O PS E A POLÍTICA DE
AUSTERIDADE
Um ano depois da entrada da Troika em Portugal e de
evidenciada pelos números, pela situação da economia portuguesa e,
principalmente, pela situação social dos portugueses, a falência das políticas
impostas pelo Memorandum de Entendimento, com a colaboração do PS, PSD e CDS; depois
do agravamento da situação grega e da falência iminente da Espanha igualmente
potenciada pelas políticas recessivas que desde há mais de um ano lhe vêm sendo
impostas, ao PS só restava denunciar o acordo que assinou com base na
impossibilidade política superveniente da sua execução.
Há, com efeito, limites para o sacrifício dos portugueses e para
a degradação do património material e imaterial do país que não podem ser
transpostos, na defesa de interesses alheios, sob pena de traição.
E, em Portugal, está-se nessa fronteira. Depois dos números
ontem divulgados pelo INE ficou a saber-se que a situação das contas públicas
portuguesas é agora ainda pior do que antes do início do Programa de
austeridade. Ao PS cabe decidir se vai juntamente com os partidos mais
reaccionários da Europa transpor aquela fronteira ou se, pelo contrário, se vai
rebelar contra essa situação.
De nada adianta ao duo Zorrinho-Seguro andar a “fazer de
conta” que estão muito incomodados com a deterioração económica e social do país promovendo no
Parlamento a aprovação de uma resolução sobre políticas de crescimento com a
falsa indicação de que se trata de uma “adenda” ao Tratado Orçamental.
É evidente que não se trata de nada disso já que, como sabe qualquer
principiante de direito, as negociações de um tratado internacional encerram-se
com a sua assinatura e não podem a partir daí ser reabertas, a menos que todos
os negociadores nisso concordem.
No caso português a situação ainda é mais caricata, porque
apesar de o dito tratado não estar em vigor na ordem internacional – e espera-se
que nunca venha a estar – ele já foi aprovado pelo Parlamento estando a sua
ratificação apenas dependente da decisão do Presidente da República –
ratificação que muito provavelmente acontecerá pois não se vê que Cavaco seja
homem para se opor ao Tratado.
Por outro lado, a tal adenda nem sequer pode funcionar como
uma reserva, por duas razões que Seguro deveria bem saber – em primeiro lugar, porque
não se podem apor reservas depois da aprovação e em segundo, porque não há
reservas que contendam com o objecto essencial do Tratado. Além de que nunca os
partidos do Governo aceitariam interpretar tal resolução como uma reserva.
Portanto, e por palavras mais simples, a tal resolução sobre
a “Adenda” ao Tratado Orçamental não passa de uma vigarice política sem
qualquer valor jurídico, fruto da má consciência e covardia políticas de quem
não ousa enfrentar a situação e pretende através de manobras de diversão fazer
crer na opinião pública que está a promover algo para inverter a situação. Não
está! Está a colaborar com ela e a apoiá-la umas vezes com o seu assentimento
implícito e outras, a maior parte, explicitamente.
E o PS não pode ter qualquer ilusão sobre o que na boca e nas
políticas da direita significa “crescimento”. Crescimento é, para a direita, algo
que se consegue pelo “aprofundamento das reformas laborais e das reformas
estruturais” – ou seja, pela eliminação dos direitos do trabalho e sua transformação
numa mercadoria como qualquer outra livremente transaccionável num mercado
completamente desregulado!
No presente momento histórico, em que na Europa cresce a luta
contra as políticas de austeridade e está em curso um movimento tendente a
isolar a Alemanha e os seus fiéis acólitos, a única posição que politicamente interessa
tomar é afrontar corajosamente aquelas políticas repudiando-as e rejeitando-as
e não andar a “fazer cócegas” às políticas de austeridade que é aquilo que o PS
anda a fazer.
Se o PS quer participar na luta que visa evitar o naufrágio
da Grécia e a falência da Espanha bem como a degradação económica e social de
Portugal, e com eles o afundamento da União Europeia, o que tem é de rasgar o
Memorandum da Troika e manifestar-se abertamente contra as políticas de
austeridade.
Estar a negociar com esta direita é um acto de cumplicidade
que o PS vai pagar muito caro. Uma direita, como ainda ontem se viu em
Bruxelas, que entre a defesa dos interesses dos portugueses e a fidelidade
ideológica à ortodoxia neoliberal não hesita um segundo na defesa desta contra
os interesses daqueles. Uma direita que não tem qualquer problema em degradar drasticamente
as condições de vida dos seus concidadãos, que promove o desemprego, que remete
para a marginalização social centenas de milhares de trabalhadores, que
desqualifica o trabalho e os seus direitos, que despreza os reformados e os
doentes, que promove o elitismo no ensino, é uma direita com a qual negociar significa
colaborar.
O PS está no limite temporal das opções: ou está de um lado
ou fica do outro.
"Se o PS quer participar na luta que visa evitar o naufrágio da Grécia e a falência da Espanha bem como a degradação económica e social de Portugal, e com eles o afundamento da União Europeia, o que tem é de rasgar o Memorandum da Troika e manifestar-se abertamente contra as políticas de austeridade."
ResponderEliminarSe o fizer, como explica a si mesmo o trajecto seguido até aqui?
Não vejo o PS com rasgo de asa para afrontar com quem se deu tão bem... (as escaramuças que ia havendo eram para "inglês ver")
Concordo. Esta política de austeridade tem de acabar. Devemos solidarizar-nos com os nossos deputados que agora já só vão poder escolher entre 4 marcas de whisky com mais de 20 anos. Assim não se pode trabalhar...
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