MAIS UM CASO
O que se passou a propósito da extensão a Portugal (e à
Irlanda) da chamada “suavização” das condições impostas à Grécia pelo Eurogrupo e pelo FMI é
mais um triste exemplo da ausência de um Governo digno desse nome à frente dos
destinos do país.
Nem sequer importa aqui discutir se as novas condições da
Grécia vão ou não resolver os problemas com que os gregos se deparam. Quem não
está intoxicado pela “ausência de alternativa” sabe perfeitamente que a decisão
do Eurogrupo/FMI mais não foi do que um simples paliativo destinado a tentar esbater as
dramáticas consequências de uma política sem saída, imposta pelos credores, que
agrava drasticamente as condições de vida do povo grego. Uma política cuja
responsabilidade recai fundamentalmente sobre a Alemanha mas também sobre todos
aqueles que, por subserviência ou cálculo político, a apoiam, quaisquer que
tenham sido as responsabilidades iniciais dos governantes gregos.
O que importa sublinhar é que do ponto de vista daqueles que
acreditam que a “suavização” concedida à Grécia pelo Eurogrupo/FMI pode traduzir-se
num relativo alívio das medidas de austeridade e das políticas restritivas que
têm sido impostas aos devedores, se justificava a sua extensão a Portugal e à
Irlanda. E foi isso que Jean-Claude Juncker começou por afirmar à saída do
Eurogrupo, tendo logo a seguir Victor Gaspar dito mais ou menos o mesmo.
Umas horas depois o ministro alemão da economia, Schäuble,
veio dizer exactamente o contrário logo secundado pelo seu homólogo francês.
Ainda o eco destas palavras se não tinha esbatido na Europa, já Passos Coelho
em Cabo Verde se apressava a concordar com a posição alemã.
Este triste episódio só ganha importância por representar com
muita fidelidade o que é hoje a União Europeia.
Juncker, que diz ter muita simpatia pelos portugueses, provavelmente
por ter ao seu serviço como empregada doméstica alguma nossa concidadã, faz
frequentemente o papel de “polícia bom”, sem nunca se esquecer de a hora da
verdade obedecer caninamente à voz do chefe. E Victor Gaspar que, apesar de
todo o seu dogmatismo, começou por reclamar igualdade de condições para os “países
de programa”, também não teve qualquer problema em mudar de opinião mal
pressentiu que aquele não era o caminho indicado pela ortodoxia dominante. Por
seu turno, a França de Hollande, em quem os nossos socialistas depositavam
tantas esperanças, depois da aparente arrogância inicial, tem cada vez mais
saídas de sendeiro, recebendo como recompensa dos alemães o pseudo estatuto de
par privilegiado, farsa em que os franceses participam convencidos de que é
esse o estatuto que os demais lhe atribuem. Finalmente, Passos Coelho é o
exemplo acabado da subserviência política, capaz de tudo sacrificar a uns
elogios de ocasião e a umas palmadas nas costas dadas com o ar paternal de quem
conta com uma obediência submissa.
E pode um Governo destes continuar a governar?
Pior que tudo isso é a vergonha da nossa atitude: andamos há anos a dizer que "Portugal não é a Grécia" e de um momento para o outro já todos querem "ser Grécia". Quem nos topou foi o JP Sartre que logo em 74 fez a melhor descrição de Portugal: "Um manicómio em auto-gestão"! De então para cá, nada mudou; seja esquerda, seja direita...
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