quarta-feira, 19 de setembro de 2012

MARCELO REBELO DE SOUSA OU A FALSIDADE EM POLÍTICA


 

DIZENDO MELHOR: A APOLOGIA DA ARTE DE VIGARIZAR
 
 

 

A posição de Marcelo Rebelo de Sousa já aqui foi analisada no essencial. Marcelo, tal como a direita pura e dura, não está contra nenhuma das medidas anunciadas por Passos Coelho e Gaspar. Quem seguiu com atenção as suas campanhas de intoxicação dominicais – Santana Lopes chamava-lhes homilias – logo percebeu que nenhuma das medidas que o Governo até hoje aplicou ou se propõe aplicar mereceu o repúdio de Marcelo, seja por inconstitucionalidade, seja por ferir os mais elementares princípios de justiça a qualquer governante está obrigado.

Para Marcelo a questão nunca se pôs assim. Nem mesmo a escandalosa proposta da taxa social única mereceu, sequer no plano jurídico, qualquer reparo de Marcelo. Nesse plano ele pode orgulhar-se de estar bem acompanhado por dois “falecidos” constitucionalistas de Coimbra que também nunca viram nas medidas de Coelho, pretéritas ou actuais, qualquer tipo de inconstitucionalidade. Talvez Marcelo também entenda, tal como os "falecidos" acima referidos, que há um estado de emergência nacional – salvar os bancos da bancarrota, pagar as PPP, pagar as rendas à EDP etc, etc. – que suspende a Constituição e tudo, mas tudo, justifica.

De facto, Marcelo nem sequer perante o imenso clamor popular recua. Ele acha que tudo é um problema de comunicação. Em política, quando alguém diz que há um problema de comunicação aquilo para que basicamente está a apelar é à vigarice. Ou seja, o importante não é alterar aquilo que a maioria rejeita. O importante é apresentar as coisas de modo a que aqueles que as rejeitam passem a aceitá-las ou, pelo menos, a tolerá-las. Como as coisas não mudam a sua natureza em função do modo como são apresentadas, Marcelo está profundamente enganado se pensa que é com retoques cosméticos que as políticas de Passos e Gaspar passam de rejeitadas a apoiadas.

Marcelo, ao desmultiplicar-se em conselhos tácticos sobre o modo de actuar do Governo, trata os membros do executivo como burros, quando eles o que são é profundamente reaccionários e menospreza a inteligência de pelo menos uma parte do Conselho de Estado.

Marcelo, ao falar durante mais de duas horas sobre a crise sem praticamente alguma vez tratar do fundo da questão, ou seja, não valorizando a opinião e o estado de espírito das pessoas comuns neste preciso momento, bem como a dimensão quantitativa desta verdadeira rejeição popular, está-se a iludir a ele próprio, criando ou propondo cenários que só existem na sua cabeça. Por outro lado, além de uma profunda insensibilidade social – o que não é de admirar numa pessoa oriunda da tal direita fascista de que aqui temos falado -, Marcelo revela também uma profunda ignorância sobre o funcionamento da economia. Marcelo acredita, tal como Passos e Gaspar, aliás na esteira do mais retrógrado pensamento económico contemporâneo, que será pela via da austeridade cada vez mais violenta, pelo desemprego em massa, pelas falências em cadeia que a “salvação” de Portugal acontecerá.

Marcelo é habilidoso para fazer piruetas políticas, mas é pouco profundo nas suas análises provavelmente por estar muito condicionado pelo pensamento que desde jovem o formou - a intimidade com os corredores do poder fascista – e que agora estava a ver recriado com o fascínio de quem pensa que pode fazer o tempo voltar para trás.

Com estas intervenções sobre a austeridade, Marcelo cavou definitivamente a sua sepultura política…ele que anda há décadas a tentar encontrar para o seu epitáfio político algo mais do que a simples menção de Ministro da Intriga Política num governo de Balsemão!

6 comentários:

  1. Estou cheio desta coisa de "estarmos numa emergência" e outras coisas semelhantes.
    Se isso é verdade não é ao pr que deve decretar o dito estado ouvido o respectivo Conselho? ou qualquer tipo pode passar a dizer que estamos nesse estado?

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  2. Ah grande martelada!
    Estou consolado...

    A.M.

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  3. Muito bem dito! As observações dele(s) nunca têm a ver com o respeito pela Constituição, mas sim com os "erros" na forma de enganar eficazmente os mais incautos. É o Professor (como os lambe-botas gostam de o tratar) manipulador.

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  4. Hum... "dois falecidos" constitucionalistas de Coimbra, hem?
    Não quer V. Exª fazer o obséquio de nos dizer os nomes?
    Ou será que quer a gente se ponha a adivinhar?

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  5. faltou um "que" na última linha.

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