A DETURPAÇÃO
DOS FACTOS
Apesar de fazer parte da luta ideológica, não há nada mais revoltante do que a deturpação dos factos. Uma coisa são as declarações de ciência, outra os juízos de valor. Cada um faz os juízos de valor que entender, pelo menos, enquanto não for proibido, mas os factos são factos e não adianta deturpá-los porque eles continuam lá tal como aconteceram quando ocorreram.
Depois há ainda uma categoria mista de situações em que a carga valorativa que as qualifica está intrinsecamente ligada a um passado que não pode deixar de ser tido em conta e que ao ser atendido acaba por influenciar a qualificação do próprio facto.
Por exemplo, nós dizemos: “Os aliados desembarcaram na Normandia em 1944” e chamámos à respectiva operação com o nome de código Overlord o “Desembarque da Normandia”. Mas os nazis e os revanchistas alemães de ontem e de hoje dizem: “Os aliados invadiram a Normandia em 6 de Junho de 1944”.
É claro, que os aliados não invadiram a França. Quem invadiu a França foi Hitler.
Também dizemos: “Os liberais com D. Pedro desembarcaram no Mindelo em 8 de Julho de 1832”. Não dizemos que invadiram o Mindelo…porque vinham reestabelecer a ordem democrática violada pelo usurpador D. Miguel.
Também não dizemos que a URSS invadiu a Alemanha em 1945 ou que invadiu Berlim em Abril de 1945…porque quem invadiu a URSS foi Hitler em 22 de Junho de 1941.
Do mesmo modo, também não dizemos que os ingleses, comandados por Arthur Wesllesley, mais tarde duque de Wellington, invadiram Portugal para combater as tropas napoleónicas…porque quem invadiu Portugal foi Napoleão.
Os exemplos poderiam multiplicar-se.
Então, por que razão é que Luís Amado e os jornalistas pertencentes à matilha de comentadores a soldo dizem agora, a propósito da Ucrânia, que a Rússia invadiu a Geórgia em 2008? Os jornalistas até podem ser ignorantes apesar de os factos serem recentes, mas Amado era Ministro dos Negócios Estrangeiros, portanto, ao qualificar o que se passou daquela maneira comporta-se como um vulgar militante do Tea Party mais do que como um reconhecido simpatizante do GOP que sempre foi.
Na realidade, a Rússia não invadiu a Geórgia. Saakashvili é que invadiu a Ossétia do Sul violando os acordos de 1992 que concediam à região uma ampla autonomia. Claro, depois apanhou uma tareia dos russos, apesar de tudo uma tareia que se manteve dentro do permitido pelo Direito Internacional já que os russos limitaram a sua acção a um raio de 80 quilómetros a partir da fronteira quando poderiam perfeitamente ter feito o que Israel e os americanos seguramente fariam na mesma situação a avaliar pelo que já fizeram noutras: ter tomado Tbilisi e mandado o sr. Saakashvili para a sua terra…que é a América.
Agora tenham em conta o seguinte: depois do que fizeram em Kiev não se queixem do que possa acontecer na Crimeia…
E se os sociais fascistas russos ocuparem a Crimeia,seguindo o mesmo raciocinio,os Ucranianos é que ocuparam as praças em Kiev.
ResponderEliminarBingo!
ResponderEliminarPara lá da natural insatisfação dos ucranianos com o regime de Yanukovitch, é de meridiana clareza que as manifestações de Kiev foram orquestradas pelo Ocidente, que deseja integrar a Ucrânia na União Europeia e na NATO. Aliás, os Estados Unidos estão neste momento a ensaiar um pedido de adesão da Geórgia à UE, com o apoio do inefável Barroso. Independentemente de outras considerações históricas ou culturais, é um facto que a Ucrânia, "maxime" a Crimeia, é indispensável para a segurança da Rússia, como a não-colocação de mísseis em Cuba o era para os Estados Unidos. Espero, por isso, que a Rússia actue em conformidade com os seus interesses.
ResponderEliminarMuito bom texto.
ResponderEliminarA tomada de posição da Rússia face ao acontecido na Ucrânia é uma boa notícia.O apertar do cerco a tudo o que não diga ámen aos EUA está a seguir uma via extremamente perigosa.Paul Craig Roberts diz com todas as letras que a Rússia sob Putin, a China e o Irão são os únicos entraves à agenda neoconservadora.
Que por cá também haja quem defenda tal agenda não admira.No fundo, no fundo,há sempre quem cumpra os desígnios o império e se passe por tecelão.
Como também dirá Paul Craig Roberts «A UE quer que a Ucrânia adira para que a Ucrânia possa ser pilhada, tal como o foram a Letónia, Grécia, Espanha, Itália, Irlanda e Portugal. […] Os EUA querem a adesão da Ucrânia para poderem aí posicionar bases missilísticas contra a Rússia».
De
O simpático anónimo lembrou bem a pilhagem.Os Putinis e todos os oligarcas amigos pilharam todos os bens do povo da ex URSS.Hoje estão podres de ricos!!!
ResponderEliminarO aviso,no final do texto,já se cumpriu e os «democratas» da UE e USA parecem não saber bem o que fazer.Mas,afinal,para que servem os experts de que estarão rodeados?
ResponderEliminarA este muito bom texto têm-se somado outros do mesmo autor que abordam a mesma problemática e que ajudam não só a descodificar o que se passa,sobretudo a teia de interesses que giram à volta deste assunto, como também a desmontar as atoardas feitas por muitos.
ResponderEliminarAtoardas que,diga-se de passagem não são de todo ingénuas, antes se inscrevendo num filão que o autor destes posts denuncia.
Pena que o tecelão não tenha lido o último texto de JM Correia Pinto: "Ucrânia: o que realmente está em jogo". Duma forma extremamente pedagógica apresenta a pilhagem dos povos do leste europeu como de facto se processou.Os oligarcas são a face visível do triunfo do capitalismo mas a sua acção resultou também da aliança com o outro lado do muro. Como este artigo do Resistir exemplarmente confirma :http://resistir.info/ucrania/pinchuk_03fev14.html
Mas em vez de olhar para o dedo Correia Pinto vai mais longe e descreve a ameaça que de facto constitui o imperialismo americano e seus aliados.O apetite pelas riquezas continua. O saque não está completado ou não está nas mãos adequadas para wall street and friends.
Constitui assim motivo de perplexidade o uso do termo "social-fascistas" aplicado duma forma de certa forma bacoca, lembrando os tempos doutro personagem que o usava até à exaustão e que hoje é um dos cabecilhas representantes dos plutocratas, o Durão Barroso.
(O termo "simpático" faz-me lembrar outra coisa mas tal não o digo por pudor).
Vivem-se tempos perigosos, de facto. Os artigos serenos e que colocam as coisas nos seus devidos lugares serão sempre bem vindos, pesem os dislates dos barrosos hodiernos.
De