiriam negativamente à falência da Grécia, arruinando múltiplas empresas por essa Europa fora. E os “mercados” tornariam insustentável a situação da Espanha e da Itália, chegando estes para deitar por terra a zona euro.

Em conclusão: a Grécia tem muito a ganhar e nada a perder em falir no euro. É a sua única arma negocial.

Que pena nós não sermos a Grécia…


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