A PROMESSA DE CAVACO
Não é a primeira vez nem provavelmente será a última que
Cavaco faz pública exibição das suas capacidades para a baixa política. Fê-lo
por várias vezes quando desempenhou as funções de Primeiro Ministro e continua
a fazê-lo agora, como Presidente da República. Depois de um período de
contenção imposto pela maioria absoluta de Sócrates, Cavaco não resistiu ao
impulso da baixa política e lá o tivemos na plenitude das suas aptidões no
famoso episódio da “intentona das escutas”.
A partir daí não mais parou, favorecido a partir de certa
altura pela perda da maioria absoluta pelos socialistas. Enquanto não derrubou
o Governo de Sócrates Cavaco não descansou. Fê-lo por vingança pessoal, que é
aliás a motivação mais frequente das suas actuações, mas também para facilitar
a chegada ao poder da direita e do seu partido.
Quando ao fim de dois anos de governação ficou claro para
toda a gente que o Governo não só não conseguiu alcançar os objectivos a que se
propôs como, pelo contrário, agravou substancialmente a situação do país, tudo
sacrificando na condução de uma política eminentemente ideológica de matriz
neoliberal radical, para o prosseguimento da qual a dívida e o défice não são
mais do que simples e afortunados pretextos, o Presidente da República,
identificado com o essencial dessa política e temendo o seu fracasso pela
fortíssima resistência popular que a combate, não teve qualquer problema em
desencadear mais um golpe de baixa política com o objectivo evidente de
comprometer o PS, tentando arrastá-lo com despudoradas promessas para o apoio à
fracassada política do Governo de modo a assim procurar atenuar ou diminuir os
efeitos da ampla base popular que a rejeita.
De facto, a “promessa” de Cavaco merece ser estudada e
figurar nos compêndios de Direito Constitucional por representar o grau zero da
política e dos políticos que nos governam. A dissolução da Assembleia da
República é seguramente o mais importante poder que a Constituição portuguesa
confere ao Presidente da República. Mais importante do que a demissão do
governo, porque o exercício deste poder tem de ser juridicamente fundamentado
com base necessidade de assegurar o regular funcionamento das instituições
democráticas, enquanto a dissolução da Assembleia da República é o acto
político por excelência que o Presidente exerce livremente com base na
apreciação pessoal que faz da situação política do país, ouvido o Conselho de
Estado, desde que não estejam presentes certas limitações de natureza temporal.
Pois o que fez Cavaco? Cavaco fez uma promessa de eleições
antecipadas para daqui a um ano, se determinado tipo de acordo viesse a ser alcançado. Este acto representa a maior
e mais grave violação da Constituição da República desde a sua promulgação em
25 de Abril de 1976! Não por não ter sido ouvido o Conselho de Estado como foi
invocado pelos comentadores juristas da direita, como Rebelo de Sousa e Lobo
Xavier, mas por envolver a promessa da sua prática daqui a um ano, quando esse
poder é conferido para ser exercido, nas condições acima referidas, tendo em
conta em cada momento a situação presente. Como pode o Presidente da República
ter o despudor de fazer entrar como elemento negocial o poder mais importante
que a Constituição lhe confere? E mais grave ainda tudo se torna quando se
percebe que essa promessa visava aliciar o PS para o apoio à política que ele
próprio apoia e para o prosseguimento da qual pretendia encontrar garantias
fora do seu espaço partidário. Em suma, Cavaco instrumentalizou o poder de dissolução
colocando-o ao mesmo nível da mais baixa chicana política.
Mas a direita que nos governa não nos oferece
apenas este triste e lamentável espectáculo. A direita que nos governa é a que
proclama no Parlamento, pela voz do Primeiro Ministro, que o país
não pode acalentar “a fantasia de uma súbita e perpétua vontade de o Norte da
Europa passar a pagar as nossas dívidas, provavelmente para sempre”.
Esta
direita, Governo e Cavaco, tem de ser derrotada na rua. Vamos a isso!
e eu que julgava que o desastre das contas publicas tinha forçado o Louco a demitir-se!! Agora percebo que o facto de não termos dinheiro para os salarios dos funcionarios públicos (Brigada das Colheres) não era grave,mas uma falacia do Cavaco! Como a estoria se deve reescrever no sentido da pureza!
ResponderEliminarSó agora vi o post. Muito bem. A direita desde o salazarismo acha que a lei é ela, e considera que ela é, por direito próprio (ou divino?)quem deve governar.
ResponderEliminarO Cavaco que "não é politico" é um politiqueirozeco sem estatura para sargento quanto mais para general.
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ResponderEliminarO alarde da pesporrência e o aparato do novo-riquismo travestido de “simplicidade ostensiva” cheio de "espontaneidades ensaiadas", estão plasmados no altar de Belém. Um mandato de uma criatura que usou e abusou de verborreia plastificada quando anunciou que ia ser presidente de todos os portugueses, mas que não deixou de exibir um olhar torvo ao manifestar a sua ira contra os que lhe exigiram a clarificação das nebulosas que o envolviam e chegou ao ponto de atribuir o seu perfil ridículo de honestidade aos milagres da obstetrícia, afirmando que era preciso nascer duas vezes para se ser honesto como ele.
ResponderEliminarAlguém que trata as Letras como se fossem números, para quem Cultura não passa de uma plantação de alfarrobeiras, que faz da língua portuguesa um exercício grotesco e
que passa o dedo pela língua antes de virar as páginas dos dossiers.
É este o presidente da república que temos, porque alguém o elegeu.
Eu não!